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Especialistas se surpreendem com leilão de aeroportos e julgam resultado positivo

16/03/2017 17h03

Por Leonardo Goy

BRASÍLIA (Reuters) - Os elevados ágios obtidos no leilão de aeroportos realizado nesta quinta-feira, mesmo com a reduzida quantidade de concorrentes, surpreenderam especialistas no setor de infraestrutura, que avaliam o resultado como um sinal de confiança dos investidores no país.

Os aeroportos de Porto Alegre (RS), Florianópolis (SC), Salvador (BA) e Fortaleza (CE) foram arrematados nesta quinta-feira por grandes operadores internacionais do setor, em leilão que arrecadou um total de 3,7 bilhões de reais em outorgas, ante os 3 bilhões de reais estimados inicialmente pelo governo.

A francesa Vinci Airports ficou com o terminal na Bahia, com ágio de cerca de 113 por cento ante o preço mínimo exigido. A suíça Zurich arrematou o aeroporto catarinense, pagando ágio de 58 por cento e a alemã Fraport venceu o leilão dos terminais de Fortaleza e Porto Alegre, com ágios de 18 e 852 por cento, respectivamente.

"Não deixa de surpreender que, apesar da saída de agentes locais importantes, essas empresas tenham convencido seus acionistas a dar valores ousados para entrar em um momento turbulento da política local", disse o especialista em infraestrutura Fernando Camargo, sócio-diretor da LCA. "Esse governo, apesar das dificuldades, vem tratando a agenda macroeconômica e fiscal da maneira que o mercado gosta", completou.

O especialista ponderou, entretanto, que apesar dos ágios proporcionalmente grandes, o volume financeiro das outorgas e dos investimentos não é tão grande como o de leilões anteriores.

Para o especialista em logística Luiz Afonso Senna, professor da escola de engenharia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), os fortes ágios em um leilão com poucos licitantes sinaliza uma aposta na vitalidade da economia do país daqui para a frente.

O especialista observou que o fato de o aeroporto de Porto Alegre ter registrado um ágio de mais de 800 por cento indica que o próprio governo, ao preparar o edital, subestimou o potencial do terminal.

"O aeroporto de Porto Alegre tem potencial para ser um importante hub entre o Brasil e países próximos como Uruguai, Argentina e Chile", disse.

Para ele, o aeroporto gaúcho pode inclusive assumir o papel de ser um hub para voos da América do Sul para a Ásia. "Pode ser um centro para voos domésticos e também uma saída pelo Sul para a Austrália e a Ásia", disse.

A advogada Ana Cândida Carvalho, da área de Infraestrutura do escritório TozziniFreire, disse que os aeroportos de Porto Alegre e Salvador são os que oferecerm os maiores desafios jurídicos, por conta de licenciamentos e desapropriações necessários para a realização das obras.

"O resultado do leilão é emblemático. Mostra confiança e estabelece um paradigma positivo para os próximos projetos a serem concedidos", disse.

O governo não anunciou ainda um novo leilão de aeroportos, mas o plano de concessões do governo do presidente Michel Temer prevê para este ano licitações de outros ativos.

O ministro dos Transportes, Maurício Quintella, afirmou após o leilão que o governo não descarta novos leilões de aeroportos. "Estamos calibrando o sistema público e o concessionado para ver se haverá necessidade de mais leilões. Não estamos fechando essa porta", disse Quintella.

O leilão desta quinta-feira ocorreu depois que um fundo do Pátria Investimentos ofertou ágio de 131 por cento para ficar com a concessão da Rodovias do Centro Oeste Paulista, em uma proposta de 1,3 bilhão de reais apresentada em leilão organizado pelo governo do Estado de São Paulo. No final de abril, o governo paulista colocará em leilão mais um projeto rodoviário, a Rodovias dos Calçados, que prevê investimentos de 5 bilhões de reais.

No âmbito federal, no dia 23 deste mês deve ocorrer o leilão de dois terminais de combustíveis no porto de Santarém (PA) e, em abril, do terminal de trigo do Rio de Janeiro. No segundo semestre será a vez do leilão de trecho das BRs 364 e 365 (GO/MG), de trecho das BRs 101/290/386/448 entre Santa Catarina e Rio Grande do Sul, além de ferrovias como a Ferrogrão (MT/PA), Norte-Sul (SP/MG/GO/TO) e Fiol (BA).