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Braskem aguarda novo governo do México para definir oferta de etano para fábrica de polietileno

13/11/2018 14h37

SÃO PAULO (Reuters) - A Braskem não pretende renegociar o contrato de 20 anos de fornecimento de etano pela estatal mexicana Pemex para sua fábrica no México, mas está aberta a alternativas, dependendo do posicionamento a ser tomado pelo novo governo mexicano sobre o acordo assinado anos atrás.

O presidente da Braskem, Fernando Musa, afirmou nesta terça-feira que a Pemex está tendo que importar etano dos Estados Unidos para honrar o contrato com a petroquímica brasileira, que opera um complexo petroquímico no México que iniciou atividades em 2015 e recebeu investimentos de 5,2 bilhões de dólares. O contrato envolve fornecimento de 66 mil barris diários de etano.

"Temos um contrato muito forte com a Pemex. Nossa intenção é colaborar com a Pemex. Não queremos que eles fiquem na opção de 'delivery or payment'. Queremos operar a planta (fábrica) na melhor capacidade", disse Musa em encontro com investidores sobre os resultados da Braskem no terceiro trimestre, que mostraram alta de 68 por cento no lucro líquido sobre um ano antes.

"Não vamos procurar a Pemex para renegociar. Vamos ter troca de governo e a nova administração (do México) vai assumir em 1 de dezembro e tem declarado que vai olhar todos os contratos dos últimos anos", disse Musa. "Se nos procurarem, nosso foco vai ser que o contrato é válido. Como todo contrato de longo prazo vai ter hora que é bom para nós e hora que é bom para a Pemex", acrescentou.

O executivo afirmou que a Braskem poderia ser operadora de um terminal de importação do produto no México, se a Pemex optar por esta solução para cumprir o contrato com o grupo brasileiro controlado por Petrobras e Odebrecht.

A fábrica de polietileno foi instalada na cidade de Nanchital, no Estado mexicano de Veracruz, e tem capacidade para produção de 1,05 milhão de toneladas por ano. Segundo Musa, a taxa de utilização de capacidade do complexo no terceiro trimestre foi de 78 por cento, ante 72 por cento no segundo trimestre, nível mais baixo entre todas as operações da empresa no mundo. Um nível considerado ótimo, segundo executivos da Braskem, é que o nível de utilização da capacidade fique entre 92 e 95 por cento.

Questionado quando a Pemex poderia solucionar os problemas no fornecimento, Musa afirmou que a Pemex não deu indicações sobre o assunto. Segundo ele, no quarto trimestre, a situação do fornecimento melhorou mas "em alguns dias é 100 por cento cumprido e em outros é 70 por cento".

Em meados de outubro, o presidente da comissão de Energia do Senado do México, o governista Armando Guadiana, afirmou à Reuters que o contrato da Braskem "é muito danoso aos interesses do México (...) fizeram demasiadas concessões à Braskem, que são muito danosas economicamente par ao México. Minha opinião é que se revise o contrato".

No entanto, o vice-presidente financeiro da Braskem, Pedro Teixeira de Freitas, afirmou nesta terça-feira que o contrato com a Pemex recebeu aval de 17 bancos internacionais que concederam financiamentos para a construção do complexo petroquímico de Nanchital e podem se manifestar a respeito da segurança jurídica dos contratos no país.

Segundo o contrato visto pela Reuters, a Pemex se comprometeu a vender etano para o complexo da Braskem na época a 0,16 dólar por galão quando o valor em 2010 era de 0,5 dólar e hoje está em 0,40 dólar.

Se durante a vigência do contrato a Pemex não cumprir com a entrega dos 66 mil bpd de etano, a empresa deverá pagar uma multa de até 300 milhões de dólares por ano. Em 2016, a multa foi de 9 milhões de dólares.

PETROBRAS

Sobre o contrato de fornecimento de nafta da Petrobras, de cinco anos e que vence em 2020, Musa afirmou que a Braskem somente vai iniciar as discussões com a estatal brasileira sobre uma renovação "em algum momento do próximo ano".

O presidente da petroquímica, que recebeu uma oferta para ser comprada pelo grupo europeu LyondellBasell, afirmou que a nafta é atualmente 80 por cento da matéria-prima consumida pela Braskem no Brasil, país responsável por 60 por cento do lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) da petroquímica no terceiro trimestre.

"Hoje a Petrobras é responsável por 43 por cento da nossa nafta e 57 por cento é importada de 20 fornecedores", disse o executivo, ressaltando que um dos objetivos de médio a longo prazos da Braskem é ter uma flexibilidade de 20 por cento na base de nafta e gás usados como matérias-primas pela empresa.

Neste tema, a exploração do pré-sal está elevando a oferta de gás como matéria-prima para a indústria petroquímica no Brasil, algo que pode incentivar a Braskem a investir em uma grande ampliação do complexo fabril em Duque de Caxias (RJ), disseram executivos da companhia. Atualmente, a empresa importa etano dos EUA para usar em unidades de produção instaladas na Bahia.

O outro objetivo futuro, segundo Musa, é que mais de 50 por cento do Ebitda da Braskem seja produzido por unidades da empresa fora do Brasil e que por isso a empresa está ampliando equipes na Ásia.

Para o mercado brasileiro de resinas, Musa afirmou sem dar detalhes que dadas as perspectivas de crescimento da economia no em 2019, a demanda pelo produto deverá avançar no próximo ano. Para 2018, a Braskem estima que o mercado nacional deverá elevar a demanda em 3 a 4 por cento.

O executivo e o vice-presidente financeiro não deram detalhes sobre o montante de recursos a ser repassado aos acionistas, apesar da confortável situação de caixa da Braskem e ausência de grandes projetos de investimento preparados pela companhia.

Musa disse que é preciso ter cautela sobre o próximo ano, diante da volatilidade causada pela guerra comercial iniciada pelos EUA contra a China nos preços de matérias-primas e produtos petroquímicos. "O ano de 2019 vai ser mais desafiador em rentabilidade internacional. Há volatilidade. O mercado, por exemplo, estimava preço do petróleo para o ano que vem em mais de 70 dólares e o que temos hoje é um valor abaixo de 70 dólares."

Ao final de setembro, a alavancagem da Braskem era de 1,8 vez Ebitda e a empresa apresentou uma geração líquida de caixa da ordem de 6,6 bilhões de reais.

(Por Alberto Alerigi Jr.)