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Bolsonaro acusa Maia de conduzir país ao caos e sugere que deputado quer retirá-lo do cargo

16/04/2020 21h53

Por Ricardo Brito

BRASÍLIA (Reuters) - O presidente Jair Bolsonaro acusou nesta quinta-feira à noite o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), de estar conduzindo o país ao "caos", disse que querem matar "a galinha dos ovos de ouro", numa referência ao caixa do governo federal, e sugeriu que há interesse do deputado em retirá-lo do cargo.

Em uma contundente entrevista dada à Rede CNN, ao fim do dia que trocou o ministro da Saúde, Bolsonaro disse que Maia defende uma proposta de socorro aos Estados na qual a conta toda cai em cima do Poder Executivo, que não tem condições, segundo ele, de aguentar todo custo.

O presidente disse que vai atender aos governadores, mas disse que é preciso que haja contrapartida. "Se não, nós vamos matar a galinha dos ovos de ouro", afirmou, acrescentando que assim o Brasil "vai quebrar" e ficar em situação igual à da Venezuela.

Ao atacar o comportamento do presidente da Câmara, Bolsonaro disse que tem coragem para falar o que disse e que não se preocupa com a popularidade, destacando que 2022, é outra história.

O presidente afirmou lamentar a posição adotada por Rodrigo Maia, que, na sua opinião, resolveu assumir o papel do Executivo. "Ele tem que me respeitar como chefe do Executivo", disse.

Para Bolsonaro, Maia não pode agir dessa maneira, jogando os governadores contra ele. Disse que o presidente da Câmara resolveu não conversar com mais ninguém, que o ministro da Economia, Paulo Guedes, não tem mais contato com ele, que se julga "o dono da pauta".

"Ele quer atacar o governo federal enfiando a faca no governo federal para resolver os problemas de outro lado", disse. "Parece que a intenção é me tirar do governo", insinuou.

"Ele está conduzindo o Brasil para o caos. Qual a intenção? Esculhambar a economia para que eles possam vir em 2022", questionou Bolsonaro, ao classificar de "escandalosas" as medidas que estão sendo aprovadas.

Pouco depois, o presidente da Câmara também deu uma entrevista para a CNN na qual disse que não responderia aos ataques de Bolsonaro, embora tenha mandado uma série de recados.

Para Maia, Bolsonaro adota a velha tática de trocar de assunto, destacando que o povo está assustado porque "perdeu" Luiz Henrique Mandetta, que tinha amplo apoio popular, como ministro da Saúde, demitido nesta quinta por Bolsonaro.

O presidente da Câmara disse que, da parte dele, não há nenhuma intenção dele e da Câmara de prejudicar ou enfrentar o governo.

"O presidente não vai ter de mim ataques", disse. "Ele pode jogar pedras e o parlamento vai jogar flores."

A Câmara aprovou na segunda-feira um projeto de compensação a Estados e municípios, um "seguro-receita", pela queda na arrecadação decorrente da crise do coronavírus.

A proposta, que segundo Maia tem impacto de 80 bilhões de reais, prevê que a União compense as perdas de arrecadação de Estados e municípios de ICMS e ISS.

    Mas, para a equipe econômica, o projeto patrocinado por Maia é encarado como uma bomba fiscal. Isso porque o cálculo do presidente da Câmara levou em conta uma perda de arrecadação de 30% em seis meses, mas técnicos defendem que é impossível calcular neste momento o que vai acontecer, razão pela qual o projeto foi considerado um cheque em branco.

    Maia tem rebatido os números do governo, afirma que há distorções nos cálculos e acusa a equipe econômica de computar valores que não estão previstos no projeto.

    Já enviada para o Senado, a proposta foi anexada a outra matéria, de autoria do senador Antonio Anastasia (PSD-MG), movimento que interessa ao governo e deixa com os senadores a tarefa de dar a palavra final sobre o tema.

Maia disse que esse movimento não contribui para o equilíbrio da relação entre as duas Casas e alertou que poderia criar um impasse.

Na entrevista à CNN, o presidente da Câmara destacou que é preciso garantir a receita de Estados e municípios porque eles terão "queda abrupta" de recursos devido à paralisação de boa parte das atividades econômicas como forma e frear a disseminação do coronavírus.

Este seria um dos pontos que incomodam Bolsonaro, que é contra a paralisação e defende que os Estados retomem a atividade com a justificativa de preservar os empregos

Maia rebateu os ataques, afirmando que propostas votadas como o auxílio aos informais e a PEC do orçamento de guerra foram discutidas com responsabilidade. Citou ainda seu esforço para garantir a votação da medida provisória do contrato verde e amarelo, que não está relacionada ao coronavírus, mas era importante na estratégia do governo para criação de empregos.

(Reportagem adicional de Maria Carolina Marcello)