Parlamentares avaliam como grave saída de Teich e creditam demissão à postura técnica
BRASÍLIA (Reuters) - Nelson Teich pediu demissão do cargo de ministro da Saúde nesta sexta-feira, menos de um mês após assumir o posto, e congressistas reagiram apontando que o médico não conseguiu assumir de fato o comando da pasta, já que preferiu adotar postura mais técnica e era "desautorizado" pelo presidente Jair Bolsonaro.
Teich vinha sendo cobrado pelo presidente Jair Bolsonaro a modificar o protocolo do ministério para ampliar a recomendação do uso da cloroquina no tratamento à Covid-19, apesar de o ministro ter afirmado que não considera o remédio uma solução e de ter alertado para os efeitos colaterais.
Confira, a seguir, reações de parlamentares:
DEPUTADO EFRAIM FILHO (PB), líder do DEM na Câmara:
"Teich parte sem deixar saudades. A impressão é de que ele nunca assumiu realmente... foi praticamente um mês perdido de Ministério da Saúde no ponto mais crítico da pandemia."
DEPUTADO RUBENS BUENO (PR), vice-presidente nacional do Cidadania:
"Temos uma pessoa desequilibrada na Presidência. Precisamos urgentemente de saúde mental. Não dá, para no meio de uma pandemia, trocarmos dois ministros que estavam fazendo um bom trabalho em virtude de caprichos de um presidente. É preciso sapiciência neste momento."
DEPUTADA FERNANDA MELCHIONNA (RS), líder do PSOL na Câmara:
"É muito grave a demissão do ministro Teich no meio desta crise, é o segundo ministro que sai do ministério ou é 'saído' diante de uma marcha obscurantista do Bolsonaro. O tema de fundo é que o Bolsonaro atrapalha as medidas sanitárias e tenta a todo momento que o Ministério da Saúde não cumpra as medidas essenciais para proteger a vida do nosso povo. É uma dança de cadeiras que, na verdade, retrata que o Bolsonaro busca um ministro que seja tutelado pela sua marcha anticiência, obscurantista e de propagação de fake news."
DEPUTADO MARCELO RAMOS (PL-AM), vice-líder de bloco partidário:
"Diante das imposições do presidente, só topará ser ministro da saúde quem não tiver compromisso com a ciência e nem com medicina. O pedido de demissão do ministro demonstrou que ele tem."
SENDORA ELIZIANE GAMA(MA), líder do Cidadania no Senado:
"A saída do ministro Nelson Teich, menos de um mês depois de ser nomeado, revela a gravidade da crise no governo. Foi forçado a sair porque não concordou com a ideia irresponsável de defender o uso deliberado da cloroquina e do fim do isolamento social. É um governo contra a ciência."
DEPUTADO CARLOS SAMPAIO (SP), líder do PSDB na Câmara:
"É lamentável que, no momento em que as instituições estão buscando estreitar o diálogo para enfrentar a pandemia... e em que são registradas mais de 800 mortes em 24 horas, o país se depare com a segunda troca no Ministério da Saúde, em um mês."
"O que se espera é que o próximo ministro assuma suas funções com esse espírito de união, que começou a ser desenhado no dia de ontem, e que faça parte da construção desse grande entendimento, essencial para o fortalecimento do Brasil nesse momento de grave crise que vivemos."
DEPUTADO PAULINHO DA FORÇA (SP), presidente nacional do Solidariedade:
"Saiu quem não tinha entrado."
"Duvido que alguém consiga fazer o presidente aprender com a ciência e perceber que reduzir o isolamento social é colocar mais brasileiros na fila de espera por uma vaga na UTI. O Brasil precisa de liderança, mas vai ser difícil encontrar um ministro que seja capaz de lidar, ao mesmo tempo, com a crise sanitária e com os impulsos de Jair Bolsonaro."
(Reportagem de Maria Carolina Marcello)
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