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Entrevista: BNDES quer mais mudanças em governança da JBS e criará fundos

Rodrigo Viga Gaier e Tatiana Bautzer

24/05/2018 18h38Atualizada em 25/05/2018 08h58

RIO DE JANEIRO (Reuters) - O BNDES ainda não está satisfeito com as mudanças feitas no comando da processadora de carne JBS, afirmou o presidente do banco de fomento, Dyogo Oliveira, que vê necessidade de melhorias na governança da companhia da família Batista.

Os irmãos Wesley e Joesley Batista, que comandaram a empresa e já estiveram presos acusados de manipulação do mercado financeiro e uso de informação privilegiada, estão afastados da JBS e da controladora J&F, mas ainda há representantes da família Batista em posições importantes da companhia.

"Algumas coisas têm sido feitas, algumas coisas têm avançado, mas há muita coisa para avançar ainda", disse o presidente do BNDES. O banco tem participação de cerca de 21% na JBS.

Ele citou que a presença do patriarca da família Batista, João Batista Sobrinho, na presidência-executiva da JBS, além de outros membros do clã, como Wesley Mendonça Batista Filho --diretor sem designação específica-- cria um desgaste para a imagem do grupo, assim como os escândalos revelados na delação premiada dos irmãos.

"Acho que isso não contribui para a imagem da empresa e atrapalha a imagem da companhia. Só uma melhoria da governança da empresa é que poderia amenizar isso", avaliou Oliveira. "Mas, eles são acionistas da empresa e não tenho mecanismos para obrigá-los a deixarem de ser acionistas. O que temos feito, como minoritários, é batalhar muito para que a empresa evolua em termos de controles, governança e transparência. Essa é nossa briga cotidiana", acrescentou.

Oliveira afirmou que apesar das turbulências enfrentadas pelo grupo desde a delação premiada dos irmãos Batista no ano passado, a JBS continua sendo um ativo atrativo, com vários grupos interessados em ingressar na empresa de proteína animal.

"Existem vários grupos interessados...há muitos grupos interessados em comprar participação na JBS. Não necessariamente a participação do BNDES na JBS. Tem todo tipo de proposta", disse Oliveira sem dar detalhes.

CRIAÇÃO DE FUNDOS

Em outra frente, Oliveira afirmou que o BNDES vai detalhar na próxima semana um novo programa para fomentar a criação de fundos voltados para financiamento de infraestrutura. O banco quer atuar com o investidor âncora desses fundos para atrair novos investidores.

O BNDES terá disponível R$ 6 bilhões no primeiro ano para atuar nesses fundos. "O BNDES quer ancorar as emissões e assumir mais riscos em alguns casos através de cotas subordinadas e de mezanino para alavancar os recursos", disse Oliveira.

"Estamos falando de emissão de dívida...É pequeno perante as necessidades de infraestrutura do país, mas é uma largada, um teste", afirmou, acrescentando que se o modelo for bem-sucedido, os recursos do banco poderão ser ampliados para a modalidade.

Segundo o presidente do BNDES, o banco nunca terá uma participação majoritária no fundo, preferindo uma parcela menor "porém não tão pequena, porque senão não vai remunerar a atividade do BNDES".

Um acordo com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) para a criação de um outro fundo voltado para infraestrutura, também deve ser anunciado na semana que vem. "Queremos desenvolver e ampliar a participação do mercado no financiamento de longo prazo", disse Oliveira.

Em nota, a JBS afirmou: "A JBS lamenta não ter sido procurada pela Reuters durante a preparação de reportagem sobre os avanços de compliance da companhia. Teria evitado erros factuais da matéria, como o nome do atual diretor-presidente, que é José (e não João) Batista Sobrinho, e o cargo de Wesley Mendonça Batista Filho, presidente da JBS na América do Sul. Também teria sido possível esclarecer que a nova estrutura de governança foi aprovada por todos os conselheiros da companhia."