Bolsonaro indica estratégia de defesa ao negar ter falado palavras Polícia Federal e superintedência em reunião
Por Ricardo Brito
BRASÍLIA (Reuters) - O presidente Jair Bolsonaro indicou nesta terça-feira ter traçado uma estratégia para tentar se desvincular das acusações de Sergio Moro, após a exibição do vídeo de reunião ministerial na qual, segundo o ex-ministro, foi cobrada a troca do superintendente da Polícia Federal no Rio de Janeiro, sob ameaça de sua demissão assim como a do então diretor-geral da PF, Maurício Valeixo.
Em duas entrevistas, após a transmissão do vídeo a envolvidos no caso, Bolsonaro disse que em nenhum momento falou em Superintendência nem em Polícia Federal na reunião ministerial do dia 22, a dois dias antes do pedido de demissão de Moro.
"No vídeo todo não tem a palavra 'Polícia Federal', não tem a palavra 'Superintendência'", disse Bolsonaro, na mais recente entrevista no Palácio da Alvorada, completando que falou em "segurança" no encontro do mês passado.
O presidente afirmou que não teria problema em divulgar a parte do vídeo da reunião referente ao inquérito.
O vídeo é considerado como uma das mais importantes provas para a solução do inquérito aberto pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Celso de Mello para apurar as declarações de Moro de que o presidente tentou interferir politicamente no comando da PF.
Mesmo antes da apresentação do vídeo a envolvidos no inquérito, nesta manhã, Moro e pessoa próximas já sabiam que o presidente poderia usar esse estratagema para tentar desqualificar as acusações do ex-ministro, segundo uma fonte que acompanha diretamente o caso.
Essa fonte confirmou que o presidente não fala expressamente o nome da PF no vídeo, mas, segundo a fonte, fica evidente a referência indireta à Superintendência da corporação no Rio. Cita ainda que o presidente falou um palavrão para dizer que não deixará que sua família seja atingida, destacou.
Segundo duas fontes, Bolsonaro se referiu à perseguição a seus familiares como justificativa para a troca do então superintendente da Polícia Federal no Rio de Janeiro e afirmou que, se ela não fosse efetivada, trocaria o diretor-geral da PF e o próprio ministro da Justiça e Segurança Pública, cargo então ocupado por Sergio Moro.
Outra questão que pode fragilizar a estratégia do presidente é que a segurança dele e de familiares é feita pelo Gabinete de Segurança Institucional (GSI), comandada pelo ministro Augusto Heleno, e não pela PF.
Heleno e os ministros da Casa Civil, Walter Braga Netto, e da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos, foram citados por Moro em depoimento como autoridades que tiveram ciência da decisão de Bolsonaro de demitir Valeixo e atuaram para demover o então ministro a sair do governo. Os três foram depor no inquérito nesta quarta.
A Advocacia-Geral da União (AGU) tentou inicialmente não repassar o vídeo sob a alegação de que o encontro registrou também temas sensíveis e alheios à investigação. Mas, após três manifestações, recuou e entregou a peça na íntegra.
Para Moro, o conteúdo do vídeo confirma o depoimento que deu em relação à interferência na Polícia Federal, motivo pelo qual deixou o governo.
"Defendo, respeitosamente, a divulgação do vídeo, preferencialmente na íntegra, para que os fatos sejam brevemente confirmados. As declarações feitas na reunião foram evidenciadas, também, pelos fatos posteriores: demissão, sem motivo, do diretor-geral da PF, troca do superintendente da PF no RJ, além da minha própria exoneração por não concordar com as mudanças", disse Moro, em nota.
Essa decisão sobre a liberação do vídeo está nas mãos do ministro do STF Celso de Mello que, por ora, tem deixado a gravação sob sigilo, permitindo apenas as partes terem acesso.
Procuradas, a AGU e a Secretaria de Imprensa da Presidência disseram que não vão se manifestar sobre o vídeo.
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