Não há como sustentar modelo atual do BPC, diz Mourão a empresários
Por Eduardo Simões
SÃO PAULO (Reuters) - O vice-presidente Hamilton Mourão disse nesta terça-feira que o modelo atual do Benefício de Prestação Continuada (BPC) é insustentável e, embora tenha afirmado que será uma "briga" alterar o modelo no âmbito da reforma da Previdência, defendeu em palestra a empresários que este tema precisa ser enfrentado.
Em evento na Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), Mourão disse que, pelo modelo atual, o idoso pode se aposentar recebendo um salário mínimo aos 65 anos, independente de ter contribuído com a Previdência, o que, para ele, inibiria a contribuição.
"Se as senhores e os senhores olharem que a pessoa para se aposentar por idade tem que chegar aos 65 anos tendo pago 15 anos de contribuição e vai receber só um salário mínimo, por que é que ele tem que contribuir, se ele vai receber a mesma coisa sem contribuir?", questionou Mourão.
"Então nós temos que olhar isso. Não há mais como sustentar isso aí. É uma briga difícil? Dificílima, mas nós temos que enfrentar isso", acrescentou, afirmando que, originalmente, quando foi regulamentado em 1993, o BPC previa pagamento de benefício a partir dos 70 anos, idade que foi posteriormente diminuída para 67 anos no governo Fernando Henrique Cardoso e para 65 anos no governo Lula.
As declarações de Mourão sobre o BPC vêm no mesmo dia em que líderes do centrão e de outros partidos assinaram uma nota em que se posicionam contra as mudanças no benefício e que estão no texto da reforma previdenciária. [nL1N21D11X]
Mourão também disse aos empresários que o pacto firmado na Constituição de 1988 precisa ser revisto, especialmente no que diz respeito ao modelo orçamentário.
O vice, que é general da reserva do Exército, fez ainda avaliação de que a população precisa compreender que também tem obrigações, e não apenas direitos.
Mais cedo, em declaração ao lado do presidente da Fiesp, Paulo Skaf, Mourão defendeu a necessidade de fazer a reforma da Previdência e, num tom mais conciliador, disse que o governo Bolsonaro precisa ter determinação para levar adiante a reforma da Previdência, mas também paciência para negociar o que for necessário com os parlamentares.
Mourão, que tem sido visto como uma alternativa mais moderada de interlocução do que Bolsonaro, fez questão de afirmar que se reunia com empresários cumprindo uma tarefa delegada a ele pelo presidente, a quem chamou, durante a palestra, de estadista e de um homem preocupado com as próximas gerações, não com as próximas eleições.
Ainda nesta terça-feira, Mourão será a principal estrela de um jantar oferecido por Skaf na casa do presidente da Fiesp na zona sul de São Paulo que contará, na lista de convidados, com empresários que representam parcela importante da economia e diversos setores, não apenas da indústria.
O governo Bolsonaro vive um momento de tensão com o Legislativo, especialmente após troca de farpas com o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e com aliados do Planalto e parlamentares declaradamente favoráveis à reforma da Previdência manifestando descontentamento com a articulação política do governo.
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