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Credores da Samarco rejeitam proposta de recuperação judicial, mostra documento

Há três anos, barragem da Samarco se rompeu e causou um dos maiores desastres ambientais da história - Por Carolina Mandl
Há três anos, barragem da Samarco se rompeu e causou um dos maiores desastres ambientais da história Imagem: Por Carolina Mandl

Da Reuters, em São Paulo

15/07/2021 20h35

(Atualiza texto publicado no dia 15/7 com resposta da Samarco)

Por Carolina Mandl

SÃO PAULO (Reuters) - Os credores da mineradora Samarco, joint venture da brasileira Vale com o grupo anglo-australiano BHP, apresentaram na quinta-feira uma objeção à proposta de recuperação judicial apresentada pela empresa, segundo documento judicial visto pela Reuters.

No documento, os credores afirmaram que o principal objetivo do plano proposto é proteger as gigantes da mineração donas da Samarco e reduzir os pagamentos futuros aos detentores de títulos e credores.

Com isso, eles rejeitaram a oferta da Samarco de um desconto de 85% no valor a ser pago aos maiores credores da companhia, incluindo os acionistas Vale e BHP, que têm 24 bilhões de reais a receber da joint venture. Os pagamentos ocorreriam em 2041.

Os credores disseram que tanto a Vale quanto a BHP, como acionistas, deveriam ser pagas somente depois que todos os outros credores recuperassem totalmente seu dinheiro. Eles também questionam parte dos créditos que as sócias têm a receber.

A outra alternativa ofertada pela Samarco, que permitiria que credores recebam ações preferenciais da mineradora como pagamento, também foi recusada pelos credores.

"É inaceitável que um plano de recuperação judicial de uma empresa controlada pelas maiores mineradoras do mundo preveja simplesmente uma verdadeira (e ilegal) anistia do devedor para criar valor para suas multibilionárias acionistas que são, aliás, solidariamente responsáveis pelo maior desastre ambiental do Brasil", disseram credores no documento judicial.

O rompimento de uma barragem da Samarco em 2015 deixou 19 mortos e centenas de desabrigados, além de poluir o rio Doce em toda a sua extensão até o mar capixaba, no que foi considerado à época o maior desastre socioambiental da história do país e levou a empresa a graves problemas financeiros.

Os credores defendem que a Samarco, a Vale e a BHP paguem em três partes iguais por todos os danos causados ​​pelo rompimento da barragem, disseram em entrevista os advogados dos credores Paulo Padis e Marcos Pitanga. No entanto, a Samarco se comprometeu com todos os pagamentos para reparar os danos.

A Samarco afirmou em comunicado, nesta sexta-feira, que o plano de recuperação judicial proposto leva em consideração as finanças da empresa e visa manter os pagamentos para reparar os danos causados ​​pelo desastre. A empresa acrescentou que os credores não apresentaram nenhum plano alternativo até agora.