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Após apostar futuro em acordo com Boeing, Embraer busca um indefinido plano B

27/04/2020 13h10

Por Marcelo Rochabrun e Tim Hepher e Rodrigo Viga Gaier

SÃO PAULO/PARIS (Reuters) - A Embraer foi lançada em um futuro incerto sem um plano B imediato, mas não descartou pedir um resgate depois que a Boeing cancelou o acordo de 4,2 bilhões de dólares pela sua divisão de aviação comercial em meio à crise do coronavírus.

O presidente-executivo da empresa, no cargo há ano e com pouca experiência no setor, procurou se reunir com executivos depois que o conselho realizou reuniões noturnas para revisar o colapso dos planos e tentar sobreviver ao novo cenário do setor.

"Nossa história é cheia de momentos difíceis e superamos todos eles", disse Francisco Gomes Neto aos 20 mil funcionários da Embraer antes de fazer sinal de positivo.

A Embraer enfrenta uma crise histórica, tendo ficado isolada após fracasso do negócio - dois anos depois de a Airbus absorver o principal rival da brasileira, o A220, do Canadá.

"Para a Embraer, isso pode ser muito prejudicial", disse Richard Aboulafia, consultor do Teal Group, lembrando que a empresa é a única grande fabricante de jatos independente.

"É difícil pressionar seus fornecedores quando o volume que você está oferecendo é uma fração do da concorrência".

O objetivo imediato da Embraer é tranquilizar os investidores. A empresa prometeu uma economia de custos e afirmou ter liquidez sólida.

A Embraer também descartou os argumentos antes usados para convencer sindicatos e reguladores a apoiar o acordo, dizendo que ela poderia sobreviver sem a Boeing, em vez de afirmar que o acordo seria sua "salvação".

A empresa outrora estatal não pediu um resgate, mas diz que está aberta a fontes de financiamento "complementares".

A Embraer "precisará de forte apoio do governo para recuperar as despesas (ligada ao fracasso do negócio) e se recuperar da crise econômica causada pelo coronavírus", disse Aurelio Valporto, que preside o grupo de acionistas minoritários Abradin e se opõe ao acordo.

A Embraer tinha dois argumentos principais para convencer investidores.

Primeiro, pagaria 1,6 bilhão de dólares em dividendos pela venda. Segundo, receberia dinheiro suficiente para quitar dívidas e rejuvenescer as unidades de defesa e jatos executivos. Como uma empresa reformulada, a Embraer teria um novo começo.

Os executivos também esperavam que o marketing da Boeing fosse uma solução milagrosa para o braço comercial, que teria 80% de participação da empresa norte-americana.

Em vez disso, a Embraer agora tem um comitê de crise que se reúne diariamente para tentar resolver problemas que não têm um final visível.

Segundo analistas, isso não poderia acontecer em um momento pior.

As vendas do seu E2 estão paradas. A demanda geral de jatos desapareceu devido ao coronavírus. Agora, a queda nos preços do petróleo enfraqueceu ainda mais os novos jatos, vendidos principalmente em termos de eficiência de combustível.

CHINA É A SALVAÇÃO

Também foram levantadas questões sobre quanto tempo o presidente-executivo da Embraer, John Slattery, que agressivamente promoveu o jato E2 enquanto fazia lobby por aprovação regulatória, seguirá na empresa sem o acordo. Ele não respondeu a um pedido para comentar.

Em um post no Twitter, ele disse: "Apesar desse período incerto em nosso setor, estou confiante de que a Embraer emergirá mais forte".

Do lado positivo, os analistas esperam que a demanda por jatos pequenos, como o A220 ou o E2, liderem qualquer recuperação futura.

O cancelamento do negócio também pode desencadear uma batalha jurídica perturbadora.

No Brasil, os alarmes tocaram quando os advogados da Boeing começaram a interrogar colegas brasileiros sobre documentos nas últimas semanas.

Fontes do setor disseram que a Boeing precisava de espaço para operar, pois busca apoio do governo dos EUA para a indústria aeroespacial do país. Com a expectativa de que a crise ressuscite barreiras econômicas, a empresa se viu em um dilema sobre a aquisição de milhares de engenheiros brasileiros enquanto traçava planos para demitir sua própria equipe.

"Você não pode ir ao Congresso e pedir apoio e gastar esse dinheiro em uma aquisição", disse uma fonte.

A Embraer diz que a Boeing anulou o acordo por causa de detalhes técnicos e de seus próprios problemas financeiros. A Boeing diz que desistiu apenas porque a Embraer não cumpriu as condições. Mas a disputa em si pode ser prejudicial.

Isso deixa opções limitadas para a Embraer, embora nenhuma tenha sido discutida a sério como plano B.

Uma potencial carta na manga é a China, que quase venceu a Airbus pelo programa A220 e continua à procura de maneiras de acelerar suas próprias ambições aeroespaciais.

"Do ponto de vista estratégico, é uma opção, mas pode ser politicamente problemático", disse Lundquist.

Membros do círculo interno do presidente Jair Bolsonaro atacaram repetidamente a China por causa do coronavírus.

O fracasso também gera incerteza para os funcionários da Embraer, muitos dos quais eram esperados para trabalhar em futuros programas da Boeing.

A Embraer já havia dado licença a mais de 90% dos empregados de sua principal fábrica no Brasil devido à crise.

Também gastou 30 milhões de dólares em uma nova sede, enquanto se preparava para vender a unidade comercial.

"Nossas equipes estavam trabalhando juntas, decidindo as coisas. Havia milhares de pessoas trabalhando em decisões conjuntas, tudo isso para terminar assim", disse uma pessoa próxima às discussões.

(Por de Marcelo Rochabrun, Tim Hepher e Rodrigo Viga Gaier; Reportagem adicional de Tatiana Bautzer)