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Preço do minério deve cair no 2ª semestre com maior produção da Vale, diz CFO

Luciano Siani sinalizou que a empresa estará em posição de ofertar maior volume - Getty Images/iStockphoto
Luciano Siani sinalizou que a empresa estará em posição de ofertar maior volume Imagem: Getty Images/iStockphoto

Nayara Figueiredo

Da Reuters, em São Paulo

03/07/2020 15h06

Os preços internacionais do minério de ferro tendem a recuar no segundo semestre, à medida que a mineradora brasileira Vale pretende retomar parte de seu potencial produtivo, disse hoje o CFO da companhia, Luciano Siani.

Após um primeiro trimestre fraco, no qual a companhia teve de reduzir seu guidance para 310-330 milhões de toneladas em 2020, em meio a atrasos na retomada de produção de minas paradas após Brumadinho (MG) e impactos do coronavírus, o executivo sinalizou que a empresa estará em posição de ofertar maior volume.

Para o segundo semestre, o CFO disse que a meta da Vale é acelerar o ritmo de produção, em relação ao registrado nos seis primeiros meses de 2020, e atingir o objetivo anual, que já considera um provisionamento de perdas associadas à pandemia em 2020 de até 15 milhões de toneladas.

"(Com isso), os preços do minério de ferro devem cair no segundo semestre (...), mas é melhor a companhia produzir com sua potencialidade em um mercado menor (de valor) do que ficar (com preços altos) na situação de restrição (de produção) e favorecendo seus concorrentes", explicou ele em live promovida pela XP Investimentos.

Durante a pandemia do novo coronavírus, a Vale viu algumas de suas minas do Complexo de Itabira (MG) serem interditadas judicialmente devido ao surto da doença entre funcionários, mas as operações lá já foram retomadas.

Anteriormente, a Vale disse à Reuters que está "enfrentando o desafio da Covid-19, atuando em suas operações com um contingente mínimo de pessoas de forma a manter apenas as atividades com segurança". A empresa chegou a informar que tinha cerca de 60% de trabalhadores nas operações.

"A companhia quer retomar a produção, mas retomar de maneira segura", afirmou o CFO.

Siani admitiu que a alta nas cotações externas do minério de ferro registrada nos últimos meses foi causada, inclusive, pelo cenário desafiador da companhia, tradicionalmente a maior produtor global de minério de ferro, que em 2019 perdeu o posto para a Rio Tinto, como consequência de Brumadinho.

"A razão do preço elevado no minério de ferro foi a própria incapacidade da Vale de trazer produção para o mercado", enfatizou.

No início de junho, o minério de ferro no mercado físico da China atingiu o maior nível em quase um ano, em meio a preocupações com Itabira, a commodity perdeu um pouco da força recentemente, mas ainda está sendo negociada acima de 100 dólares por tonelada.

Dividendos

Na ponta da demanda, a percepção do executivo é de que a China, até o momento, teve uma recuperação muito rápida depois do início da pandemia do Covid-19, o que favorece o consumo de produtos como o aço.

"Se a geração de caixa se mantiver forte e a companhia voltar com a produção maior, a companhia poderá voltar a pagar dividendos", estimou Siani.

Ele afirmou que a Vale encontra-se apta para retomar a política de pagamento de dividendos a investidores e, para tanto, depende apenas da redução de incertezas relacionadas à pandemia do coronavírus.

Segundo o executivo, as incertezas estão focadas, principalmente, no comportamento da China nos próximos meses, destino da maior parte das exportações da Vale.

A política de dividendos foi suspensa após a queda da barragem de rejeitos de Brumadinho (MG), em 2019.

"Dado o progresso nas indenizações, o progresso na reparação ambiental, uma série de melhorias por meio de diversos termos de ajustamento de conduta e a capacidade financeira para fazer frente às expectativas em relação a Brumadinho, a companhia entende que, desse ponto de vista, não há mais impedimento para retomar distribuição de dividendos."

Siani destacou que a Vale já indenizou mais de 7 mil pessoas, com pagamentos que alcançaram cerca de 3 bilhões de reais aos indivíduos afetados pela tragédia.

"A Vale é uma companhia que precisa olhar para trás e corrigir (mas) continua olhando para o futuro", disse.

O CFO afirmou ainda que, atualmente, a mineradora é negociada "muito aquém" de que deveria, com base em sua capacidade de geração de riquezas.

"A Vale tem uma valorização de mercado que é penalizada em função dessa percepção de risco e práticas que precisam evoluir... Estamos avançando nessas práticas (porque) podemos criar valor para a companhia", disse.

Segundo Siani, às vésperas do rompimento da barragem de Brumadinho, o valor de mercado da Vale estava cerca de 5 bilhões de dólares abaixo da Rio Tinto, sua principal concorrente.

Essa distância se ampliou para 30 bilhões de dólares depois de Brumadinho, comparou o CFO, e depois se ampliou novamente para 40 bilhões de dólares por dificuldade de produzir em meio à pandemia.

Enquanto monitora as incertezas associadas à crise do coronavírus, Siani lembrou que a mineradora brasileira reforçou seu caixa com um empréstimo de 5 bilhões de dólares, não pretende se endividar mais, e mantém o investimento médio de 4 bilhões de dólares, que é inferior ao registrado no passado mais distante, mas comporta a expansão de diversos projetos.

(Reportagem adicional de Roberto Samora)