Colombianos acampados em aeroporto de Guarulhos aguardam ajuda para deixar o Brasil
Por Leonardo Benassatto e Gabriel Araújo
GUARULHOS (Reuters) - Colombianos que querem voltar para casa aguardam, acampados no aeroporto internacional de Guarulhos, voos para seu país, sem perspectiva de uma saída imediata e em meio a uma escalada da disseminação do novo coronavírus no Brasil.
No terminal 2 do aeroporto, cerca de 200 pessoas, muitas delas crianças, se acomodam nas cadeiras e no chão do terminal, onde estão desde a semana passada. No banheiro, uma pequena mangueira passou a ser o chuveiro para banhos.
Alguns deles alegam ser turistas que estavam no Brasil quando a disseminação do coronavírus se agravou e levou ao cancelamento dos voos de volta; outros, imigrantes que ficaram sem recursos no país em meio à pandemia. Em comum, apenas um desejo: voltar para a Colômbia.
O turista Gustavo Rollae indica que são quase 200 os compatriotas que ocupam três alas do terminal. "Precisamos voltar para casa", disse ele, vestido com uma camisa da seleção de seu país e checando o celular periodicamente.
A alimentação ocorre por meio de marmitas e doações. Parte deles se reveza na preparação dos alimentos em uma cozinha improvisada na área externa do aeroporto, a cerca de 1 quilômetro das alas ocupadas – um grupo faz a comida do dia, outro prepara a janta.
"O que acontece é que, há mais ou menos 15 dias, compatriotas colombianos estão vindo ao aeroporto porque não recebem uma resposta da Embaixada (da Colômbia) sobre os voos humanitários. Houve um voo humanitário há pouco tempo, mas não foi possível embarcar todas as pessoas", contou o turista Daniel Gallo, logo após tomar o banho improvisado.
Segundo o Consulado da Colômbia em São Paulo, entre 26 de abril e 14 de maio foram organizados três voos, que levaram de volta ao país 346 pessoas. Os custos das viagens foram pagos pelos passageiros.
"Neste momento não temos a confirmação da realização de outro possível voo", disse o consulado em comunicado divulgado no sábado, descartando a possibilidade de que haja um voo sem custos para aqueles que aguardam no aeroporto.
Pela contagem da missão diplomática, o grupo – que começou com 21 pessoas – era formado por 180 cidadãos na última sexta-feira. O consulado afirma, porém, que a maior parte deles possui residência na capital paulista e não precisa pernoitar no aeroporto, limitando a cerca de 30 os que passam as noites no local e afirmando que foram oferecidas a eles vagas em albergues municipais de São Paulo.
"(Eles estão) solicitando o retorno ao país em voo humanitário sem custo… Pela normatividade vigente, essa solicitação não é possível… Os compatriotas se recusaram a ser transportados para os albergues dispostos para sua acolhida e manifestaram que a única solução aceitável é que sejam retornados à Colômbia de forma gratuita", completou o consulado.
Em meio a lágrimas, pouco depois de higienizar algumas cadeiras com um spray de álcool recebido pelo grupo, Stefany Carvallido disse ter medo de que a situação chegue ao limite de não haver alimentação para as pessoas instaladas no aeroporto.
"Nessa situação, nós queremos estar com nossas famílias. Minha filha quer estar com sua família, também. É muito, muito difícil… Como mães, também pensamos nos nossos filhos, de estar aqui nesse confinamento", lamentou.
A GRU Airport, que administra o aeroporto, afirmou em nota que acompanha a situação e já efetuou os devidos contatos com as autoridades e o Consulado da Colômbia.
O Ministério Público Federal (MPF) informou, em comunicado neste domingo, que foi convocada uma reunião virtual de emergência na quarta-feira, para discutir a situação de aproximadamente 180 cidadãos colombianos que se alojaram no Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos (SP).
"O próprio MPF abriu procedimento para acompanhar a situação desse grupo de pessoas que não consegue voltar para seu país de origem. São imigrantes que, devido à pandemia, perderam suas fontes de renda ou estão preocupados com o avanço da Covid-19 no Brasil, além de turistas cujos voos foram cancelados", afirmou o MPF.
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