Campos Neto diz que câmbio reagiu a melhora fiscal e que BC fará "o que for preciso" para cumprir meta de inflação
Por José de Castro
SÃO PAULO (Reuters) - O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse na noite de quinta-feira que os números e as expectativas fiscais melhoraram recentemente, o que explica parte do comportamento mais benigno do real, e que o BC vai fazer "o que for preciso" para garantir o cumprimento da meta de inflação.
As declarações foram feitas em entrevista gravada e exibida pelo Jornal da CNN e sugeriram um tom mais otimista por parte do presidente do BC, que falou em surpresas positivas com a economia, menor impacto sobre a atividade vindo do atual momento da pandemia, ajuste nas contas externas, expectativa de aceleração do ritmo de vacinação e reabertura "razoável" da economia no segundo semestre.
Ele lembrou surpresas consecutivas com números da arrecadação acima do esperado, num contexto em que analistas esperam que a dívida pública feche este ano mais próxima de 85% do PIB, abaixo dos cerca de 100% previstos no começo do ano.
"Então de fato a parte fiscal recente em termos de prêmio de risco tem melhorado. Inclusive isso explica um pouco o comportamento melhor que o câmbio tem tido nos últimos tempos", disse Campos Neto.
"Quando a gente começa a ver que a arrecadação está surpreendendo, que parte do dinheiro não foi gasta, que no fim a trajetória que vai ser resultante de todas as ações do governo é uma trajetória bem melhor, o câmbio também responde."
O chefe do BC destacou o que ele chamou de surpresas positivas com a economia no primeiro e segundo trimestres e lembrou que algumas instituições financeiras começaram a rever para cima as estimativas para o desempenho do PIB em 2021, com migração para uma média de 4% de crescimento, a despeito da segunda onda da pandemia e da preocupação de agora com novas variantes do coronavírus.
"Uma coisa que está muito clara nos nossos estudos é que para um mesmo nível de distanciamento social o impacto econômico tem sido menor", disse. "O crescimento tem surpreendido para cima, e nós não entendemos que o ajuste (nos juros) que seja necessário vai frear esse crescimento."
O presidente do BC respondia a um questionamento sobre se o ciclo de normalização monetária em curso poderia afetar o ritmo de expansão da economia. "Estamos vigilantes a todas as variáveis", afirmou, acrescentando que, com credibilidade, altas de juros podem reduzir a curva de taxas longas, a que de fato impacta financiamento a investimentos na economia.
Campos Neto afirmou que a melhora fiscal tem ocorrido do lado da receita, e não do lado do gasto, e que para investidores estrangeiros é importante que o Brasil mostre disciplina nos gastos. Mas ele ponderou que a despesa com a pandemia é "justificável" e que "nenhum governo ou agente pode ter argumentos sólidos contra isso".
"Outros tipos de gastos que não estão associados com a pandemia serão punidos com aumento de prêmios de risco, e nesse caso o Brasil fica diferenciado dos demais países que seguem o rumo de disciplina fiscal."
INFLAÇÃO, JUROS E "FICO"
Campos Neto aproveitou para reiterar a vigilância do BC sobre a inflação e disse ter notado estabilização recente nos preços das matérias-primas no mundo, cuja alta ajudou a impulsionar índices de preços no Brasil.
"Nossa meta é a inflação. Estamos vigilantes com a inflação, com os componentes de inflação, com o elemento de dispersão, e nós vamos fazer o que for preciso para garantir que o Banco Central atinja sua meta de inflação."
Do lado dos juros, Campos Neto fez ponderações sobre o caráter parcial do ajuste da política monetária e disse que ele se dá por uma dimensão de maior transparência, não por indicação de política monetária.
"Se em algum momento houver entendimento de que isso não é mais verdade, nós vamos mudar a linguagem e vamos nos adequar para sempre ter certeza de que estamos cumprindo nossa meta de inflação."
Perguntando se, com o BC autônomo, ficaria até o fim de seu mandato, em 2024, Campos Neto foi taxativo: "Claro, fico".
"Obviamente que eu fico até o último dia do mandato e acho que esse ganho institucional, uma vez conferido, uma vez observado, vai fazer com que o prêmio de risco, inclusive nos próximos anos, nas próximas gerações, se mantenha mais baixo, entendendo que sempre vai existir um presidente do Banco Central independente, que vai tomar decisões de forma independente, sabendo que o ciclo da decisão que ele vai tomar, que a instituição Banco Central vai tomar, é diferente do ciclo político."
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