REEDIÇÃO-Acordo entre Boeing e Embraer fica no fio da navalha conforme mercados despencam
(Reenvia matéria de 19 de março para retificar no 15º parágrafo "condições de fechamento ainda pendentes" e "não excelentes condições de fechamento")
Por Tim Hepher e Marcelo Rochabrun e Eric M. Johnson
PARIS/SÃO PAULO/SEATTLE (Reuters) - O Brasil aprovou a proposta da Boeing para comprar a unidade de jatos comerciais da Embraer, mas a recente queda nos mercados levantaram questões urgentes sobre o futuro da transação de 4,2 bilhões de dólares, conforme o setor de aviação é atingido pela crise do coronavírus.
O Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) descartou as objeções dos promotores ao acordo na quarta-feira.
Uma queda nas ações da Embraer e preocupações com dinheiro na Boeing, impulsionadas pelo impacto do coronavírus nas viagens aéreas, foram um golpe para a transação, aumentando a incerteza causada por atrasos na obtenção da aprovação regulatória da União Europeia.
As ações da terceira maior fabricante de aviões do mundo caíram 14% na quarta-feira, atingindo um valor de mercado de cerca de 1,3 bilhão de dólares depois de cair dois terços desde que o acordo foi divulgado em 2018, segundo dados da Refinitiv.
A esse preço, a Boeing assumiria o controle da unidade comercial da Embraer, mas somente após pagar três vezes o valor de toda a empresa.
A Boeing se ofereceu para pagar 4,2 bilhões de dólares em dinheiro por 80% da unidade comercial da Embraer, que fabrica jatos no segmento de 70 a 150 assentos e concorre com o programa A220, recentemente adquirido pela Airbus.
Tendências recentes "aumentaram as chances de esse acordo não ser concluído", disse Ken Herbert, analista da Canaccord Genuity.
Embora a Boeing possa, observam os analistas, buscar um preço mais baixo, as promessas firmadas no acordo durante meses de negociações delicadas deixam aos acionistas da Embraer pouco espaço para manobras, exceto uma recuperação acentuada das ações.
A Embraer planeja pagar um dividendo especial de 1,6 bilhão de dólares a seus acionistas com os recursos provenientes da transação.
O plano colocaria o braço comercial da Embraer, liderado por John Slattery, em um novo empreendimento da Boeing que competiria com o A220 da Airbus e guardaria cerca de 1 bilhão de dólares em dinheiro líquido para as unidades de defesa e jatos particulares da Embraer.
O prejudicado valor de mercado da Embraer ameaça reverter esses cálculos, exceto no caso de uma decisão improvável de renunciar ao dividendo especial ou sobrecarregar a antiga Embraer com dívidas, disseram analistas.
PLANO DE SUPORTE
O novo presidente-executivo da Boeing, Dave Calhoun, disse em janeiro que estava comprometido com o acordo. Agora ele deve convencer o conselho da Boeing a correr atrás dele e, ao mesmo tempo, enfrentar críticas no Congresso que estão questionando como os potenciais fundos de contribuintes dos EUA seriam utilizados.
"Eles estão indo para Washington com as mãos estendidas para um resgate e depois, por outro lado, gastam 4,2 bilhões de dólares para concluir o acordo", disse Herbert.
O bônus de desempenho de 7 milhões de dólares de Calhoun, parte de um pacote de três anos atrelado ao preço das ações da Boeing, depende em parte de sua capacidade de fechar o negócio com a Embraer, assumindo a aprovação regulatória.
"Não comentamos publicamente discussões entre as partes ou especulações de mercado. Estamos tratando do processo de aprovações regulatórias e condições de fechamento ainda pendentes", disse uma porta-voz da Boeing. A Embraer não comentou.
As opções da Embraer, caso o negócio fracasse, não foram amplamente discutidas e os possíveis parceiros para uma aliança são escassos.
Mas a Embraer expressou confiança em seu portfólio e continua pressionando para comercializar sua aeronave mais recente, o E195-E2, que apresentou na Inglaterra esta semana.
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