Selic sozinha não reduz a inflação; câmbio e controle fiscal influenciam
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O aumento da taxa Selic, que subiu para 14,25% ontem, não deve ser o único argumento dado pelo Banco Central para tentar baixar a inflação. Especialistas ouvidos pelo UOL acreditam que há outras alternativas, como a valorização do real —por intervenções pontuais no câmbio ou não, a neoindustrialização e proteção maior para os produtores rurais, com incentivos tecnológicos para torná-los mais competitivos.
O que aconteceu
Banco Central aumentou a taxa básica de juros para 14,25%. O aumento de 1 ponto percentual já estava previsto desde o ano passado, e acabou cumprido sem modificações.
Aumento da Selic impacta inflação por demanda. Quando a inflação é causada pelo excesso de consumo e investimento em relação ao que a economia pode produzir, juros mais altos atuam como um freio. A Selic, taxa básica de juros, influencia diretamente os custos do crédito e as decisões de consumo e investimento, tornando-se uma ferramenta eficaz contra esse tipo de inflação.
Apesar do foco do Banco Central na Selic para controlar a inflação, isso não aborda as causas estruturais e conjunturais da inflação. Avaliação é do Corecon-SP (Conselho Regional de Economia de São Paulo), que considera necessária a adoção de medidas mais diretas, como choques de oferta, desvalorização cambial e inércia inflacionária.
"Questão fiscal tem importância mais limitada do que a alegada pelo mercado", diz Corecon-SP em carta. Opinião do Conselho leva em conta que, mesmo sem um novo pacote fiscal, o real foi uma das moedas que mais se valorizou em janeiro deste ano. "Fatores externos e o próprio exagero especulativo de 2024 mostraram-se mais proeminentes, comparativamente", explica.
Neoindustrialização, ou seja, fomentar a participação do Brasil nas cadeias globais de valor, é um outro. Conforme o Corecon-SP, reduzir a dependência de bens e insumos importados, especialmente os cotados em dólar, pode fazer diferença na inflação. Medidas de estímulos ao produtor rural e a criação de estoques reguladores —como já foi proposto pelo governo, também podem ajudar a controlar os preços dos alimentos.
Valorização do real também é uma medida que pode ajudar a reduzir a inflação. Segundo Carlos Braga Monteiro, CEO do Grupo Studio, a combinação de uma alta na Selic no Brasil com a manutenção nos juros dos EUA feito ontem pelo Fed (Federal Reserve, o Banco Central dos Estados Unidos) pode atrair um fluxo significativo de capital estrangeiro. "No entanto, embora esse movimento contribua para aliviar pressões de preços internos, sua capacidade de sustentar uma queda consistente do dólar é limitada diante de fatores externos relevantes, como o possível tarifaço do governo Trump e a instabilidade do comércio global", ressalta.
Melhoria da infraestrutura e a expansão da oferta de bens e serviços são essenciais para aumentar a competitividade e reduzir os custos de produção. Para Jorge Kotz, CEO do Grupo X, a desburocratização e o estímulo à inovação também são importantes, pois ao facilitar a entrada de novas empresas no mercado e aumentar a concorrência, os preços tendem a se estabilizar.
Política fiscal deve ser utilizada para reduzir o déficit público, com a contenção de gastos e a implementação de reformas tributária e administrativa. Na visão de Felipe Vasconcellos, sócio da Equus Capital, essas ações podem reduzir a pressão sobre a economia e evitar o aumento de preços.
8 comentários
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Horácio Monteschio
Brasil completamente desgovernado!!
Esmeraldo Pereira
A fala incoerente do ministro soa como um deboche à opinião pública. De repente, subir a SELIC deixa de ser pecado e vira virtude?
Mário Sérgio Citadini
A culpa é do Bolsonaro e Campos neto. Kkkkkkk