Análise: Novo desastre na Vale coloca em xeque CEO, negócios e dividendos da mineradora
SÃO PAULO, 28 Jan (Reuters) - Quando Fabio Schvartsman assumiu o comando da Vale em 2017, ele sugeriu um lema para a maior mineradora de ferro do mundo, virando a página de um desastre na barragem de rejeitos que atingiu uma pequena cidade de Minas Gerais anos antes: "Mariana nunca mais".
Essa e muitas outras grandes promessas de Schvartsman agora parecem ter sido jogadas no lixo.
Três anos depois e a cerca de 100 quilômetros de Mariana, uma barragem de rejeitos de mineração se rompeu na sexta-feira (25), provocando uma enxurrada de lama em outra pequena cidade mineira, Brumadinho, deixando centenas de desaparecidos e dezenas de mortos registrados até o momento.
Embora o foco da empresa até agora tenha sido a tragédia humana, analistas e acionistas têm pouca dúvida de que a Vale não pode continuar no caminho traçado por seu presidente-executivo.
Schvartsmam, de 63 anos, que recentemente disse que permaneceria até 2020 no cargo, apesar do término de seu atual mandato em maio, projetou uma estratégia que contava com um fluxo de caixa livre de US$ 10 bilhões por ano devido à forte demanda chinesa pelo minério de ferro de alta qualidade produzido pela companhia.
Mas muitos dos planos, que passavam por oferecer dividendos generosos, reinvestir em divisões de menos lucrativas e buscar aquisições de médio porte, podem ter que ser abandonados, conforme a Vale agora caminha para enfrentar ações judiciais que podem chegar a dezenas de bilhões de dólares.
Um executivo de um fundo de pensão que detém ações da Vale, que pediu anonimato devido à confidencialidade do assunto, disse que seria difícil justificar grandes pagamentos aos acionistas nos próximos trimestres, acrescentando que seria preciso rever por completo a governança da Vale.
Dividendos
No domingo, a Vale disse em resposta a uma pergunta sobre sua política de dividendos que a empresa está focada em ajudar as vítimas do desastre e que "não discutiu a questão dos dividendos". Mas, em comunicado no final do mesmo dia, a empresa disse que seu conselho decidiu suspender seus planos para dividendos, eventuais recompras de ações e bônus executivos por conta do desastre.
Durante uma visita aos esforços de resgate no domingo, Schvartsman prometeu renovar o foco da Vale na segurança, "além de toda e qualquer norma nacional e internacional".
"Nós vamos criar um colchão de segurança bastante superior ao que a gente tem hoje para garantir que nunca mais aconteça um negócio desse", disse ele.
Um dos principais acionistas da Vale, o fundo de pensão Previ, tomou a iniciativa de divulgar um comunicado no domingo no qual afirmou que vai exigir uma investigação completa do desastre e garantirá que a empresa ajude as famílias e comunidades afetadas.
O fundo não respondeu a um pedido adicional de comentário. Outro acionista majoritário, a Bradespar, empresa de investimentos do Banco Bradesco, recusou-se a comentar.
As ações da Vale listadas nos EUA caíram 8% na sexta-feira após o desastre, enquanto os mercados brasileiros estavam fechados devido a um feriado em São Paulo.
No sábado, a agência de risco Standard & Poor's colocou o rating da Vale em observação negativa, alertando que poderia cortar a atual avaliação BBB- da empresa em diversos degraus a depender de multas e da possível perda da licença de operação na área afetada.
Expansão em dúvida
Ainda não é claro se Schvartsman conseguirá colocar novos recursos em planos de expansão das operações, conforme planejado anteriormente.
A Vale apresentou planos em dezembro para investir US$ 500 milhões em sua mina de níquel Nova Caledônia após fracassar na venda ou busca de um parceiro para o ativo, na esperança de ganhar no futuro com uma esperada alta nas vendas de veículos elétricos.
A mineradora também vinha buscando aquisições de médio porte em seu negócio principal, de minério de ferro, após decidir não perseguir operações gigantescas com o fluxo de caixa decorrente da alta nos preços do minério de ferro no ano passado.
Em dezembro, a Vale anunciou a aquisição da mineradora Ferrous Resources junto à controladora Icahn Enterprises por US$ 550 milhões. A transação deve ser concluída neste ano.
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