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Governo admite que temor de greve de caminhoneiros levou a interferência na Petrobras

Imagem da greve dos caminhoneiros de 2018 mostra vários caminhões parados em posto de combustível na rodovia Presidente Dutra - Fábio Motta/Estadão Conteúdo
Imagem da greve dos caminhoneiros de 2018 mostra vários caminhões parados em posto de combustível na rodovia Presidente Dutra Imagem: Fábio Motta/Estadão Conteúdo

Por Lisandra Paraguassu

12/04/2019 12h34

BRASÍLIA (Reuters) - O governo brasileiro admitiu que a decisão do presidente Jair Bolsonaro de interferir na véspera na política de preços da Petrobras se baseou nos riscos de uma nova greve dos caminhoneiros, como revelaram em entrevistas na manhã desta sexta-feira (12) o vice-presidente Hamilton Mourão e o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni.

Em entrevista à rádio CBN, o vice-presidente informou que o governo vem recebendo informações sobre o risco de uma nova greve, como a que paralisou o país no primeiro semestre de 2018, e mesmo que não tenha uma confirmação de uma nova paralisação, é preciso tratar o tema com cuidado.

"Eu julgo que ele [Bolsonaro] optou pelo bom senso nesse presente momento e vai buscar aí uma outra linha de ação. Mas também tenho a absoluta certeza que ele não vai praticar a mesma política da ex-presidente Dilma Rousseff no tocante aí à intervenção em preços do combustível e da energia", defendeu o vice-presidente.

Mourão avaliou ainda que a interferência direta do presidente na política de preços da Petrobras é um "fato isolado" pelo momento que se está vivendo.

"Eu tenho visto alguns dados que tem me chegado da pressão do lado dos caminhoneiros. Acredito que o presidente está buscando a melhor solução para equacionar o problema", disse.

De acordo com fontes ouvidas pela Reuters, o presidente ligou na noite de quinta-feira (11) diretamente para o presidente da estatal, Roberto Castello Branco, e pediu que o aumento fosse reduzido dos planejados 5,7% para 1%. A estatal então preferiu cancelar o aumento.

Nesta sexta, as ações da Petrobras abriram em queda acentuada, com o temor do mercado de que o governo volte a controlar os preços de combustíveis, como ocorria no passado.

Onyx se irrita com comparação ao governo Dilma

Em entrevista à rádio Bandeirantes, o ministro Onyx Lorenzoni garantiu que não é o caso e se ofendeu quando a interferência do presidente na estatal foi comparada à política de preços do governo de Dilma Rousseff, que teria causado prejuízos à empresa.

"No governo Dilma roubaram mesmo, é diferente. Esse é um governo sério, o nosso não rouba. Não é por causa da inflação, a Dilma roubou, junto com o governo Lula...", respondeu irritado ao ser lembrado que a política de controle de preços da ex-presidente era para evitar o impacto do aumento dos combustíveis na inflação.

Onyx admitiu que a decisão de agora foi para evitar uma crise maior com os caminhoneiros. De acordo com o ministro, o Brasil tem um problema sério de concentração de transporte de cargas no modal rodoviário, e os caminhoneiros são pressionados de um lado pelo monopólio da Petrobras e de outro, pelos oligopólios das grandes empresas.

"Temos uma série de problemas na operação, principalmente na dos caminhoneiros autônomos. Um deles é o diesel, que ainda não foi adequadamente equacionado", afirmou. "A gente precisa de tempo para enfrentar a questão do monopólio da Petrobras, do oligopólio do varejo. Tem muitos anos para desfazer e cem dias é muito pouco."

A distribuição de combustíveis é controlada por poucas empresas, incluindo a BR Distribuidora, da própria Petrobras. Mas o setor argumenta, quando acusado de se beneficiar de oligopólio, que a rede de postos tem mais de 40 mil unidades, e que a concorrência é acirrada