Plano de investimento da Petrobras já está obsoleto, novos cortes são esperados, dizem fontes
RIO DE JANEIRO (Reuters) - A Petrobras, que reduziu em junho em 40% seu plano de investimento de cinco anos, provavelmente vai precisar cortar ainda mais o Plano de Negócios e Gestão, uma vez que o crescente custo da dívida, a queda dos preços do petróleo e o real fraco já tornaram o plano obsoleto, disseram duas fontes da empresa à agência de notícias Reuters nesta quinta-feira (11).
A decisão da agência de classificação de risco Standard & Poor's de rebaixar a nota de crédito soberano do Brasil para grau especulativo, na quarta-feira, foi seguida nesta quinta-feira por um rebaixamento pela S&P de dois degraus da nota em moeda estrangeira da Petrobras, para "BB" ante "BBB-", colocando a estatal dentro da faixa considerada especulativa.
As fontes disseram que o rebaixamento vai elevar o custo de refinanciamento da dívida da Petrobras de mais de US$ 130 bilhões, a maior de qualquer empresa de petróleo no mundo, e reduzir o capital disponível para a perfuração de poços, construção de plataformas e refinarias e para pagar a infraestrutura necessária para aumentar a produção de petróleo e sua receita.
"O plano de junho já está obsoleto, suas perspectivas para os preços do petróleo e os custos da dívida e o câmbio já não são realistas. O plano terá de ser mudado", disse uma das fontes.
Empresa diz que meta de financiamento já foi alcançada
Em nota enviada ao mercado nesta quinta-feira para comentar o rebaixamento, a Petrobras ressaltou que a "financiabilidade" dos projetos de médio prazo já foi alcançada por meio de empréstimos captados este ano com bancos no Brasil e no exterior. A empresa também ressaltou que a ação da S&P "não provocará alterações" nos contratos de financiamento vigentes, já que eles não possuem cláusulas atreladas à nota de crédito.
Aclamado como um retorno à realidade após anos de metas de produção não cumpridas, gastos recordes e um gigante escândalo de corrupção que levou a uma baixa contábil de US$ 17 bilhões, o plano plurianual 2015-2019 anunciado em junho reduziu a meta de investimento para US$ 130 bilhões, ante US$ 221 bilhões para o período 2014-2018.
Ambas as fontes pediram anonimato porque os planos da empresa ainda estão em discussão. As duas fontes também disseram que a venda planejada para este ano de até 25% da BR Distribuidora é praticamente impossível agora.
Plano foi baseado em previsões que mudaram
Quando anunciou o seu plano de investimentos, o presidente-executivo da empresa, Aldemir Bendine, disse que a estatal provavelmente iria começar a revisar seus planos de gastos estratégicos trimestralmente, em vez de anualmente, como vinha sendo feito por mais de uma década.
O plano anunciado em junho foi baseado na expectativa de um preço médio do petróleo Brent de US$ 60 por barril em 2015 e de US$ 70 por barril de 2016 a 2019.
Até agora no ano, o preço médio do Brent está em US$ 57 e os contratos futuros do Brent estão sendo negociados abaixo de US$ 60 até novembro de 2017, um sinal de que poucos investidores esperam um aumento em breve. O preço mais alto de um contrato futuro é para dezembro de 2022, cotado acima de US$ 65 o barril.
O plano da Petrobras também previa um dólar médio em 2015 a R$ 3,1 e de R$ 3,26 em 2016. Desde então, o dólar já subiu cerca de 23%, sendo cotado nesta quinta-feira a R$ 3,85.
A valorização do dólar aumenta o custo em reais do serviço da dívida, em grande parte atrelada à moeda norte-americana.
A S&P foi a segunda agência de classificação de risco a colocar a dívida da Petrobras em grau especulativo neste ano. Em fevereiro, a Moody's retirou da estatal o grau de investimento.
Muitos fundos de pensão e outros grandes investidores são obrigados a vender papéis de dívida rebaixados para grau especulativo por duas agências. Isso pode levar a uma queda no preço da dívida existente da Petrobras e limitar o número de investidores autorizados por lei a comprar nova dívida.
A segunda fonte disse que a revisão das premissas e dos investimentos do plano é necessária.
"O momento é de testar corações, é para quem tem coração forte", disse a fonte. "Obviamente que o rebaixamento é preocupante para a Petrobras e para o país como um todo. Fica mais difícil captar recursos, atrair investimentos."
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