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Novas restrições por Covid ameaçam retomada do consumo de energia elétrica no Brasil

12/03/2021 16h04

Por Luciano Costa

SÃO PAULO (Reuters) - O agravamento da pandemia de Covid-19 no Brasil e o recente endurecimento de medidas restritivas que visam conter o avanço da doença ameaçam frear uma trajetória de retomada do consumo de energia elétrica vista desde meados de 2020, embora o setor espere por ora impacto bem menor que na primeira onda do vírus.

A demanda por eletricidade no país chegou a desabar 12% em abril passado, primeiro mês totalmente impactado por quarentenas e medidas de contenção, mas começou a se recuperar no terceiro trimestre e já rodava em níveis pré-coronavírus em setembro, ritmo acima da retomada em outros países.

Mas agora em 2021, com mortes diárias batendo recordes e hospitais lotados, diversos Estados brasileiros têm anunciado novas restrições. São Paulo, polo econômico e região com maior população, decretou fase de vermelha de sua quarentena, e deverá passar à chamada fase emergencial a partir de segunda-feira.

As novas medidas incluem toque de recolher entre 20h e 5h --comércios não essenciais já estavam fechados na fase vermelha.

Nos últimos dias, com o avanço das restrições em São Paulo e alguns outros Estados, já era possível notar redução média de cerca de 1,5 gigawatt na carga do Sudeste/Centro-Oeste ante os 43,5 gigawatts da semana anterior, disse o presidente da comercializadora Esfera Energia, Braz Justi.

"Uma parte disso está reduzindo pela temperatura amenizando, mas essa temperatura não tira 1,5 GW da carga. E no Sul estimamos 0,5 GW a menos, comparado com semana passada", disse ele, que espera aumento do impacto ao longo dos dias.

"Essa resposta, ela vai vir gradativamente. Até porque num primeiro momento você tem uma restrição muito localizada nos grandes centros. Mas o próprio déficit de movimentação no comércio vai acabar impactando indústria num segundo momento."

Os preços da energia, que já estavam em queda devido a alguma melhoria nas chuvas desde o final de fevereiro, estão recuando para abril com o impacto das novas medidas restritivas, disse Justi.

"Abril está sendo negociado abaixo de 100 reais (por megawatt-hora)", afirmou, contra preços na casa de 170 reais na metade de fevereiro.

MAIS LEVES

Os efeitos sobre o mercado elétrico, no entanto, devem ser bem mais leves desta vez que no passado, dado que em 2020 duras quarentenas na China e em diversos outros países afetavam também o ritmo da indústria, setor para o qual não há expectativa de fechamentos no Brasil por enquanto, segundo os especialistas.

Neste ano, há segmentos que vinham com forte alta na demanda por energia, como extração mineral e metalurgia, enquanto ao final de março passado o maior susto com a chegada do vírus levava até parte da indústria a buscar segurar caixa e eventualmente parar ou reduzir produção, disse o presidente da comercializadora de energia Comerc, Cristopher Vlavianos.

"Teve muita empresa que deu férias semanais, coletivas, fechou fábrica, mandou pessoal para casa. Porque ninguém sabia se isso ia durar, se seria até mais violento do que aconteceu."

Ele vê impacto bem mais ameno em 2021 até pelos "lockdowns" mais curtos planejados ao menos por ora --São Paulo anunciou primeiramente 15 dias de quarentena restrita, até 30 de março.

Os setores mais afetados neste momento devem ser serviços e comércio, como shoppings centers, mas esses não são demandantes de eletricidade tão significativos como a indústria.

O ramo industrial respondeu em fevereiro por 34% do consumo de energia, seguido pelas residências, com 32%. O comércio representou 18%, segundo a Empresa de Pesquisa Energética (EPE).

"Não acreditamos que o efeito vá ser tão depressivo quanto foi a redução de carga em 2020. Por dois pontos. Primeiro que a gente já se acostumou de alguma forma a esse novo normal, e segundo porque não acreditamos que a indústria vá parar", disse o presidente da Bolt Energias, Gustavo Ayala.

RETOMADA FRUSTRADA?

Antes dessa piora no quadro sanitário, o Brasil registrava uma recuperação do consumo de energia mais rápida que países europeus também duramente atingidos pela Covid em 2020.

Em agosto passado, a carga do Brasil foi estável ante 2019, enquanto a Itália ainda tinha demanda 3% inferior e Espanha e Reino Unido seguiam com 2% de retração, segundo a Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE).

O caminho de recuperação continuava neste ano, com elevações sobre o consumo registradas tanto em janeiro quanto fevereiro.

"Em termos de carga de energia, esse anúncio retarda a recuperação. Naturalmente, é uma ducha de água fria a situação atual da pandemia, temos um recrudescimento", disse o presidente da America Energia, Andrew Frank.

Ele espera que as restrições afetem negativamente a revisão de projeções oficiais de carga de EPE, CCEE e Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) que deve ser divulgada em abril.

Para março, o ONS divulgou nesta sexta previsão de alta de 2,3% na carga de energia em março, com leve incremento ante os 2,2% da semana anterior. Questionado pela Reuters, o órgão disse ainda não ter uma análise sobre impactos das novas quarentenas.