Fitch diz que fiscal latino-americano está melhor que esperado, mas alteração do teto de gastos é risco no Brasil
SÃO PAULO (Reuters) - A agência de classificação de risco Fitch Ratings disse nesta terça-feira que a recuperação fiscal nos países da América Latina tem superado expectativas, embora riscos --como a alteração do teto de gastos no Brasil-- continuem tornando as perspectivas desafiadoras.
Em 2021, déficits em muitos países se estreitaram para perto de níveis pré-pandêmicos, enquanto alguns, como o Brasil, se saíram até melhor, disse a Fitch em relatório.
O setor público consolidado brasileiro registrou um superávit primário de 64,727 bilhões de reais em 2021, equivalente a 0,75% do Produto Interno Bruto (PIB), o primeiro resultado anual positivo em oito anos, segundo dados do Banco Central.
"Arrecadações surpreendentemente fortes foram o principal motor por trás dos resultados fiscais melhores que o esperado (na América Latina), uma vez que não foram apenas impulsionadas por sólidas recuperações do PIB real e inflação elevada, mas cresceram bem acima dessas variáveis em quase todos os lugares", disse a agência, chamando a atenção também para os preços elevados das commodities.
Falando especificamente do Brasil, a Fitch afirmou que o país foi uma exceção entre seus pares no que diz respeito a gastos. Enquanto a maioria das nações latino-americanas está apresentando despesas bem acima dos patamares pré-pandemia, a retirada de benefícios emergenciais e contenção de custos recorrentes no Brasil trouxe os gastos primários domésticos de volta a níveis anteriores à crise em termos reais, destacou o relatório.
"Fortes resultados fiscais (na América Latina) em 2021 devem ter um viés positivo sobre as projeções fiscais da Fitch para 2022-2033, mas a perspectiva permanece desafiadora", ressalvou a agência.
"O gasto pandêmico está sendo estendido em meio a forte pressão social por suporte de natureza mais duradoura, particularmente num ano eleitoral cheio, e a recente performance fiscal superior pode reduzir a urgência por esforços adicionais. A decisão do Brasil de alterar seu teto de gastos para acomodar mais despesas é um exemplo."
Em dezembro do ano passado, o Congresso Nacional promulgou a PEC dos Precatórios, que estabeleceu, entre outras medidas, mudança na regra de correção do teto de gastos --importante âncora fiscal do país--, abrindo espaço para pagamento do Auxílio Brasil, novo programa social do governo em substituição ao Bolsa Família.
(Por Luana Maria Benedito)
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