Aproximação Lula e FHC movimenta mundo político e incomoda tucanos
Por Lisandra Paraguassu
BRASÍLIA (Reuters) - A foto dos ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Fernando Henrique Cardoso juntos, em um almoço causou alvoroço nas redes sociais e um terremoto no PSDB, enquanto tucanos históricos e petistas ensaiam uma aproximação cuidadosa de olho em um segundo turno de 2022 em que o presidente Jair Bolsonaro possa ser derrotado.
Fontes ouvidas pela Reuters contam que os dois lados estão "pisando em ovos", mas as conversas existem entre petistas de alto escalão, incluindo Lula, e tucanos históricos. Protagonistas de todas as eleições desde 1994, PT e PSDB são adversários tradicionais.
O risco de um novo mandato de Bolsonaro, no entanto, começou a aproximar os dois rivais.
"Não vai haver juntar todos no primeiro turno, mas o inimigo principal é Bolsonaro, ele é uma ameaça civilizatória", disse um tucano de alto escalão. "É uma conversa de duas lideranças políticas que representam duas vertentes democráticas, tem um sentido político de que há um inimigo maior."
O namoro, que começou com Fernando Henrique dizendo que votaria em Lula num segundo turno contra Bolsonaro, continuou com o petista fazendo elogios ao tucano em redes sociais e culminou com o almoço organizado pelo ex-ministro Nelson Jobim, que atuou no governo dos dois ex-presidentes.
Do lado da cúpula petista, o movimento é visto como uma prova de que Lula está longe da polarização de radicais que querem imputar a ele. Ao contrário, o ex-presidente estaria unindo tudo o que chama de "campo democrático", em uma eleição que seria quase um plebiscito contra Bolsonaro.
Os movimentos recentes do PSDB desde 2014, quando Aécio Neves questionou a eleição de Dilma Rousseff, o apoio ao impeachment e a ascensão de João Dória em São Paulo --que chegou a colar seu nome ao de Bolsonaro em 2018, com a campanha BolsoDoria, antes de romper radicalmente com o presidente-- transformaram os dois partidos de rivais a praticamente inimigos.
Ao contrário do PSDB, no entanto, movimentos de Lula são pouco questionados dentro do PT, onde o ex-presidente ainda tem liderança absoluta.
Já no PSDB, a postagem de Lula --feita com a anuência de Fernando Henrique-- causou um terremoto em um partido que está severamente dividido. O ex-presidente teve que ir às redes sociais deixar claro que votaria eventualmente em Lula em um segundo turno em 2022, se o petista fosse o nome para derrotar Bolsonaro.
"Reafirmo, para evitar más interpretações: PSDB deve lançar candidato e o apoiarei; se não o levarmos ao segundo turno, neste caso não apoiarei o atual mandante, mas quem a ele se oponha, mesmo o Lula", escreveu o ex-presidente.
O esclarecimento veio depois de uma nota assinada pelo presidente do partido, Bruno Araújo, em que critica o movimento do ex-presidente.
"Esse encontro ajuda a derrotar Bolsonaro, mas não faz bem a um potencial candidato do PSDB. Nossa característica é saber dialogar, inclusive com adversários políticos. De toda forma, precisamos evitar sinais trocados aos nossos eleitores. O partido segue firme na construção de uma candidatura distante dos extremos que se estabeleceram na democracia brasileira", diz a nota.
Tucanos ouvidos pela Reuters não questionam que o partido terá um candidato próprio, seja Dória, o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, ou o senador Tasso Jereissati (CE). Mas quem será esse nome tem dividido o partido. Enquanto Dória quer o posto com unhas e dentes, um número cada vez maior de tucanos acredita que o governador não tem como se viabilizar.
A imagem de Fernando Henrique com Lula foi vista por parte do tucanato como uma afirmação de que o partido não tem chances em 2022. Outros, viram o fato como um movimento importante para reafirmar a distância do partido do governo de Bolsonaro.
"Acho que foi muito positiva. Lula não é um extremista, é um reformista. Mais à esquerda do que o PSDB, mas um reformista como o PSDB. É uma conversa civilizada", disse uma das fontes tucanas.
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