Plano é votar autonomia formal do BC após Carnaval, diz relator do projeto na Câmara
Por Marcela Ayres
BRASÍLIA (Reuters) - Os deputados querem votar o projeto de autonomia formal do Banco Central após o Carnaval, afirmou nesta quinta-feira o relator do texto na Câmara dos Deputados, deputado Celso Maldaner (MDB-SC), pontuando que o plano conta com a benção do presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ).
Maldaner falou com jornalistas após encontro com o presidente do BC, Roberto Campos Neto, além de Maia e outros deputados.
Ele disse que reuniões de bancada serão realizadas daqui para frente para esclarecer pontos do texto aos parlamentares. Segundo o relator, Campos Neto se dispôs a participar.
"Vamos trabalhar agora com as bancadas a partir da semana que vem pra que a gente possa já levar direto pro plenário depois do Carnaval e votar a autonomia do BC", afirmou Maldaner.
Maldaner frisou que esse caminho será possível porque o projeto, que é de 1989, já teve sua urgência aprovada. Na prática, o projeto de autoria do governo sobre o tema foi apensado a este antigo, permitindo o aproveitamento de etapas já cumpridas em sua tramitação original.
Nesta quinta-feira, Maldaner apresentou a Campos Neto o que disse serem pequenas alterações em seu parecer, com mudanças nos prazos para troca de cargos de presidente e diretores do BC na transição para o novo modelo, uma vez que o mandato do presidente Jair Bolsonaro já está em vigor.
Pelo novo texto, o presidente da autarquia e dois diretores terão mandatos até o fim de fevereiro de 2024. Outros dois diretores terão mandatos até 28 de fevereiro de 2023, mais dois até 28 de fevereiro de 2022 e mais dois até 28 de fevereiro de 2021.
Todos os mandatos seguintes terão duração de quatro anos, observando-se o sistema escalonado, o que já estava previsto no parecer anterior do deputado. A ideia é que eles não sejam coincidentes entre si nem com o do presidente da República.
O projeto estabelece a autonomia técnica, operacional, administrativa e financeira do BC, definindo-o como autarquia especial, não vinculada a qualquer ministério. Hoje, o BC é vinculado ao Ministério da Economia.
Também fixa que seu objetivo fundamental é assegurar a estabilidade de preços na economia, sem mencionar compromisso com o crescimento da economia.
Em apresentação exibida aos parlamentares, Campos Neto defendeu que a melhor contribuição que o BC pode dar ao crescimento é manter a inflação baixa e estável.
Ele também afirmou que a autonomia permitirá que o BC busque seus objetivos "de maneira técnica, objetiva e imparcial". Para Campos Neto, o projeto diminuirá a instabilidade econômica em períodos de transição de governo e facilitará a obtenção de inflação baixa, menores juros estruturais, menores riscos e maior estabilidade monetária e financeira.
Para além desses pontos, o parecer sobre a autonomia do BC também conta com a criação dos depósitos voluntários remunerados e de um Fundo de Desenvolvimento do Sistema Financeiro Nacional.
Os depósitos voluntários à vista ou a prazo das instituições financeiras funcionariam como alternativa ao uso pelo BC de operações compromissadas, utilizadas pela autoridade monetária para retirar ou injetar liquidez nos mercados.
Já o Fundo de Desenvolvimento do Sistema Financeiro Nacional abriria caminho para que receitas levantadas pelo BC com o fornecimento de sistemas e serviços às instituições reguladas pudessem ser usadas para investimentos e projetos num contexto de "acelerado desenvolvimento de novas tecnologias".
Um outro projeto sobre autonomia do BC tramita no Senado, mas Maldaner afirmou nesta quinta-feira que a proposta sob sua relatoria é a que vale para o governo.
"Vamos ser grande protagonista (no tema), a Câmara Federal", afirmou.
PROJETO DE MODERNIZAÇÃO CAMBIAL
Segundo a assesoria de imprensa do BC, a nova lei cambial também foi pauta do encontro de Campos Neto com parlamentares. Ao saírem da reunião, contudo, os deputados não fizeram comentários a respeito.
Mais cedo neste ano, o presidente do BC havia apontado a expectativa de aprovação ainda nos três primeiros meses de 2020 pelo Congresso do projeto de autonomia formal da instituição e do projeto que moderniza o arcabouço legal ligado ao câmbio.
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