Dólar à vista se acomoda com alívio sobre PEC; dólar futuro cai 1,5%
Por José de Castro
SÃO PAULO (Reuters) - O dólar à vista se afastou das máximas de quase 5,88 reais e fechou apenas em leve alta nesta terça-feira, enquanto no mercado futuro a cotação caía mais de 1,5%, refletindo algum alívio do mercado com sinalizações de que a PEC Emergencial será encaminhada à Câmara dos Deputados sem flexibilização substancial nos termos para economia fiscal.
O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), afirmou que a ideia do relator da PEC Emergencial, deputado Daniel Freitas (PSL-SC), é manter com pouca ou nenhuma alteração o texto da proposta que veio do Senado.
Lira, assim com Freitas, conversou com o presidente Jair Bolsonaro nesta terça-feira. Bolsonaro disse na noite de segunda que a PEC ideal era a que seria aprovada pela Câmara, o que causou algum ruído num contexto já de pressões de alguns aliados do presidente para poupar profissionais da segurança pública de congelamento de salários, como propõe o texto da PEC já aprovado pelo Senado.
Isso pesou no mercado no fim da tarde de segunda e pegou players já com postura mais defensiva após o ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), anular condenações impostas ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o que permitiria que ele concorresse à eleição presidencial de 2022.
No fechamento no mercado spot nesta terça-feira, o dólar subiu 0,24%, a 5,7927 reais, longe da máxima do dia (5,876 reais, alta de 1,68%). Na mínima, batida pouco depois das 14h30, a moeda caiu 0,17%, a 5,769 reais.
No mercado futuro, o dólar caía 1,56%, a 5,7900 reais, às 17h21.
A aparente divergência entre as duas taxas é resultado de diferentes horários de fechamento.
Na segunda-feira, o mercado à vista, que encerra às 17h, não captou a piora adicional no câmbio decorrente de declarações do presidente Jair Bolsonaro sobre a PEC Emergencial e fechou em alta de 1,66%, a 5,7787 reais.
Já o mercado futuro, cujos negócios terminam às 18h30, foi impactado pelas falas de Bolsonaro, e o dólar chegou a disparar 3,22% depois das 18h. Dessa forma, o mercado futuro ficou com mais "gordura" para queimar e devolveu nesta terça os ganhos extras, fechando o "gap" em relação às cotações no mercado à vista.
Mas o dólar à vista ainda sobe 3,39% em apenas sete pregões de março e salta 11,58% em 2021, pior desempenho dentre 33 rivais da moeda norte-americana. Enquanto o real cai 10,38% no ano, o segundo pior colocado, o peso argentino, perde 7,6%.
Segundo analistas, esse movimento distancia ainda mais o real de seu valor "justo", que estaria por algumas métricas entre 4,50 e 5,00 por dólar.
"Se de fato não houver nenhuma jabuticaba na PEC (Emergencial), o real corrige mais, volta para 5,50 reais", disse Marcos Weigt, chefe de tesouraria do Travelex. "Isso, contudo, não muda o fato de que a gente precisa das reformas para que o país pareça menos arriscado para os investidores", completou.
Para Weigt, o "risco-Lula" ainda não tem potencial para afetar de forma estrutural os cenários.
Victor Scalet, estrategista macro e analista político na XP, vai na mesma linha. "A avaliação de agora é que devemos ter um Lula não tão forte quanto no passado... O problema não parece nem o Lula, mas, sim, trazer a discussão eleitoral para agora, o que pode contaminar a pauta no Congresso", afirmou.
De toda forma, o aumento de ruído político e a escalada dos juros de títulos nos Estados Unidos vão ter desdobramentos, levando a um real menos apreciado do que o esperado. A XP vai revisar a projeção para o dólar fim de 2021 de 4,90 reais para 5,30 reais.
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