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Petrobras muda modelo de venda de gás natural; quer baixar volatilidade de preço

Prédio da Petrobras, no Rio de Janeiro - Por Nayara Figueiredo e Sabrina Valle
Prédio da Petrobras, no Rio de Janeiro Imagem: Por Nayara Figueiredo e Sabrina Valle

03/05/2021 08h59

Por Nayara Figueiredo e Sabrina Valle

SÃO PAULO (Reuters) - A Petrobras aprovou novos modelos de venda de gás natural às distribuidoras e vai oferecer, além das modalidades indexadas ao petróleo tipo Brent, alternativa de precificação com menor volatilidade, sem abrir mão do alinhamento com os preços externos, disse a empresa nesta segunda-feira.

De acordo com fato relevante, o novo modelo será indexado aos preços do Henry Hub, referência amplamente usada para novos projetos de liquefação nos Estados Unidos.

"A nova fórmula ainda será negociada com clientes e não necessariamente implicará impactos materiais nos preços. Além disso, não haverá mudanças na parcela de transporte do preço do gás", afirmou a estatal.

O movimento ocorre em momento em que a maior produtora de óleo e gás da América Latina tenta estimular a demanda local por sua crescente produção de gás e à medida que o governo luta para reduzir os preços domésticos do produto.

Em fevereiro, o presidente Jair Bolsonaro demitiu o então presidente-executivo da estatal, Roberto Castello Branco, em meio a um entrevero relacionado à política de preços da companhia. Bolsonaro prometeu reduzir os custos de combustíveis para os consumidores.

Segundo a Petrobras, a associação dos preços da molécula de gás ao petróleo Brent repassa de forma mais direta as variações dos mercados internacionais, tanto as reduções como os aumentos.

Com a nova formulação, a companhia diz que buscou maior simplicidade, transparência e redução de risco de desalinhamento dos preços com a paridade estrutural de importação de GNL, além de outros energéticos substitutos.

A medida da Petrobras foi motivada pela proximidade do término do prazo de contratos não-termelétricos (com grande parte descontratando a partir de 2022), pela indexação ao Henry Hub em chamadas públicas para distribuidoras de gás locais e pela perspectiva de um ambiente de maior concorrência.

A Petrobras também disse que as novas modalidades de venda privilegiarão a contratação de base do consumo, tendo como diferenciais opções de prazos contratuais, inclusive com opção de contratos com prazo mais alongado, menor flexibilidade de consumo e, em contrapartida, condições de preço mais favoráveis que os atuais produtos da carteira.

"A companhia oferecerá aos clientes a opção de fazer uma melhor gestão de portfólio de compras de gás, não apenas com relação à formação dos preços, mas também quanto aos prazos contratuais, pois poderão selecionar horizontes de 6 meses e de 1 a 4 anos, de forma mais aderente às suas necessidades".

Um dos índices "gás-gás" mais conhecidos, Henry Hub, no Golfo do México, é um entroncamento de gasodutos com acesso de vário vendedores e compradores de gás, que podem negociar livremente trocas entre si, gerando um preço de equilíbrio.

"O Henry Hub é muito barato e menos volátil do que outros 'benchmarks'", disse Jason Freer, head global de Inteligência de Negócios da consultoria Poten & Partners. "O risco para a Petrobras seria comprar ou produzir gás em um índice mais caro e volátil, mas vender por um mais barato."

Henry Hub é o ponto de precificação dos contratos futuros de gás natural negociados na bolsa de Nova York. A referência também desempenha papel na definição de preços para projetos de gás natural liguefeito (GNL) nos EUA.

No ano passado, o contrato foi negociado entre 1,50 dólar e 3,30 dólares por milhão de unidades térmicas britânicas (mmBTU).

A Petrobras utilizará o índice de preços de Henry Hub para chamadas públicas a distribuidoras de gás locais, de forma isolada ou como parte de contratos híbridos HH-Brent, segundo a companhia.

"O mercado de gás natural no Brasil está em processo de abertura, incentivando a competição, com a entrada e consolidação de novos atores em todos os elos da cadeia de valor", disse a Petrobras.

(Por Nayara Figueiredo e Sabrina Valle)