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Neoenergia segue na briga pela Eletropaulo, mas há limites, diz CEO

21/05/2018 12h27Atualizada em 21/05/2018 14h25

SÃO PAULO (Reuters) - A Neoenergia, que é controlada pelo grupo espanhol Iberdrola e ainda tem como sócios a Previ e o Banco do Brasil, segue interessada na aquisição da Eletropaulo, pela qual tem travado uma disputa de ofertas com a rival italiana Enel, disse à Reuters nesta segunda-feira o presidente da companhia, Mario Jose Ruiz-Tagle.

A briga pela Eletropaulo, que tem incluído trocas de acusações entre as empresas pela mídia e junto a reguladores, é liderada no momento pela Enel, com uma oferta de R$ 32,20 por ação da companhia, o que pode representar até cerca de R$ 5,39 bilhões.

O negócio também deverá definir a liderança no mercado brasileiro de distribuição de eletricidade, uma vez que tanto os italianos quanto os espanhóis assumirão a ponta do setor se tiverem sucesso na compra da Eletropaulo, a maior distribuidora do Brasil em faturamento.

"Mantemos nosso interesse, mas, como tenho sinalizado reiteradamente, nosso interesse tem limites, dados pela racionalidade econômica, limites dados pela saúde financeira da companhia... estamos preparados para continuar participando do processo, mas por razões estratégicas não posso sinalizar até onde", afirmou o executivo.

O último lance da Neoenergia pela Eletropaulo foi de R$ 32,10 por ação.

Um leilão em que as ofertas de aquisição serão colocadas para os acionistas da Eletropaulo está agendado para 4 de junho.

Mas os interessados têm até 24 de maio para apresentar suas últimas propostas. Esse também é o prazo limite para que um novo interessado anuncie sua intenção de entrar na concorrência.

Segundo Tagle, as regras de governança da Neoenergia definem que ela pode elevar suas ofertas dentro de um intervalo predeterminado, definido por uma avaliação realizada por um banco de primeira linha.

"Os três acionistas da Neoenergia têm absoluto consenso sobre o 'encaixe' estratégico da operação. Sem dúvida, os valores que têm atingido a disputa geram um desafio para a companhia, mas contamos com a indicação do Conselho para até um intervalo de preço... se sair desse intervalo (pré-aprovado), teríamos que sair da concorrência", disse.

A Neoenergia possui ativos de geração e transmissão e controla distribuidoras de eletricidade na Bahia, Rio Grande do Norte, Pernambuco e entre São Paulo e Mato Grosso do Sul (Coelba, Cosern, Celpe e Elektro).

"Sem dúvida que teríamos sinergias importantes, e isso é o que justifica e é o racional por trás do nosso preço (colocado na oferta de aquisição)", afirmou o presidente da companhia.

Arbitragem

O presidente da Neoenergia afirmou ainda não acreditar que um processo de arbitragem aberto pela companhia contra a Eletropaulo em meio à disputa por sua aquisição tenha algum impacto no leilão em que será definido o novo controlador da distribuidora.

"Embora a arbitragem seja mais ágil que a Justiça, não creio que isso possa gerar alguma interferência no leilão", disse.

A Neoenergia entrou com o pedido de arbitragem porque tinha assinado um acordo de investimento junto à Eletropaulo pelo qual se comprometia a comprar até a totalidade de uma emissão primária de cerca de 1,5 bilhão de reais em novas ações e ainda fazer uma oferta pela aquisição da companhia.

Posteriormente, a Enel questionou o acordo por meio de anúncios pagos em jornais e um ofício à Comissão de Valores Mobiliários (CVM). A Eletropaulo acabou por cancelar a emissão prevista após novos lances da Enel por sua aquisição, envolvendo valores superiores pelo negócio.

Para Tagle, os conselheiros da Eletropaulo foram "extremamente pressionados" e cancelaram o acordo com a Neoenergia, que para ele seria mais favorável à empresa, enquanto a oferta da Enel geraria mais valor para os atuais acionistas da distribuidora do que para a companhia.

"Entendemos que foi utilizada uma cláusula do contrato de uma maneira que causa um grave dano para a Neoenergia e estamos exercendo o direito legítimo de iniciar uma arbitragem", apontou.

O executivo avalia que o acordo de investimento, que previa a compra dos novos papéis da Eletropaulo pela Neoenergia, iria capitalizar a distribuidora, que recentemente anunciou emissões de dívida para levantar cerca de R$ 1,44 bilhão.

Ele afirmou ainda que a Neoenergia entende que deve ser possível à Eletropaulo tocar suas operações com o nível de investimento já previsto no plano de negócios da companhia, de R$ 4,9 bilhões entre 2018 e 2022.

"O plano que a gente tem previsto é continuar com o nível de investimentos que a Eletropaulo tem nesse momento... o que a gente vai ter quando assumir o controle é uma análise muito apurada da alocação desses recursos", afirmou.

O presidente da Neoenergia também reiterou críticas que já haviam sido colocadas por sua controladora Iberdrola junto à Comissão Europeia, de que a Enel poderia estar utilizando sua condição de empresa com participação do Estado italiano para ganhar vantagem na disputa pela Eletropaulo.

"Nosso negócio é operar uma companhia de distribuição de energia, não estamos aqui para conquistar território ou por nenhum outro tipo de valor que uma estatal avalia quando olha (negócios como esse)", criticou.

No documento enviado aos reguladores europeus no final de abril, a Iberdrola disse que avalia "as ações legais que poderia adotar" para garantir que a Enel e o Estado italiano cumpram "as regras de concorrência aplicáveis a empresas estatais ou controladas".

(Por Luciano Costa)