Moro diz ao CNJ que não inventou delação de Palocci e avisa que há depoimentos "mais contundentes"
BRASÍLIA (Reuters) - O juiz federal Sérgio Moro, responsável pela operação Lava Jato em Curitiba (PR), afirmou que não inventou o depoimento dado em delação premiada pelo ex-ministro dos governos petistas Antonio Palocci, e destacou que não houve da parte dele "qualquer intenção de influenciar as eleições gerais de 2018".
A manifestação de Moro foi apresentada em resposta a procedimento aberto pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ) a pedido do PT e de deputados federais do partido contra a divulgação de parte da delação premiada firmada por Palocci com a Polícia Federal que implicou, entre outros, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Esse trecho da delação de Palocci foi incluído por Moro nos autos do processo que apura o pagamento de propinas da Odebrecht ao ex-presidente no caso da compra do terreno que abrigaria o Instituto Lula, divulgado pelo magistrado no dia 1º de outubro, na última semana antes do primeiro turno das eleições gerais.
Ao CNJ, o juiz da Lava Jato justificou a inclusão dessa colaboração no processo porque, caso haja condenação no caso, ele terá de dimensionar os benefícios da colaboração do ex-ministro. Destacou também que, para garantir a ampla defesa, "pelo menos necessário dar conhecimento aos defensores dos coacusados do conteúdo, ainda que parcialmente, da colaboração".
"Apesar do alegado pelos requerentes, o Partido dos Trabalhadores e os deputados federais Paulo Roberto Severo Pimenta, Wadih Damous e Luiz Paulo Teixeira Ferreira, não houve da parte deste juiz qualquer intenção de influenciar as eleições gerais de 2018", disse Moro, ao destacar que Lula não é candidato em 2018 e que tampouco há no depoimento de Palocci qualquer referência a Fernando Haddad, presidenciável do PT.
O magistrado afirmou que só promoveu a juntada no processo de cópia do acordo, da decisão de homologação da delação e de um termo de depoimento da colaboração "uma vez que, após análise, constatou este Juízo que a sua publicidade não prejudicaria as investigações em curso". Segundo Moro, "há outros depoimentos, alguns mais contundentes".
Moro disse ainda que, se fosse intenção dele de influenciar nas eleições, "teria divulgado a gravação em vídeo do depoimento, muito mais contundente do que as declarações escritas e que seria muito mais amplamente aproveitada para divulgação na imprensa televisiva ou na rede mundial de computadores".
(Reportagem de Ricardo Brito; Edição de Pedro Fonseca)
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