ENTREVISTA-Após "boom" de 45 dias, Camil vê demanda normal, olha ano com cautela
Por Roberto Samora
SÃO PAULO (Reuters) - A Camil Alimentos, uma das maiores companhias do setor na América do Sul, colherá bons resultados em seu primeiro trimestre (março a maio), com um aumento da demanda no varejo por produtos como arroz e feijão que durou cerca de 45 dias desde o início da crise do coronavírus, quando a população ampliou compras temendo escassez nos supermercados.
Mas agora a demanda se normalizou em momento em que consumidores voltaram a realizar compras sem preocupações de falta de alimentos básicos, disse à Reuters o diretor financeiro e de relações com investidores da Camil, Flávio Vargas.
No entanto, essa relativa normalidade nas vendas, registrada também após um "boom" temporário no Chile, Peru e Uruguai --onde a empresa possui unidades fabris além do Brasil--, não permite que a companhia baixe sua guarda, pois a crise econômica decorrente do coronavírus pode afetar os negócios mais à frente.
"Esse movimento fora do padrão durou 45 dias (a partir da segunda quinzena de março), e agora começamos a ver um movimento de mais estabilidade na demanda, aquele pavor que o consumidor teve deixou de acontecer, isso causa uma estabilidade na demanda", afirmou Vargas.
Para o ano, a empresa, que tem 12 unidades fabris no Brasil e outras 12 no exterior, vê a demanda por alimentos com "viés positivo", mas evita fazer previsões porque a companhia também tem clareza que o nível de desemprego será "grande, com perda de renda significativa" devido à crise da Covid-19.
Além de arroz e feijão, a Camil também é dona de marcas como União (açúcar) e Coqueiro (pescados).
"O que é mais difícil fazer é previsão para o resto do ano, temos procurado ser bastante cautelosos, sabemos que depois do vendaval vem a bonança, mas depois da bonança vem o vendaval, mas o primeiro trimestre é positivo", destacou, lembrando que o primeiro trimestre da companhia vai de março a maio, período marcado pelo início do isolamento social contra o coronavírus.
A empresa também sofreu com o aumento das matérias-primas, com a alta do dólar frente ao real em meio à crise, e conseguiu realizar repasses de custos, algo importante em um negócio de margens estreitas, disse o diretor, acrescentando que, ainda assim, o arroz brasileiro está mais barato que no exterior.
"Como companhia, temos presunção de crescer, queremos crescer, mas não vemos força no varejo demandando quantidade extraordinária de produtos, agora estamos vendo uma demanda normal."
A empresa, que registrou lucro líquido de cerca de 240 milhões de reais em 2019, faturando 5,4 bilhões de reais, espera se defender da crise com seu portfólio "completo", que inclui também produtos de marca, semi-prontos, com maior valor agregado.
Diante das incertezas econômicas, de forma preventiva, a Camil garantiu sua necessidade financeira para o ano de 2020 com captação de empréstimos 1,3 bilhão de reais em março e abril, incluindo os recursos necessários para concretizar a aquisição dos negócios de Pet Food no Chile.
CASOS DE COVID-19
Apesar de todos os cuidados, a Camil Alimentos havia registrado, até quarta-feira, 23 funcionários infectados com o coronavírus, entre os mais de 4 mil colaboradores em todas as áreas e operações do Brasil --a grande maioria já retornou aos seus postos de trabalho.
Os casos da Covid, entretanto, não resultaram em paradas de produção, embora em algumas localidades o ritmo tenha sido reduzido para a empresa conseguir garantir uma distância mínima entre os trabalhadores da Camil, que tomou também uma série de medidas preventivas recomendadas pelas autoridades.
"Quando começou a crise, tínhamos preocupação grande, três pilares: pessoas, operações e financeiro, e procuramos proteger todas elas", resumiu Vargas.
Dois terços do negócio da Camil está no Brasil, com arroz e feijão representando 42% do volume de vendas no país, seguido por açúcar (25%), pescados (2%).
No Chile e Peru, o forte da operação é arroz, assim como no Uruguai, cuja plataforma é voltada para exportação.
(Por Roberto Samora)
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