Dólar tem maior alta semanal desde março com Fed; Brasília segue no radar
Por José de Castro
SÃO PAULO (Reuters) - O dólar fechou no maior patamar em mais de duas semanas nesta sexta-feira, marcando o maior ganho semanal em quase dois meses, com investidores repercutindo a força da moeda norte-americana no exterior, mas também acompanhando movimentações políticas locais com mira na eleição de 2022.
A leitura é que uma economia norte-americana mais fortalecida pode levar a mais inflação e engrossar o coro dos que veem a alta dos preços como elemento que forçará o banco central dos EUA (Fed) a reduzir a oferta de liquidez antes do esperado.
Menor liquidez significa menos dólares no sistema, o que tende a aumentar o preço da moeda. A redução da oferta de dinheiro barato costuma cobrar seu preço de mercados emergentes, que pela fraca poupança interna precisam importar dólares para fechar suas contas.
A crença de que o Fed poderá diminuir seu apoio ganhou adeptos depois de na quarta-feira o BC norte-americano relatar em ata referências a discussões futuras acerca de um corte nas compras mensais de títulos. No Brasil, o dólar saltou 1,17% nesse dia, valorização que somada à desta sexta garantiu o ganho da moeda no acumulado da semana.
"Agora, há sinais de que o Fed se prepara para sinalizar algum ajuste em sua política monetária", disse Dan Kawa, CIO da TAG Investimentos. "Não resta dúvida de que estamos caminhando para um novo estágio do ciclo econômico, onde o crescimento ainda mostra sinais de recuperação, mas a inflação começa a amedrontar", completou.
Nesta sexta, duas autoridades do BC norte-americano expressaram desejo de que se comece a debater corte de liquidez. Os apelos vieram no mesmo dia no qual dados mostraram que a atividade fabril nos EUA cresceu em maio no ritmo mais forte desde 2009, conforme dados preliminares.
O desempenho mais forte da economia norte-americana --visto ao longo da última década-- é tradicionalmente um catalisador para um dólar fortalecido.
No exterior, o índice do dólar subia 0,2% nesta sexta, afastando de mínimas em quatro meses atingidas mais cedo no pregão.
Aqui, a moeda subiu 1,51% nesta sexta, para 5,3554 reais na venda. É o maior patamar desde 5 de maio (5,3652 reais) e a mais acentuada valorização diária desde o último dia 12 (+1,55%).
O real liderou as perdas nos mercados globais de câmbio.
O dólar passou praticamente todo o dia em curva ascendente, batendo a mínima do pregão ainda pela manhã (5,2713 reais, ligeira queda de 0,08%). Na máxima, alcançada a cerca de uma hora do fechamento, tocou 5,356 reais, ganho de 1,52%.
Na semana, o dólar subiu 1,58% --segunda semana consecutiva no azul e a alta mais forte desde a semana finda em 26 de março (+4,68%). Nas semanas seguintes, o dólar emendou seis baixas, vindo a subir nas últimas duas.
Em maio, a moeda reduziu a perda para 1,40%. Em 2021, a cotação sobe 3,16%.
O mercado acompanhou ainda nesta sessão o noticiário sobre movimentações no campo político na direção de 2022. Chamou atenção o encontro entre os ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Fernando Henrique Cardoso para um almoço nesta semana, enquanto tucanos históricos e petistas ensaiam uma aproximação cuidadosa de olho em um segundo turno da eleição do ano que vem no qual presidente Jair Bolsonaro possa ser derrotado.
Sob pressão de vários lados --inclusive de uma CPI da pandemia no Senado--, Bolsonaro voltou a subir o tom nos últimos dias, enquanto vê sua aprovação popular rondar os menores patamares desde o início de seu governo.
Riscos de ordem política são citados por bancos de investimento como um dos principais fatores a conter o otimismo sobre a taxa de câmbio, uma vez que mexem diretamente nas perspectivas para a agenda de reformas --vista como crucial pelo mercado--, com consequente impacto nas contas públicas.
O Citi, por exemplo, recomenda compra de reais, mas apenas de forma tática --ou seja, que busca auferir ganhos com distorções de preços no curto prazo. Nos próximos meses, os profissionais do banco veem a taxa de câmbio retornando a 5,58 reais por dólar, sobretudo por receios de ordem fiscal --o Citi prevê que a despesa pública superará o teto de gastos no equivalente a 2,0% do PIB.
"Olhando à frente, os riscos fiscais internos permanecem elevados... Além disso, nossa perspectiva global apoia a visão de que o dólar deve se fortalecer até o final do ano", acrescentou a instituição, citando que o Fed pode iniciar alguma redução de estímulos ainda neste ano.
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