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Ilan prevê ficar no BC até março, e não vê mudanças em relação à política cambial e de reservas

28/11/2018 11h32

Por Marcela Ayres

BRASÍLIA (Reuters) - O presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, previu nesta quarta-feira que deve permanecer no comando da autoridade monetária até março do ano que vem e ressaltou que, mesmo com sua saída, as atuais políticas cambial e de gestão de reservas devem seguir adiante.

Em coletiva de imprensa, ele estimou que a sabatina no Senado de Roberto Campos Neto, indicado ao cargo pelo governo de Jair Bolsonaro (PSL), deverá ocorrer ao longo de fevereiro.

Ilan, que se reuniu com Campos Neto há poucos dias, explicou que as conversas que tem travado com seu substituto ainda são iniciais e preliminares.

A jornalistas, ele disse ainda não ter aceitado permanecer na presidência do BC por motivos pessoais e não quis dar mais detalhes a respeito. Ressaltou, contudo, ver com "bons olhos" o novo governo e as medidas que estão sendo pensadas.

Questionado sobre a permanência de outros diretores do BC na futura administração, ele afirmou que "a ideia é a transição ocorrer, a diretoria permanecer, acho que não temos muita insegurança em relação a isso".

Segundo Ilan, a política cambial do BC é da instituição e vai continuar sendo.

"Não prevejo nenhuma mudança em nada, acho que o BC vai continuar tendo o papel que teve", afirmou.

Sobre as reservas internacionais, Ilan avaliou que ainda não é o momento de discutir o nível ótimo do estoque, com a prioridade sendo avançar com as reformas na economia.

"Eu sempre disse lá atrás que em algum momento iríamos discutir (reservas internacionais), acho que a gente tem que pensar nas reformas -- reforma fiscal, de produtividade --, acho que essas questões são questões que têm quer ser discutidas antes de a gente começar outro tipo de discussão mais perene", afirmou ele.

Após o futuro ministro da Economia, Paulo Guedes, ter afirmado mais cedo neste ano que poderia vender parte das reservas em caso de ataque especulativo, com o dólar se aproximando de 5 reais, Ilan afirmou que não lhe cabia comentar a situação hipotética.

"O que posso dizer é que a política continua a mesma, o BC continua o mesmo, não vejo grandes mudanças nessa área", destacou.

AGENDA BC+

Durante a coletiva, Ilan fez uma avaliação da agenda institucional da autarquia, batizada de BC+, apontando que 19 ações foram concluídas entre 2016 e 2017, outras 22 foram finalizadas este ano e mais 27 seguem em andamento.

No grupo das medidas que o BC espera ver avançando no ano que vem estão, por exemplo, a coordenação de dados para regulação do "open banking", que passa para os correntistas o poder de decidir quem pode ter acesso a seus dados bancários, dando abertura para que outras instituições lhes ofereçam serviços como seguros, cartões de crédito e empréstimos.

Entre as ações futuras, Ilan também citou o incentivo a pagamentos instantâneos e uma Lei de Coordenação da Estabilidade Financeira, que instituirá um comitê para momentos de crise que exijam resposta conjunta de BC, Ministério da Fazenda e Comissão de Valores Mobiliários (CVM), atendendo a uma demanda que o resto do mundo tem feito ao Brasil.

"Cada instituição vai continuar fazendo o seu, não mudam suas tarefas ... Única coisa é que vai ter um polo onde cada um vai discutir o que está fazendo no meio de momentos em que precisa a conversa. Só isso", explicou.

Ilan também disse esperar para o início de 2019 uma oferta voluntária pela indústria de cartão de crédito de um produto com prazos menores de pagamento para o lojista.

"Isso tudo a gente tem avaliado para que seja adotado de forma voluntária pelo sistema e tudo indica que está em fase final ... e será oferecido no começo do ano um novo produto que não vai proibir nada", disse.

Ele pontuou que o BC não está satisfeito ainda com os juros cobrados no cartão de crédito, embora já tenha ocorrido queda relevante na modalidade.

Olhando em retrospecto, Ilan disse ter orgulho de todas as medidas adotadas na sua gestão que foram além da política monetária, incluindo aquelas para competição bancária cujos maiores efeitos, na sua opinião, só serão percebidos pela sociedade à frente. Nesse sentido, citou medidas para fomento às fintechs, portabilidade bancária e maior digitalização.

Segundo o presidente do BC, ainda há espaço para a autoridade monetária seguir simplificando compulsórios e reduzindo alíquotas, processo que seguirá em curso.

Em outra frente, Ilan disse que o BC acredita no projeto de autonomia da instituição que está tramitando no Congresso e que trabalhará para ajudar na sua aprovação, mas que o debate agora cabe aos parlamentares.