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Compras agrícolas mediante "condição de mercado" ampliam dúvidas sobre acordo EUA-China

KEVIN LAMARQUE
Imagem: KEVIN LAMARQUE

15/01/2020 18h45

CHICAGO (Reuters) - A promessa da China de comprar produtos agrícolas dos Estados Unidos mediante "condições de mercado", divulgada nesta quarta-feira durante a cerimônia de assinatura do acordo comercial de Fase 1 entre os países, ampliou as dúvidas de produtores e operadores de commodities, já aguçadas pela manutenção das tarifas sobre exportações norte-americanas.

O pacto, que visa reduzir as tensões após quase dois anos de guerra comercial, inclui um compromisso da China de comprar ao menos 12,5 bilhões de dólares adicionais em bens agrícolas norte-americanos em 2020, além de pelo menos 19,5 bilhões de dólares adicionais em 2021. Ambos os valores têm como baliza os níveis de 2017, de 24 bilhões de dólares.

Segundo pessoas familiarizadas com as negociações, a insistência do presidente dos EUA, Donald Trump, em um grande acordo para compras de produtos agrícolas foi um importante ponto de divergência nas conversas. A China desejava ter liberdade para comprar com base nas demandas.

Nesta quarta-feira, falando ao lado de Trump, o vice-premiê chinês, Liu He, afirmou que as empresas chinesas vão comprar produtos norte-americanos "baseadas em condições de mercado".

A declaração pressionou as cotações da soja na bolsa de Chicago, que chegaram a recuar 1% ao longo da sessão.

"A soja despencou depois disso", afirmou Terry Reilly, analista sênior de commodities da Futures International. "'Quando o mercado ditar' significa que eles podem não retornar (ao mercado dos EUA) por 36 meses. Quem é que sabe? Isso significa 'quando eles precisarem e o preço for o certo'."

Ted Seifried, estrategista-chefe da corretora Zaner Group em Chicago, disse que a falta de números específicos para as compras também foi decepcionante.

Além disso, o acordo não reduziu as tarifas aplicas às principais exportações agrícolas dos EUA para a China, como soja, sorgo e carne suína --esta, sujeita a uma taxa de 68% mesmo com o aumento da demanda chinesa pela proteína, após a peste suína africana devastar a criação de porcos do país.

"Estou otimista e muito agradecido, mas nós realmente precisamos que as tarifas sejam removidas para que nossos produtores obtenham o máximo benefício", afirmou David Herring, presidente do Conselho Nacional de Produtores de Carne Suína dos EUA.

Operadores chineses também expressaram dúvidas.

"Meu sentimento é de que a China não está conseguindo nada com isso (o acordo)", disse um operador agrícola com base no país asiático. "Só está gastando um pouco de dinheiro para ter um pouco de paz em troca."

(Reportagem de Mark Weinraub, Karl Plume, Julie Ingwersen e Tom Polansek, em Chicago, e Hallie Gu, em Pequim)