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Comprar ou vender: aumento de produção da Petrobras em 2014 será o ponto de virada?

12/02/2014 11h36

RIO DE JANEIRO, 12 Fev (Reuters) - Há quem aposte que a Petrobras (PETR4) vai começar a virar o jogo com aumento da produção de petróleo em 2014, depois de uma desvalorização acionária superior a 50 por cento nos últimos quatro anos.

O ponto de virada para as ações pode ocorrer a partir do segundo semestre, assim que ficar mais claro o aumento de produção, estimado entre 5 e 6,5 por cento neste ano por analistas de mercado e especialistas da indústria petrolífera ouvidos pela Reuters.

Mas alguns consultores apontam fragilidades da Petrobras, como a defasagem no preço dos derivados, que gera prejuízos bilionários para a divisão de Abastecimento, e o elevado endividamento da companhia para fazer frente aos vultosos investimentos exigidos pelo pré-sal.

A dívida e a defasagem podem limitar o ímpeto decorrente de um aumento de produção. Afinal, comprar ou vender Petrobras?

Comprar

Após dois anos de queda na produção e de outros dois de crescimento inexpressivo, a estatal brasileira vai conseguir retomar o fôlego em 2014 rumo à ousada meta de extrair 4,2 milhões de barris de petróleo equivalente por dia em 2020 --volume que faz jus às maiores descobertas do mundo realizadas na década passada.

"Perdemos um pouco de tempo, mas agora vai", afirmou à Reuters o analista Caio Carvalhal, da divisão de petróleo do JP Morgan, para quem a produção crescerá cerca de 5 por cento em 2014 --desempenho que não ocorria desde 2009.

Analistas são unânimes nas projeções de alta na produção. Itaú BBA estima alta 6,5 por cento, enquanto o HSBC prevê aumento entre 5 e 6 por cento no volume, em linha com a maioria dos relatórios sobre o assunto. Os bancos estimam volumes crescentes ao longo dos próximos anos, com a consolidação da extração no pré-sal.

A retomada após a produção ter sido afetada por atrasos na entrega de equipamentos por fornecedores e mais rigor nas normas de manutenção de plataformas impostas pelo órgão regulador do setor, a ANP, o que elevou o número de paradas nas unidades.

O geólogo e consultor John Forman, ex-diretor da ANP, ponderou que a queda de produção da Petrobras nos últimos anos era esperada, devido ao redirecionamento dos projetos da companhia logo após as descobertas gigantes do pré-sal, em meados da década passada.

Mas, a partir deste ano, a petroleira aumentará a produção com a operação de projetos atrasados e a entrada de plataformas previstas no cronograma de 2014, com pelo menos nove sistemas novos de produção ou em fase de crescimento (ramp-up).

A Petrobras ainda não falou oficialmente sobre números para a produção em 2014.

O aumento da produção da Petrobras, segundo alguns especialistas, resultará em maior geração de caixa, pré-requisito para reduzir seu endividamento --o calcanhar de Aquiles da empresa.

"O mercado vê três razões para investir: produção, produção e produção... os outros problemas se equacionam como consequência", disse o analista do JP Morgan.

Mas o processo de recuperação dos papéis da estatal não deverá ocorrer imediatamente, comentou Carvalhal, fazendo coro a outros especialistas.

O especialista do JP Morgan ressaltou ainda que parte do problema com a defasagem de derivados vendidos pela estatal a custos menores que os de importações será aliviado com a entrada em operação da refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, no final do ano.

Além disso, devido à crescente alavancagem, a Petrobras poderá reavaliar o prazo de alguns projetos e a maneira de divulgar este planejamento, acrescentou o Itaú BBA, em relatório recente ao mercado.

A execução do plano deverá levar em conta variáveis como a evolução da relação entre a dívida e o Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) da Petrobras, o aumento da produção e a paridade de preços, segundo o banco.

"Esta poderia ser uma solução adequada do ponto de vista das agências de classificação de crédito", avaliou o Itaú BBA, acrescentando que desta forma a empresa poderia estabelecer patamares em relação aos níveis de dívida e aos gastos futuros.

Vender

Uma série de relatórios de bancos de investimentos, porém, aponta que o esperado aumento da geração de caixa da Petrobras neste ano não é suficiente para eliminar as dúvidas do mercado quanto à capacidade da empresa de bancar o plano de investimentos de 237 bilhões de dólares em cinco anos (o maior do mundo).

A empresa produziu 1,93 milhão de barris de petróleo por dia no Brasil em 2013, retroagindo a patamares de cinco anos atrás.

Alguns especialistas da indústria petrolífera comparam a atual experiência da Petrobras no pré-sal com seu pioneirismo em águas profundas, na década de 1980. Na ocasião, a estatal estava dividida em se lançar no ousado plano de exploração a profundidades superiores a 500 metros, com muitos críticos questionando a viabilidade comercial e sua capacidade financeira para a empreitada.

"A comparação com a década de 80 é válida para ilustrar o aspecto da produção, do desafio tecnológico, mas naquela época o caixa da Petrobras não era tão ruim quanto está hoje", ponderou o diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), Adriano Pires.

Pires teme que as importações de gasolina e diesel sem o repasse de preços internacionais ao mercado interno continuem afetando o resultado da empresa.

Com as eleições neste ano, ele e vários outros analistas avaliam que um necessário aumento de preços dos combustíveis, se não ocorrer logo, ficará para depois do período eleitoral, no final de 2014.

Isso prolongaria a agonia imposta pelo governo, sócio controlador da empresa, que teme efeitos inflacionários e segura repasses.

A política tem gerados grandes prejuízos para a divisão de Abastecimento da empresa, que registrou perdas de 5,52 bilhões de reais no terceiro trimestre, contra prejuízo de 5,65 bilhões de reais em 2012.

Com tais perdas e diante dos grandes investimentos para produzir no pré-sal, o endividamento total da petroleira disparou no ano passado, passando de 196,3 bilhões de reais em 31 de dezembro de 2012 para 250,8 bilhões de reais em 30 de setembro. Já a relação dívida/patrimônio líquido, que mede a alavancagem da companhia, subiu de 31 por cento para 36 por cento em 30 de setembro.

Citando preocupações relacionadas à defasagem de preço, o banco HSBC reduziu na segunda-feira o preço-alvo da Petrobras de 19 para 15 reais.

"O governo tem pouca oportunidade de resolver a questão da política da precificação até o final do ano", disse o HSBC, acrescentando que a empresa continua exposta a qualquer depreciação do real.

(Por Sabrina Lorenzi)