ENTREVISTA-Funcef pode vender fatia na Invepar se tiver proposta adequada
Por Aluisio Alves
SÃO PAULO (Reuters) - O Funcef pode se desfazer de sua fatia na Invepar se receber uma proposta que considere adequada pela empresa de concessões de infraestrutura, disse à Reuters um diretor do fundo de pensão dos empregados da Caixa Econômica Federal.
"Pode ser uma saída total da Invepar, desde que uma proposta inclua o retorno atuarial esperado para o ativo", disse o diretor de administração do Funcef, Antonio Augusto de Miranda, ressalvando que até agora não há discussão de uma oferta de um investidor nesse sentido.
Nos últimos meses, a mídia tem veiculado que há interessados em comprar a fatia de 24,4 por cento detida na Invepar pela construtora OAS, que está em recuperação judicial.
Entre as propostas mencionadas estaria a compra das fatias de Funcef, da Previ, fundo de pensão do Banco do Brasil; e da Petros, da Petrobras, que juntas detêm 75 por cento da Invepar. Outra proposta envolveria injeção de recursos de investidor, o que diluiria a participação dos demais sócios. A Reuters publicou em fevereiro que o fundo Mubadala estava negociando a compra de participação na Invepar e injetar capital novo na companhia.
Uma venda do ativo pode ajudar o Funcef a obter recursos para atender crescentes demandas de caixa, em meio a uma combinação de aumento de beneficiários, após dois programas de demissão voluntária feitas neste ano pela Caixa, e falhas de gestão que levaram o fundo a prejuízos bilionários desde 2014.
Terceiro maior fundo de pensão do país, o Funcef tem cerca de 140 mil participantes, dos quais 40 mil são aposentados e pensionistas. A entidade fechou 2016 com déficit de 12,5 bilhões de reais. A maior parte do buraco está no fundo mais antigo, o Reg/Replan, de benefício definido, que responde por cerca de 80 por cento dos ativos totais de 58,4 bilhões de reais.
Além da Invepar, o Funcef pretende acelerar a venda de ativos de renda variável, que responde por cerca de 20 por cento de seus ativos totais. A carteira inclui ações de empresas como Ambev, Banco do Brasil, Bradesco, B3, Braskem, BRF, Cielo, Embraer, Itaú Unibanco, Petrobras, Suzano e Vale.
Pelas contas de Miranda, o volume anual de desembolsos do Funcef para pagar benefícios deve subir dos 3,5 bilhões de reais no passado para 4,5 bilhões em 2017.
"Por isso, precisamos de mais liquidez", disse Miranda. "Não dá pra assumir risco agora", afirmou à Reuters após participar de evento da Amec, em São Paulo.
O executivo não mencionou um calendário para a venda das ações, mas admitiu que com o atual momento do mercado vários fundos que terão desembolsos crescentes nos próximos anos, como o Funcef, vão se aproveitar para diminuir a carteira de renda variável.
"O Funcef terá uma necessidade muito grande de girar carteira nos próximos 3 a 5 anos", afirmou.
Simultaneamente, o fundo tem agido na esfera jurídica para tentar recuperar parte dos valores perdidos por investimentos fracassados e fraudes, que levaram o Funcef a ser um dos principais alvos da operação Greenfield, deflagrada em 2016.
O fundo reconheceu 1,6 bilhão de reais em perdas no ano passado, 92 por cento delas concentradas na produtora de celulose Eldorado, do grupo J&F, na empresa de energia Multiner e em estaleiros. Este último fez o Ministério Público Federal denunciar 10 pessoas por crimes de gestão temerária e fraudulenta.
Só com a J&F, o Funcef espera recuperar 1,75 bilhão de reais, como parte do acordo de leniência firmado pela holding no âmbito das investigações da Lava Jato.
"Podemos recuperar mais de outras empresas que fecharem acordos de leniência também", disse Miranda, citando companhias também investigadas pela Lava Jato que tiveram contratos em projetos investidos pelo Funcef, como a construtora Engevix.
Além dos estaleiros e da Eldorado, o Funcef também teve perdas bilionárias em projetos como o da Norte Energia, consórcio responsável pela hidrelétrica de Belo Monte.
O Funcef também está acionando gestores contratados para gerir carteiras de investimentos do fundo, buscando deles ressarcimentos, por entender que eles também tiveram papel nas perdas registradas pelos ativos.
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