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Casa dos Ventos fecha venda de energia à Tivit e avança em projeto eólico de R$2,4 bi

21/05/2020 16h50

Por Luciano Costa

SÃO PAULO (Reuters) - A desenvolvedora de projetos de geração renovável Casa dos Ventos fechou um contrato privado de longo prazo para venda de energia à empresa de tecnologia Tivit, em negócio que ajuda a tirar do papel um complexo eólico no Rio Grande do Norte orçado em 2,4 bilhões de reais.

As obras da usina que atenderá o contrato começaram em abril, e a Casa dos Ventos espera assinar nas próximas semanas os últimos acordos envolvendo a produção futura da primeira fase do empreendimento, para o qual já tem planos de expansão, disse à Reuters o diretor de Novos Negócios da empresa, Lucas Araripe.

Transações envolvendo contratos privados de energia renovável no chamado mercado livre de eletricidade, no qual grandes consumidores como indústrias negociam diretamente seu suprimento, têm se tornado tendência no mundo e no Brasil, em meio à busca de empresas por investimentos em sustentabilidade e à constante queda dos custos de energia eólica e solar.

Esses negócios, no entanto, devem enfrentar alguns desafios neste ano devido à pandemia de coronavírus, que tem reduzido significativamente a demanda por eletricidade, principalmente no mercado livre, onde operam clientes industriais e comerciais, afetados por medidas de isolamento adotadas contra a disseminação da doença.

"Para essa primeira fase do parque, são negociações que já vêm desde o ano passado, que já estavam bem avançadas e estamos concluindo. Para o futuro, vamos sentir um pouco mais agora... mas a gente vê isso como um problema conjuntural", disse Araripe.

"A perspectiva é que a energia eólica continue sendo atraente", acrescentou ele, ao apontar que os contratos finais de venda da produção da primeira etapa do parque eólico devem ser assinados nas próximas semanas.

A usina Rio do Vento terá 504 megawatts em capacidade, sendo que o comissionamento das máquinas está previsto para o segundo semestre de 2021.

O fornecimento aos clientes que compraram energia do parque começará a partir de 2022.

A Tivit fechou um contrato de mais de 10 anos para atender a demanda de seus 30 escritórios e data centers no Brasil, disse Araripe, sem mencionar valores da transação.

Antes, a Casa dos Ventos já havia assinado contrato também com a Vulcabras Azaleia, no valor de 150 milhões de reais, que prevê fornecimento de 7 megawatts por 13 anos.

A operação com a Tivit prevê a possibilidade de a empresa exercer opção de compra de uma fatia no parque eólico após a conclusão das obras. Nesse caso, a companhia passaria ser considerada "autoprodutora" de energia, o que reduziria seus custos com encargos, de acordo com a regulação.

"Acreditamos que essa é uma maneira de dar acesso a energia eólica barata para os clientes, os grandes e agora os de médio porte", disse Araripe.

Ele afirmou que cerca de 65% dos recursos para a construção do parque eólico no Rio Grande do Norte serão assegurados junto ao Banco do Nordeste (BNB) e ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). A usina usará máquinas da dinamarquesa Vestas.

Antes, em janeiro do ano passado, a Casa dos Ventos havia fechado um acordo semelhante envolvendo energia limpa e um parque eólico também com a mineradora Vale. Pela transação, a Vale comprou a produção futura da usina Folha Larga Sul e terá ainda a opção de adquirir o controle do projeto.

SEGUNDA FASE

A Casa dos Ventos prevê começar agora negociações de contratos que poderiam dobrar a capacidade do complexo no Rio Grande do Norte, para 1 gigawatt, disse o diretor de Novos Negócios.

Esses acordos para uma segunda fase do empreendimento devem prever a entrega da energia a partir de 2022 ou 2023, o que ajudará a reduzir riscos relacionados ao coronavírus, acrescentou Araripe.

"Estamos falando em um horizonte de daqui a três anos, e são contratos de longo prazo. A gente imagina que deve ter adesão", afirmou o executivo, destacando que a empresa ainda não sofreu impactos relevantes de pedidos de renegociação de contratos já fechados anteriormente.

"Escolhemos contrapartes fortes. E nos contratos temos instrumentos, garantias, seja fiança, seja corporativa, que nos protegem... até agora não temos visto essa motivação das empresas para alterações relevantes de cláusulas", disse.

Em meio à forte queda de consumo industrial e comercial devido ao agravamento da pandemia de Covid-19 no Brasil, diversas comercializadoras de energia têm relatado pedidos de clientes para renegociar ou reduzir contratos.

Essas renegociações devem gerar impactos de cerca de 5 bilhões de reais para empresas de comercialização em 2020, segundo projeção da Associação Brasileira de Comercializadores de Energia (Abraceel).