Petrobras vai se pautar por meritocracia; falhas podem levar a demissões, diz CEO
Por Marta Nogueira
RIO DE JANEIRO (Reuters) - Em momento em que busca implantar um programa mais agressivo de redução de custos, a Petrobras vai premiar funcionários dependendo de seu desempenho, além de considerar a demissão de empregados responsabilizados por acidentes, afirmou o presidente da estatal Roberto Castello Branco.
A ideia, ressaltou o executivo durante seminário na Fundação Getulio Vargas (FGV), é trabalhar mais a meritocracia. A criação de um programa de sugestões para a redução de custos e ganho de proficiência está em curso, explicou ele.
"Vamos premiar as melhores ideias. Nosso objetivo é criar uma cultura de custo baixo para a companhia, desenhando um programa de remuneração variável", afirmou.
Segundo o executivo, os funcionários precisarão saber que, "se tiverem uma boa performance, vão ser premiados, mas se não tiverem, vão ser punidos".
Como exemplo, o presidente da Petrobras apresentou um relato de um mecânico que morreu durante o trabalho, por um erro que teria sido cometido por ele mesmo. No entanto, Castello Branco ressaltou que outras pessoas também falharam no caso e que a demissão delas seria algo a ser considerado.
"O mecânico errou, pagou com a vida, coitado. Mas os supervisores do trabalho também erraram", afirmou.
O executivo destacou que a punição sugerida na empresa para outro funcionário era de 29 dias de suspensão, porque se fossem 30 o funcionário seria demitido.
"Bom, você acha que uma vida humana custa 29 dias de salário? Tem que ser demitido, senão vamos ter que rasgar essas regras de ouro (regras que falam sobre a segurança na Petrobras)", afirmou.
Segundo o executivo, a empresa tem respeito com a vida humana, ao meio ambiente, e tem como meta zero fatalidades.
"Nosso foco é gerar valor para os nossos acionistas, mas condicionado a segurança das nossas operações. Não podemos subestimar riscos", afirmou.
RESPONSABILIDADE É DO CEO
Na mesma mesa de discussões do evento, o chairman da Brookfield no Brasil, Luiz Ildefonso Lopes, disse no seu discurso que, assim como Castello Branco, também gostaria de falar sobre o tema de segurança do trabalho.
Segundo Lopes, a responsabilidade pela segurança nas empresas da Brookfield sempre é do presidente.
"Nas nossas empresas nós não temos gerentes de segurança. Não existe isso. O responsável pela segurança em qualquer empresa nossa é o CEO. Qualquer acidente de maior gravidade, não precisa ser fatalidade, quem tem que explicar e se submeter ao inquérito que acontece e que é liderado por um grupo de pessoas... é o CEO", afirmou.
"Demitir CEO por não dar atenção suficiente na área de segurança, na nossa vida, é mais comum do que demitir CEO por baixa performance financeira."
A discussão ocorre enquanto o Brasil tem levantado de forma importante questões relacionadas à segurança de atividades em grandes empreendimentos, após novo desastre envolvendo uma barragem de mineração.
Em 25 de janeiro, uma barragem de rejeitos de beneficiamento minério de ferro da mineradora Vale se rompeu em Brumadinho (MG), liberando uma onda de lama que deixou mais de 300 mortos ou desaparecidos, além de atingir vegetação, comunidades, e rios, dentre eles o importante Paraopeba.
Na tragédia, a maior parte dos mortos foram funcionários da própria Vale, que estavam no caminho dos rejeitos.
O rompimento ocorreu pouco depois de três anos do colapso de barragem da Samarco, uma joint venture da Vale com a BHP, que deixou 19 mortos, centenas de desabrigados e poluiu o rio Doce, no que é considerado maior desastre ambiental do Brasil.
O CEO da Vale e outros diretores foram afastados dos cargos, após recomendação de autoridades que investigam o caso em Brumadinho.
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