Ibovespa tem leve alta com recuperação no final, mesmo com cautela local e em NY

Por Andre Romani

SÃO PAULO (Reuters) - O Ibovespa subiu nesta quarta-feira, em sessão altamente volátil, recuperando algum terreno no final do pregão após dois dias negativos, embora a mudança na Lei das Estatais na Câmara dos Deputados e uma perspectiva de juros mais altos por mais tempo nos Estados Unidos tenham pesado na confiança dos investidores.

Agentes financeiros citaram acenos do futuro ministro da Fazenda, Fernando Haddad, a pautas caras ao mercado, incluindo o tema fiscal, como um fator que pode ter ajudado as ações.

Vale foi a maior influência positiva, enquanto Petrobras desabou e teve o maior impacto negativo.

O Ibovespa subiu 0,20%, a 103.745,77 pontos. Na mínima, o índice caiu 1,8%, enquanto na máxima avançou 0,9%. O giro financeiro somava 38,7 bilhões de reais, em dia de exercício de opções sobre o índice.

"Eu acredito ainda que o sentimento é negativo, apesar do fechamento no azul. Vejo como uma simples correção das (quedas nas) vésperas. Para mim, ainda pesa muito o ruído político", disse Victor Lima, analista da Toro Investimentos.

A Câmara dos Deputados aprovou na véspera redução de 36 meses para um mês da quarentena obrigatória para que pessoas vinculadas à estrutura decisória de partidos políticos ou de campanhas eleitorais assumam cargos em empresas estatais.

A medida, que veio após o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) indicar Aloizio Mercadante para a presidência do BNDES, deu o tom dos ativos locais pela manhã, pressionando ações de estatais controladas pela União, em especial da Petrobras. As mudanças devem ser confirmadas pelo Senado, segundo fontes ouvidas pela Reuters nesta quarta-feira.

No entanto, o Ibovespa passou a operar no zero a zero próximo ao início da tarde, durante entrevista de Haddad e em meio a um cenário externo até então positivo.

Algumas declarações de Haddad foram citadas como positivas pelos agentes de mercado, como o fato de ter dito que o país não está em momento que uma expansão fiscal ajudará a economia e que trabalhará junto com o Banco Central para baixar os juros, atualmente em 13,75%. Em meio à tramitação da PEC da Transição no Congresso, o BC vem dando recados sobre o possível impacto da pauta fiscal nos juros.

O fechamento positivo do Ibovespa na sessão também veio apesar de tom mais duro do Federal Reserve (Fed) ante o que era previsto, o que fez os principais índices acionários em Nova York encerrarem no vermelho. O S&P 500 caiu 0,6%.

"As bolsas norte-americanas recuaram devido à perspectiva de uma taxa de juros maior em 2023 e 2024 nos EUA", disse o economista sênior do Banco ABC, Adriano Ribeiro.

O Fed anunciou nesta tarde um amplamente esperado aumento de 0,5 ponto percentual nos juros, reduzindo o ritmo anterior de 0,75 ponto. No entanto, as mais recentes projeções econômicas trimestrais da instituição mostram expectativa de juros em 5,1% no final do próximo ano -- em setembro, estavam em 4,6%.

Além disso, os juros são vistos em queda para 4,1% em 2024, atingindo 3,1% em 2025, frente a previsões ligeiramente mais baixas anteriormente. Jerome Powell, chair do Fed, disse após a decisão que é cedo demais para falar em corte de juros.

DESTAQUES

- PETROBRAS PN desabou 7,93%, a 21,47 reais, enquanto a ON cedeu 9,80%, a 24,29 reais, menor patamar em cerca de cinco meses em ambos os casos, apesar de alta do petróleo na sessão. Para analistas do BTG Pactual, ainda que alguns ajustes no texto no Congresso na Lei das Estatais sejam prováveis ​​nos próximos dias, a alteração na legislação é "indiscutivelmente negativa" para a Petrobras e outras estatais brasileiras ao "eliminar um dos principais mecanismos de defesa com relação à influência política na companhia". Segundo especialistas, mesmo com as mudanças em curso, o estatuto da estatal contém regras que protegem a governança da empresa, evitando pelo menos em um primeiro momento a posse de políticos em cargos estratégicos.

- MAGAZINE LUIZA ON despencou 6,07%, a 2,63 reais, em sessão negativa para ações de varejistas. VIA ON perdeu 2,94% e AMERICANAS ON mostrou baixa de 2,86%.

- BANCO DO BRASIL ON cedeu 2,48%, a 31,07 reais, com desempenho bem pior do que seus pares privados. ITAÚ UNIBANCO PN, por exemplo, subiu 0,43%.

- VALE ON avançou 0,85%, a 86,89 reais, após contratos futuros do minério de ferro subirem na Ásia, com otimismo de que um aumento nas infecções por Covid-19 levará a mais medidas de estímulo do governo chinês para fortalecer a segunda maior economia do mundo. O contrato da commodity mais negociado para maio em Dalian encerrou as negociações diurnas com alta de 1,3%.

- REDE D'OR ON subiu 4,81%, a 25,47 reais, e SULAMÉRICA UNIT avançou 5,06%, a 19,09 reais, após o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) aprovar por maioria nesta quarta-feira a compra da operadora de planos de saúde pelo grupo hospitalar, sem restrições. QUALICORP ON, na qual a Rede D'Or tem fatia de quase 29%, teve alta de 4,6%.