Bolsonaro critica vacina contra Covid "que um governador resolveu acertar com outro país"
Por Pedro Fonseca
(Reuters) - O presidente Jair Bolsonaro fez uma crítica velada nesta quinta-feira ao acordo firmado pelo governo de São Paulo com a empresa chinesa Sinovac Biotech para desenvolvimento de uma possível vacina contra a Covid-19, afirmando que o acordo assinado por um governador "com outro país" não envolveria transferência de tecnologia.
Em cerimônia de assinatura de medida provisória que abre crédito de 1,9 bilhão de reais para assegurar a compra de 100 milhões de doses e posterior produção local da possível vacina contra a Covid-19 desenvolvida pelo laboratório britânico AstraZeneca e a Universidade de Oxford, o presidente afirmou que a parceria firmada pelo Ministério da Saúde é diferente "daquela outra".
"Talvez em dezembro, janeiro, exista a possibilidade da vacina, e daí esse problema estará vencido poucas semanas depois. E o que é mais importante nessa vacina, diferente daquela outra que um governador resolveu acertar com outro país, vem a tecnologia pra nós", disse o presidente em discurso na cerimônia, que foi transmitida ao vivo pela TV Brasil.
O acordo firmado pelo Instituto Butantan, ligado ao governo de São Paulo, com a Sinovac prevê, no entanto, transferência de tecnologia para a produção de vacina localmente, assim como o acordo firmado pelo Ministério da Saúde e a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) com a AstraZeneca.
Em ambos os casos, as autoridades anunciaram que pretendem iniciar a produção local no primeiro semestre de 2021. No entanto, especialistas ouvidos pela Reuters colocaram em dúvida esse prazo. [nL2N2F105E]
Bolsonaro já havia ironizado no fim do mês passado a vacina "daquele outro país", sem dizer diretamente a qual nação se referia. "Fala-se muito da vacina da Covid-19. Nós entramos naquele consórcio lá de Oxford. Pelo que tudo indica, vai dar certo e 100 milhões de unidades chegarão para nós. Não é daquele outro país não, tá ok, pessoal? É da Oxford aí", disse.
Em resposta à declaração de julho, o governador paulista, João Doria (PSDB), disse que não iria politizar a busca por uma vacina. Rival do presidente, Doria é visto como possível adversário de Bolsonaro na eleição presidencial de 2022.
O memorando de entendimento firmado pelo governo brasileiro com a AstraZeneca prevê a compra de 30 milhões de doses da vacina, com entrega em dezembro deste ano e janeiro do ano que vem, e a possibilidade de aquisição de mais 70 milhões se a vacina tiver eficácia e segurança comprovadas.
Além disso, o acordo prevê a transferência de uma tecnologia desenvolvida pela Universidade de Oxford para produção local na Fiocruz.
Do total de 1,9 bilhão de reais do orçamento previsto pela medida provisória, 522,1 milhões serão repassados para Bio-Manguinhos, unidade da Fiocruz produtora de imunobiológicos, com o objetivo de ampliar a capacidade nacional de produção de vacinas e tecnologia disponível para a proteção da população.
Enquanto isso, 1,3 bilhão de reais será usado para despesas referentes a pagamentos previstos no contrato de encomenda tecnológica. Os valores também contemplam o processo de finalização da vacina.
Apesar de ter optado pela vacina de Oxford/AstraZeneca como principal aposta, o Ministério da Saúde já reconheceu que está acompanhando os diversos estudos para desenvolvimento de uma vacina pelo mundo e terá interesse em adquirir a primeira que ficar disponível para a população com segurança e eficácia comprovadas, independentemente do acordo já firmado. [nL1N2F72MC]
(Reportagem de Pedro Fonseca, no Rio de Janeiro; Edição de Alexandre Caverni)
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