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Exterior e temas locais empurram dólar para máximas do mês, acima de R$3,90

16/04/2019 17h07

Por José de Castro

SÃO PAULO (Reuters) - O dólar fechou em firme alta ante o real nesta terça-feira, acima da marca de 3,90 reais, no maior patamar do mês, amparado pelo fortalecimento da moeda norte-americana no exterior e pelo cenário de persistentes ruídos políticos locais.

O dólar negociado no mercado interbancário subiu 0,85 por cento, a 3,9018 reais na venda. É o maior nível para um fechamento desde 29 de março (3,9154 reais).

Na B3, a referência do dólar futuro tinha alta de 0,83 por cento, a 3,9075 reais.

O real teve no dia o segundo pior desempenho numa lista de 33 moedas frente ao dólar, à frente apenas do peso argentino. O dia foi de queda generalizada para divisas de emergentes, diante da percepção de que a economia norte-americana segue melhor, o que respalda migração de investimentos para os EUA em detrimento de países como o Brasil.

O índice do dólar frente a uma cesta de moedas subia 0,14 por cento no fim da tarde. A moeda norte-americana ganhava 0,7 por cento contra o peso colombiano e 0,6 por cento ante o ringgit malaio.

"Todas as moedas estão sofrendo hoje, mas a volatilidade do real segue mais alta, e isso está totalmente ligado à incerteza sobre a reforma da Previdência", disse o estrategista para América Latina do Crédit Agricole, Italo Lombardi. "Quanto mais demora a aprovação, maior o risco de o texto ficar ainda mais diluído", alertou.

A volatilidade implícita de um mês para o real subiu para 13 por cento ao ano, no quarto dia seguido de alta e ao maior nível desde 8 de abril. Como comparação, a volatilidade implícita para o peso mexicano está na casa de 8,9 por cento.

A piora relativa da taxa de câmbio local se deu em meio ao entendimento de que a articulação pela reforma da Previdência segue frágil e confusa, num momento em que o governo volta a sentir pressão dos caminhoneiros.

O ministro da Economia, Paulo Guedes, tem defendido uma reforma que economize pelo menos 1 trilhão de reais ao longo de uma década, mas alguns no mercado já veem como mais provável valores entre 500 bilhões e 600 bilhões de reais.

O presidente da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara, deputado Felipe Francischini (PSL-PR), disse que ainda decidirá se o texto da reforma pode ser votado nesta semana. Com isso, ignorou acordo fechado entre lideranças na véspera --incluindo o líder do governo, Major Vitor Hugo (PSL-GO)-- que prevê a votação na CCJ apenas na próxima semana.

O mercado aguarda ainda para esta terça-feira informações sobre a reunião entre o presidente Jair Bolsonaro, ministros e o presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco.

O JPMorgan manteve estimativa para o dólar em 3,90 reais no fim do ano, mas elevou recentemente para 3,80 reais a previsão para a moeda norte-americana ao fim do segundo trimestre. O banco ainda vê chance majoritária de aprovação da reforma, o que ampara a visão "otimista" para a divisa brasileira.

"O investimento direto segue forte compensando integralmente o déficit em conta corrente. Além disso, o Banco Central tem protegido o câmbio de grande depreciação com o estoque de swaps cambiais", afirmaram analistas do banco em nota a clientes.