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Bolsonaro escolha médico Queiroga para Saúde e fala em continuidade de gestão Pazuello

15/03/2021 20h57

Por Ricardo Brito e Lisandra Paraguassu

BRASÍLIA (Reuters) - O presidente Jair Bolsonaro confirmou na noite desta segunda-feira a escolha do médico cardiologista Marcelo Queiroga para assumir o Ministério da Saúde no lugar do general Eduardo Pazuello, a terceira troca de cargo em menos de um ano no posto e que ocorre no pior momento da pandemia de coronavírus do país.

Bolsonaro anunciou o nome de Queiroga, presidente da Sociedade Brasileira de Cardiologia, ao final de um dia em que outra sondada, a médica Ludhmila Hajjar, disse ter rejeitado assumir o cargo.

Segundo o presidente, Queiroga vai dar continuidade ao trabalho de Pazuello, mas o governo vai para uma atuação "mais agressiva" contra a Covid-19.

"A conversa foi excelente, já o conhecia há alguns anos, então não é uma pessoa que tomei conhecimento há poucos dias e tem tudo para fazer um bom trabalho dando prosseguimento em tudo que Pazuello fez até hoje", disse Bolsonaro, em fala transmitida pelas redes sociais.

Segundo Bolsonaro, Queiroga vai trabalhar em programas para "cada vez mais diminuir o número de pessoas que venham a óbito por essa doença que se abateu no mundo todo".

O presidente fez questão de elogiar o trabalho de Pazuello, que tem sido duramente criticado pelo enfrentamento à pandemia, mediante os recordes de mortes registrados pelo país nos últimos dias e o ritmo lento da campanha de vacinação.

"O trabalho do Pazuello foi muito bem feito, a parte de gestão foi bem feita por ele e agora vamos partir para uma parte mais agressiva no combate ao vírus", afirmou.

Com o Brasil atingindo recordes de mortes por Covid-19, com média de quase 2.000 por dia na semana passada, e apenas 6% da população acima de 18 anos vacinada, a saída de Pazuello ganhou força no fim de semana, quando Bolsonaro convidou Ludhmilla Hajjar para assumir o cargo.

O novo ministro da Saúde defendeu em entrevista no domingo ao jornal Folha de S.Paulo a agilidade na vacinação no país e se mostrou contra o uso da cloroquina no tratamento ao Covid-19 -- o medicamento, defendido pelo presidente, não tem eficácia comprovada.

"A própria Sociedade Brasileira de Cardiologia não recomendou o uso dela (cloroquina) nos pacientes", afirmou. "E nem eu sou favorável porque não há consenso na comunidade científica", disse ele à Folha.

Queiroga ainda não se manifestou publicamente após a escolha de Bolsonaro. Procurado, ele não atendeu aos contatos telefônico e por mensagem.

Queiroga é um nome de confiança do primogênito do presidente, o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), segundo uma fonte. Ele chegou a participar da transição do governo Michel Temer para o de Bolsonaro, após a eleição presidencial de 2018.

DESFECHO

A decisão de Bolsonaro é um desfecho para a fritura pela qual Pazuello vinha passando nas últimas semanas e que se intensificou no final de semana, após a reunião de Bolsonaro com ele próprio, outros ministros e até de uma cotada, a médica Ludhmila Hajjar, que contava com apoio de nomes de peso do Congresso.

Ludhmila Hajjar recuou do convite alegando "principalmente motivos técnicos" --ela é contra uso da cloroquina, ponto caro a Bolsonaro-- e após ter sofrido um intenso bombardeio de apoiadores do presidente em redes sociais.

No meio da tarde, Pazuello deu uma entrevista em que admitira que iria deixar o cargo, mas fez questão de dizer que não iria pedir demissão.

"O cargo é do presidente da República. Existe essa possibilidade desde o dia que eu entrei. Poderia ficar no curto prazo, médio prazo ou longo prazo. Estamos a médio prazo. O presidente, sim, está pensando em substituição, está avaliando nomes", disse Pazuello em entrevista coletiva concedida para apresentar balanço das ações de enfrentamento ao coronavírus.

No domingo, o próprio Pazuello chegou a participar de uma conversa no Palácio do Planalto com Bolsonaro e Hajjar sobre a troca do comando da pasta, mas a médica disse nesta segunda-feira que rejeitou o convite alegando “principalmente motivos técnicos”.

Na entrevista desta segunda, Pazuello destacou que não está doente, não pediu para sair e que isso não é da característica dele. "Eu não vou pedir para ir embora", disse.

Segundo o ministro, o próximo titular da pasta deverá manter a linha de atuação atual. "É continuidade, não há rompimento. Continuidade na missão, os senhores não estão acostumados com isso. Estão acostumados com o político largar a caneta e ir embora. Nós não somos assim", afirmou Pazuello, que é general do Exército.

A saída do ministro foi acertada em uma reunião na noite de sábado entre os ministros militares e o presidente no Hotel de Trânsito do Exército, onde Pazuello vive, segundo uma fonte ouvida pela Reuters.

O acordo foi negado depois pelo Ministério da Saúde, mesmo com o Palácio do Planalto confirmando o encontro entre Hajjar e Bolsonaro no domingo à tarde, no Palácio da Alvorada.

No Congresso, parlamentares do centrão aliados do governo cobravam uma mudança na Saúde em meio ao pior momento da pandemia no Brasil, e diversos nomes começaram a circular para assumir a pasta.

De acordo com uma fonte parlamentar, Marcelo Queiroga poderia satisfazer essa necessidade de um nome técnico. No Congresso, no entanto, a pressão era pelo deputado Dr. Luizinho (PP-RJ), ortopedista que já foi secretário de Saúde do Rio de Janeiro.

STF E CPI

Pazuello assumiu o cargo em maio do ano passado como interino após o pedido de demissão de Nelson Teich, que ficou menos de um mês após substituir Luiz Henrique Mandetta. O general foi efetivado em setembro e acatou as principais direções do presidente, ao contrários do antecessores que discordavam de Bolsonaro.

Pazuello acumula queixas de demora no avanço da vacinação no país, ajuda aos entes federados, defesa de medicamento sem eficácia comprovada e falta de empenho em liderar o enfrentamento à crise sanitária, incluindo eventual responsabilidades no colapso da saúde pública de Manaus, onde pacientes de Covid-19 morreram por falta de oxigênio.

A atuação do ministro o levaram a ser alvo de uma investigação criminal pelo Supremo Tribunal Federal (STF) por omissão e a um pedido de CPI no Senado.

Por outro lado, Bolsonaro sempre deu respaldo público à atuação de Pazuello, tendo já o chamado de "excelente ministro" e "tremendo de um gestor". Contudo, a avaliação sobre o presidente piorou nos últimos dias, segundo pesquisas, em meio à demora da vacinação e o agravamento da pandemia no país.

(Edição de Pedro Fonseca)