Temer diz após nova denúncia que Janot segue "marcha irresponsável" para encobrir suas falhas
Por Lisandra Paraguassu
BRASÍLIA (Reuters) - O presidente Michel Temer classificou de "marcha irresponsável" a apresentação de uma segunda denúncia pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, e afirmou que ele tenta encobrir suas falhas com a nova acusação.
"Ao fazer esse movimento, tenta criar fatos para encobrir a necessidade urgente de investigação sobre pessoas que integraram sua equipe e em relação às quais há indícios consistentes de terem direcionado delações e, portanto, as investigações", diz a nota distribuída pela Presidência da República.
Temer acusa ainda Janot de "não cumprir com obrigações mínimas de cuidado e zelo em seu trabalho, por incompetência ou incúria" e colocar em risco o instituto da delação premiada.
"Ao aceitar depoimentos falsos e mentirosos, instituiu a delação fraudada. Nela, o crime compensa. Embustes, ardis e falcatruas passaram a ser a regra para que se roube a tranquilidade institucional do país", diz o texto.
Ainda segundo a nota, a segunda denúncia --na qual Temer é acusado de chefiar uma organização criminosa e de obstruir a Justiça-- está "recheada de absurdos" e o presidente "tem certeza de que, ao final de todo o processo prevalecerá a verdade e não mais versões, fantasias e ilações".
Como fez na primeira denúncia, Temer preferiu não falar no primeiro dia. O presidente, no entanto, deve fazer um pronunciamento nesta sexta-feira, depois de falar com seus advogados.
A defesa do presidente apresentou nesta mesma quinta-feira uma petição ao STF pedindo que a denúncia só seja enviada para que a Câmara dos Deputados decida sobre a autorização para o Supremo na próxima quarta-feira. Isso porque o pleno da corte precisa concluir a decisão sobre se as provas colhidas na delação dos executivos da J&F podem ser válidas, já que descobriu-se que houve ocultação de informações.
Nesta quinta-feira, Temer passou o dia fora de Brasília, em viagens ao Tocantins e Pará. Chegou de volta ao Palácio do Planalto próximo das 17h30, mesma hora em que a denúncia de Janot chegava no Supremo Tribunal Federal.
Em seguida, Temer reuni-se com os ministros da Casa Civil, Eliseu Padilha (Casa Civil) --também denunciado-- e Antonio Imbassahy (Secretaria de Governo), além do líder do governo na Câmara, Aguinaldo Ribeiro, e o deputado Carlos Marun (PMDB-MS).
O Palácio reagiu sem surpresa à apresentação de uma segunda denúncia contra Temer, esperada há semanas. Nos últimos dias, com os crescentes vazamentos de informações sobre a delação do empresário Lúcio Funaro, acusando Temer de comandar um esquema de recebimento de recursos ilegais, auxiliares do presidente já mostravam o tom da reação.
A ordem no Planalto é, como mostra a nota, desqualificar os delatores, os procuradores e a própria denúncia. Funaro é chamado de mentiroso e, com a derrocada da delação dos executivos da J&F, bater na tecla de que as informações prestadas por eles são ilegais e mentirosas e a atuação da PGR, política.
Escalado para fazer a primeira defesa pública de Temer, Marun confirmou que não houve surpresa com a denúncia e a Câmara terá facilidade em derrubá-la, mas que certamente irá atrapalhar o cronograma do governo.
"Eu tenho que reconhecer que com relação ao avanço do governo as denúncias já nos atrapalharam bastante e vai nos atrapalhar mais uns 20 dias", disse.
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