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Empresas de energia solar e eólica dos EUA chamam "Green New Deal" de radical

21/03/2019 11h05

Por Valerie Volcovici e Nichola Groom

WASHINGTON/LOS ANGELES (Reuters) - Empresas de energia solar e eólica dos Estados Unidos podem ter mais a ganhar com o "Green New Deal", uma proposta ambiciosa apoiada por vários candidatos democratas à Presidência para acabar com o consumo de combustível fóssil no país dentro de uma década.

Mas não espere que as empresas de energia renovável o endossem.

Representantes de empresas de energia limpa dos EUA estão relutantes em apoiar o plano, chamando-o de irrealista e politicamente divisivo.

A fria reação reflete a dificuldade que os políticos progressistas que disputam a Casa Branca podem ter em vender uma política agressiva sobre aquecimento global para a comunidade empresarial e eleitores mais moderados.

Também ressalta uma nova realidade para as empresas de energia solar e eólica há muito associadas à esquerda ambiental: à medida que melhoraram a tecnologia e baixaram os preços, seu crescimento está mudando de Estados costeiros politicamente liberais para o centro mais conservador, onde o ceticismo sobre mudança climática e os subsídios do governo são altos.

"Se você apenas endossar amplamente o 'Green New Deal', você está propenso a perturbar um dos lados do corredor ou do outro. E isso não é construtivo", disse Tom Werner, CEO da SunPower Corp, uma das maiores empresas de energia solar do país.

"A idéia de que você poderia ir a 100 por cento (energia limpa) em 10 anos exigiria muitas coisas acontecendo perfeitamente, simultaneamente", disse ele. "Você teria que ter apoio bipartidário, suporte de 52 Estados."

O "Green New Deal" foi apresentado no mês passado por Alexandria Ocasio-Cortez, uma congressista democrata de Nova York, junto com seu colega senador democrata Edward Markey, de Massachusetts. Desde então, tornou-se o centro de um debate renovado em Washington sobre quão vigorosamente o governo deve agir para enfrentar as mudanças climáticas.

A resolução do Congresso, que não tem força de lei, pede que o governo federal faça investimentos para alcançar zero emissões de gases do efeito estufa em uma década ao atender 100 por cento da demanda de energia dos EUA com fontes limpas e renováveis, como energia solar, eólica, hidrelétrica ou energia geotérmica.

Ele também exige investimentos maciços em projetos de infraestrutura verde, como "redes inteligentes", para melhorar a eficiência, junto com a garantia de milhões de empregos com salários altos, férias remuneradas, licença médica e aposentadoria. A resolução não entra em detalhes sobre como a legislação subseqüente atingiria essas metas.

Até agora, pelo menos oito aspirantes à presidência democrata --incluindo os senadores Bernie Sanders, de Vermont, Elizabeth Warren, de Massachusetts, e Amy Klobuchar, de Minnesota-- endossaram o plano enquanto tentam se opor à política pró-perfuração de petróleo do presidente Donald Trump.

Os republicanos de Trump criticaram amplamente o "Green New Deal", dizendo que custaria trilhões de dólares em dinheiro dos contribuintes, pode ser tecnicamente inviável e cheira a socialismo radical.

Rhiana Gunn Wright, fundadora do centro de estudos New Consensus, que está elaborando as políticas do "Green New Deal", disse que seu grupo não estimará os custos do plano até que seja redigido no ano que vem. Ela disse que as estimativas dos oponentes são prematuras e não levam em conta os benefícios da ação climática e os custos da não ação.

A viabilidade da proposta também é motivo de preocupação para o setor de energia limpa.

"Adoramos o entusiasmo que o Green New Deal trouxe à questão climática... mas precisamos operar na realidade política", disse Dan Whitten, vice-presidente de relações públicas da Solar Energy Industries Association, principal grupo de lobby do setor de energia solar.

(Por Valerie Volcovici e Nichola Groom)