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Argentinos deixam o Brasil, não podem entrar na Argentina e ficam presos na ponte da Fraternidade

30/03/2020 19h01

Por Lisandra Paraguassu

(Reuters) - Um grupo de quase 20 argentinos está preso desde o final de semana na ponte da Fraternidade, entre Foz do Iguaçu e Puerto Iguazu (Argentina), sem poder entrar em seu país e nem voltar ao Brasil devido ao fechamento das fronteiras pela epidemia de coronavírus.

Na semana passada, o governo argentino ampliou para argentinos e residentes da Argentina o decreto que impedia a entrada no país de quem está no exterior. O decreto deixou do lado de fora das fronteiras cerca de 15 mil argentinos, em várias partes do mundo. Uma boa parte deles no Brasil.

De acordo com a Polícia Federal, as pessoas que estão chegando às fronteiras terrestres estão sendo avisadas de que não poderão entrar na Argentina. O mesmo trabalho está sendo feito pelos consulados do país no Brasil.

Ainda assim, o grupo que está hoje na ponte insistiu em atravessar. No final da semana passada, eram oito, mas durante o final de semana outros chegaram e agora quase duas dezenas aguardam na ponte uma solução. Uma barraca foi colocada no local para abrigá-los do sol e a PF e a Polícia Rodoviária Federal tentam conseguir um banheiro químico.

Segundo a PF em Foz, o grupo deixou o Brasil, apesar de ter sido avisado de que não poderia entrar na Argentina. Ao ser impedido de entrar em seu país, também não pôde voltar ao Brasil pelo decreto brasileiro que impede a entrada de estrangeiros.

O caso na Ponte da Fraternidade é extremo, mas outras cidades brasileiros também estão tomadas por argentinos impedidos de voltar para casa. É o caso, por exemplo, de Florianópolis.

O mês de março é um dos preferidos dos argentinos para passar o verão em praias do sul do Brasil, já que o fim da temporada de veraneio reduz os preços de aluguéis e hotéis. O consulado argentino em Florianópolis calcula em cerca de mil pessoas na capital de Santa Catarina aguardando a possibilidade de voltar para casa.

Na página do consulado nas redes sociais, são dezenas de pedidos de ajuda e reclamações.

Em vários casos, os argentinos reclamam do cancelamento de voos que os obrigou a ficar mais tempo do que o planejado e agora estão impedidos de voltar para casa. Em um caso, uma senhora conta que está com um grupo de oito pessoas com mais de 65 anos em uma das praias da ilha e pede ajuda para pagar a hospedagem, já que vários estão ficando sem dinheiro.

O designer Damián de Carlo Magni está com os pais na praia de Bombinhas, em Santa Catarina, sem conseguir voltar para casa.

"Eles estão com o hotel pago até hoje e praticamente não têm mais dinheiro para pagar mais", contou à Reuters. "Faz dias que preenchi todos os formulários que me pediram, me ligaram para dizer que receberam, mas não deram mais nenhuma informação."

Maria Adelia Segovia está em Bombinhas, praia no norte de Santa Catarina, com um grupo de aposentados entre 65 e 80 anos. Parte, que veio em um microônibus, conseguiu deixar o Brasil um dia antes do decreto presidencial. Outros, estão presos em Santa Catarina.

"Eu tenho 65 anos e meu marido, 80. Remarcaram nosso voo, que era para o dia 25, para o dia 23, mas aí cancelaram. Consegui um hotel para ficar, mas não têm mais voos", contou à Reuters. "Somos muitos aqui, todos na mesma situação, todos com mais de 65 anos. O Consulado não atende o telefone nem responde e-mails."

O decreto do governo argentino tem validade até a próxima terça-feira, mas há previsão de que seja estendido, já que o presidente Alberto Fernández estendeu no domingo o decreto de isolamento total até 13 de abril.

(Reportagem de Lisandra Paraguassu, em Brasília)