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BC diz que tomará "medidas necessárias" para segurar a inflação e indica juros maiores

Por Patrícia Duarte
Imagem: Por Patrícia Duarte

Patrícia Duarte

03/12/2015 09h58

SÃO PAULO (Reuters) - O Banco Central afirmou que tomará as "medidas necessárias" para controlar a escalada de preços independentemente da política fiscal e do cenário de incertezas, indicando que deve voltar a elevar os juros básicos em breve.

Ao mesmo tempo, a autoridade monetária piorou sua previsão para a inflação neste ano e em 2016, afirmando que ambas estão acima do centro da meta --de 4,5% cento pelo IPCA, com margem de dois pontos percentuais para mais ou menos--, segundo ata do Comitê de Política Monetária (Copom) divulgada nesta quinta-feira (3).

"Independentemente do contorno das demais políticas, o Comitê adotará as medidas necessárias de forma a assegurar o cumprimento dos objetivos do regime de metas (de inflação)", trouxe o documento, ressaltando que isso significa levar "a inflação o mais próximo possível de 4,5% em 2016, e fazer convergir a inflação para a meta de 4,5% em 2017".

Para 2017, a meta de inflação é de 4,5%, mas com margem de 1,5 ponto percentual.

Na semana passada, o BC decidiu manter a Selic em 14,25% ao ano, mas numa decisão dividida, com dois membros do Copom optando por elevar a taxa em 0,5 ponto percentual, em meio à piora nas expectativas de inflação e no cenário de indefinições fiscais e turbulências políticas no país.

Mais uma vez, o BC destacou o atual cenário fiscal, com as contas públicas em desordem, como um dos fatores que pesam negativamente sobre o cenário econômico.

Para a autoridade monetária, as incertezas envolvem "a velocidade do processo de recuperação dos resultados fiscais e a sua composição, e que o processo de realinhamento de preços relativos mostra-se mais demorado e mais intenso que o previsto".

Segundo a pesquisa Focus do próprio BC, que ouve semanalmente uma centena de economistas, as expectativas de alta da inflação têm piorado com intensidade. No início de outubro, os cálculos para a elevação do IPCA em 2015 e 2016 estavam em 9,5% e 5,92%, passando agora para 10,38% e 6,64%, estourando a meta do governo.

Para 2017, as contas também estão cada vez piores: passaram de alta de 4,86% para 5,12%, no período.

Pela ata, no cenário de referência (com dólar constante a R$ 3,80 e Selic em 14,25%), o BC piorou suas projeções para a inflação tanto em 2015 quanto em 2016, permanecendo acima do centro da meta. Para 2017, a projeção encontra-se em torno da meta. Nestes casos, o BC não informa sua projeção nominal.

Os membros do Copom que votaram pela alta da Selic na semana passada, ainda segundo o documento, argumentaram que o movimento serviria para "reduzir os riscos de não cumprimento dos objetivos". Porém, a maioria votou pela manutenção da taxa para "monitorar a evolução do cenário macroeconômico até sua próxima reunião para, então, definir os próximos passos na sua estratégia de política monetária".

Foi a primeira decisão sem consenso do Copom desde outubro do ano passado.

Via de regra, o BC inicia ciclos de aperto monetário com alta mais branda, de 0,25 ponto percentual. A inclinação de dois membros por um passo mais agressivo reforçou, para analistas, a visão de que o Copom estaria se preparando para subir a Selic em breve, até mesmo em janeiro, quando se reúne novamente.

"Se as expectativas de inflação se deteriorarem ainda mais, eles (BC) vão subir na próxima reunião", afirmou o analista da TD Securities, Cristian Maggio.

No mercado de juros futuros, as apostas são de que a Selic será elevada em 0,5 ponto percentual no próximo mês, segundo dados da Reuters. Segundo operadores, a curva de DIs também apontava pelo menos outras duas elevações de 0,50 ponto na Selic em seguida.

Até a última reunião, o Copom defendia que a manutenção dos juros no atual patamar, por período suficientemente prolongado, seria necessária para a convergência da inflação para a meta no horizonte relevante da política monetária. Ou seja, no final de 2017.

Mesmo com a economia em recessão, o que poderia ajudar a reduzir a alta dos preços, as pressões inflacionárias continuam a aumentar na esteira de ajustes de tarifas e da disparada do dólar sobre o real.

(Reportagem adicional de Alonso Soto, em Brasília)