Dólar fecha em leve alta após cair 1%; incerteza externa pesa
Por José de Castro
SÃO PAULO (Reuters) - O dólar zerou a queda de mais cedo e fechou perto da estabilidade ante o real nesta terça-feira, com investidores recompondo posições na moeda norte-americana diante do menor fôlego de ativos de risco no exterior, em meio à aproximação do prazo final para um acordo nos EUA que abra espaço para estímulos econômicos antes das eleições por lá.
O dólar bateu a mínima do dia, de 5,5484 reais (-1,02%) por volta de 14h30, mesmo momento em que o índice S&P 500 da Bolsa de Nova York oscilava nas máximas do pregão, em alta de 1,5%. O S&P 500 acabou cedendo mais metade desses ganhos e fechou com acréscimo de 0,60%, segundo dados preliminares.
Já o dólar à vista terminou a terça-feira com variação positiva de 0,11%, a 5,6114 reais na venda. Na máxima, alcançada ainda no começo do pregão, a cotação marcou 5,6274 reais (+0,39%).
Veja gráfico intradiário do dólar/real (em tom laranja) e do S&P 500:
"Apertem os cintos, a volatilidade começou", disse Dan Kawa, sócio da TAG Investimentos. "Será assim até, no mínimo, as eleições (nos EUA), podendo se estender", concluiu.
O foco do mercado nesses últimos dias tem se voltado ainda mais para as negociações em torno de um novo pacote de estímulo nos Estados Unidos.
O presidente norte-americano, Donald Trump, fez pressão nesta terça-feira por um pacote abrangente para enfrentamento à Covid-19 e afirmou que aceitaria um acordo em valor superior a 2,2 trilhões de dólares, apesar da oposição a grandes medidas de gastos entre seus colegas republicanos no Senado dos EUA.
Enquanto isso, as tratativas entre a presidente da Câmara dos Deputados, a democrata Nancy Pelosi, e o secretário do Tesouro dos EUA, Steven Mnuchin, aproximavam-se do prazo final desta terça-feira para um acordo de modo que um pacote possa ser aprovado pelo Congresso antes do dia das eleições, em 3 de novembro.
A ansiedade por um desfecho sobre as conversas levou investidores a reduzir as vendas de dólares também no exterior nesta sessão.
Aqui, o mercado segue às voltas com expectativas sobre reformas e ruídos internos no governo.
O ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou nesta terça-feira que esta é uma boa hora para vir para o Brasil, após ressaltar que não haverá abandono ao teto de gastos, e disse achar que não será despedido nos próximos meses.
O real amarga o título de moeda relevante que mais perde ante o dólar neste ano (-28,49%) e que apresenta a maior volatilidade (quase 18% ao ano), diante de uma combinação de incerteza fiscal, impacto econômico da pandemia, juros baixos, saídas de recursos e desmonte de "overhedge".
Na avaliação do Bulltick, que presta serviços bancários e de gestão de recursos, a tendência é que o real continue fraco, mas há expectativa de que as pressões de baixa sobre a moeda arrefeçam.
"A curva de Covid-19 no Brasil começou a cair acentuadamente, mas gastos elevados se tornarão uma preocupação para investidores no longo prazo. No curto prazo, porém, (o Brasil) se beneficiará de uma perspectiva de forma geral melhor para os mercados emergentes", afirmou a instituição em nota.
O canadense Scotiabank avalia que o Banco Central está mais "cauteloso" no que tange à política monetária, depois que a queda da Selic a mínimas recordes ajudou a elevar as pressões sobre o real, uma vez que reduziu a atratividade da moeda brasileira como moeda destino de operações de "carry trade" (arbitragem com taxa de juros).
"Consideramos que uma das razões pelas quais o BC está sendo cauteloso agora --apesar da fraqueza econômica e da inflação contida-- é um medo de que a depreciação de quase 30% do real no acumulado do ano possa levar a uma mudança na direção de um regime de 'elevado pass-through (repasse cambial aos preços)'", afirmou o banco em nota.
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