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Renúncia de presidente de banco central da Argentina em meio a negociação com FMI atinge peso

25/09/2018 18h46

Por Jorge Otaola e Scott Squires

BUENOS AIRES (Reuters) - O presidente do banco central da Argentina renunciou nesta terça-feira, em meio a negociações com o Fundo Monetário Internacional, derrubando o peso e causando um golpe nos esforços do presidente Mauricio Macri de restaurar a confiança de investidores.

A renúncia surpresa de Luis Caputo depois de apenas três meses no cargo veio no mesmo dia em que uma greve nacional de sindicatos, convocada para protestar a administração da economia por Macri, fechou o transporte público e portos pelo país.

O ex-secretário de Política Econômica Guido Sandleris, que possui um doutorado em economia pela Universidade de Columbia, foi indicado como substituto de Caputo, disse um comunicado da presidência.

A Argentina está no centro das preocupações em relação a mercados emergentes nos meses recentes. O peso perdeu mais de 50 por cento neste ano até agora em meio a preocupações de que a recessão possa impactar a habilidade do governo de pagar sua dívida externa.

A corrida contra o peso levou a Argentina a fechar um acordo para uma linha de crédito de 50 bilhões de dólares com o FMI em junho, negociações em que Sandleris estava envolvido.

Em um comunicado, Sandleris disse que o banco central sob sua liderança iria "trabalhar para recuperar a estabilidade e previsibilidade de preços" e que seu principal objetivo seria reduzir inflação.

Caputo, um ex-ministro da Fazenda, cuja nomeação há três meses tinha o objetivo de restaurar a fé de investidores na política monetária, é o segundo presidente do banco central da Argentina a renunciar neste ano. Um aumento na taxa de juros para 60 por cento não conseguiu deter a queda do peso.

Sua saída veio um dia depois de Macri dizer que a renegociação do acordo de 50 bilhões de dólares da Argentina com o FMI estava quase concluída e que descreveria uma direção clara da política monetária. A mídia local divulgou que o governo considera introduzir uma banda de negociação para o peso.

"Essa renúncia se deve a razões pessoais, com a convicção de que um novo acordo com o Fundo Monetário Internacional vai restabelecer confiança na situação fiscal, financeira, monetária e de câmbio", disse o banco central em um comunicado.

O peso recuperou muito de suas perdas iniciais depois que o banco central interveio no mercado futuro de câmbio, fechando em queda de 3 por cento a 38,50 por dólar, disseram operadores. A moeda caiu quase 7 por cento durante a manhã, com negócios sem muita liquidez devido a uma greve nacional.

O índice Merval subiu mais de 2 por cento, liderado por ações de energia que precificam suas vendas em dólar.

ALIADO DO MINISTRO DA ECONOMIA

Sandleris é um aliado próximo do ministro da Economia, Nicolas Dujovne, e entrou em rota de colisão com Caputo nas últimas semanas sobre como conduzir a política monetária durante a crise, de acordo com reportagens na mídia argentina.

Ele esteve envolvido nas negociações para acertar o acordo de financiamento original com o FMI em junho, e estava em Nova York negociando uma extensão deste crédito quando foi inesperadamente promovido a presidente do banco central.

Sandleris não respondeu imediatamente ao pedido de comentários. Em declarações em Nova York, Dujovne deu seu apoio.

"Da mesma forma que vínhamos trabalhando para superar o déficit fiscal no ministério da Economia... agora com a liderança de Sandleris no banco central nós vamos começar a derrotar a inflação", disse ele.

O governo Macri enfrenta dificuldades para controlar a inflação, cujas estimativas apontam alta de 40 por cento neste ano devido à derrocada da moeda. Os problemas econômicos do país têm sido exacerbados por uma seca severa neste ano, que prejudicou o setor de exportação de grãos.

"O timing não poderia ser pior para a Argentina", disse Paul Greer, gerente de portfólio no Fidelity Emerging Market Debt Fund. "Negociações com o FMI sobre um programa expandido e revisado estão levando mais tempo que o esperado e a renúncia de Caputo vai apenas contribuir para a incerteza de investidores."

O Ministério da Economia estimou que a greve desta terça-feira, que fechou empresas, escolas e órgãos públicos por todo o país- pode retirar até 0,2 por cento do crescimento neste ano.

(Reportagem de Jorge Otaola, Scott Squires, Eliana Raszewski e Nicolas Misculin)