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Ibovespa fecha em queda de 3% com sinais de governo mais intervencionista

02/01/2023 18h38

Por Paula Arend Laier

SÃO PAULO (Reuters) - O Ibovespa fechou em queda de 3% nesta segunda-feira, no primeiro pregão do ano, devolvendo parte do rali das últimas duas semanas de 2022, em uma recepção desconfiada à chegada do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Lula tomou posse no domingo prometendo revogar o teto de gastos, enquanto enfatizou o papel de empresas públicas, como Petrobras, no desenvolvimento do país e revogou atos que dão andamento à privatização de várias estatais.

Índice de referência do mercado acionário brasileiro, o Ibovespa caiu 3,06%, a 106.376,02 pontos. Nas últimas duas semanas do ano passado, acumulou alta de 6,7%.

O volume financeiro somou 15,5 bilhões de reais, em sessão afetada pela ausência de bolsas em Nova York em razão do feriado estendido do Ano Novo, bem como feriado no mercado londrino.

Agentes financeiros não se surpreenderam com a fala de Lula, uma vez que, segundo eles próprios, seguiu o tom dos discursos do petista durante sua campanha eleitoral, mas destacaram que a sinalização, principalmente fiscal, segue negativa.

Desagradaram também a prorrogação da desoneração dos combustíveis, que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, pedira ao governo anterior não estender, e a nomeação de profissionais sem muita experiência para comandar os bancos públicos.

Segundo o analista Luis Novaes, da Terra Investimentos, a ideia de que o governo terá uma postura desenvolvimentista, com maior participação do Estado na economia pode ter um efeito negativo no equilíbrio fiscal nos próximos anos.

"A ampliação da desoneração dos combustíveis é um fator contribuinte, pois era esperado que medidas no sentido oposto fossem tomadas para garantir um déficit menor no fim do ano."

Nesta segunda-feira, Haddad enfatizou que não aceitará um resultado fiscal neste ano que não seja melhor do que a atual previsão de déficit de 220 bilhões de reais, prometendo um arcabouço fiscal confiável neste semestre.

Na visão do sócio e estrategista da Meta Asset, Alexandre Póvoa, o mercado está percebendo que, diferentemente do Antonio Palocci de 2003, Haddad não conseguirá ser um anteparo a um Lula muito mais agressivo e intervencionista do que foi há 20 anos.

"Primeiro, uma infeliz declaração (de Lula) que chama de 'estupidez' o teto de gastos. Depois já contraria Haddad na questão da reoneração do preço dos combustíveis, importante para as contas públicas", elencou.

Póvoa ainda destacou a declaração de Haddad de que Lula quer esperar a nova diretoria da Petrobras para tomar decisão sobre combustíveis. "Está parecendo que vão querer forçar o preço dos combustíveis para baixo para poder retornar o imposto."

O estrategista também chamou a atenção para as expectativas da pesquisa Focus, com nova alta nas projeções para a inflação e para a Selic em 2023. "Situação complicada e todo mundo de olho em como um Banco Central independente pode reagir."

A nova composição do Ibovespa começou a vigorar nesta segunda-feira, válida até 28 de abril, totalizando 89 ativos de 86 empresas. Os maiores pesos são Vale ON (15,512%), Itaú Unibanco PN (6,167%), Petrobras PN (5,751%) e ON (5,023%) e Eletrobras ON (4,051%).

DESTAQUES

- PETROBRAS PN caiu 6,45%, a 22,92 reais, após Lula reforçar sua visão sobre o papel da companhia no desenvolvimento do país e revogar atos que dão andamento à privatização de uma série de estatais, entre elas a petrolífera. Haddad também afirmou nesta segunda-feira que Lula quer esperar a posse da nova diretoria da Petrobras para tomar uma decisão sobre combustíveis, uma indicação de que o novo governo poderia vincular ações da empresa com políticas de preços. No último dia 30, Lula também confirmou rumores no mercado e anunciou a indicação do senador Jean Paul Prates (PT-RN) para comandar a companhia em seu governo.

- BANCO DO BRASIL ON perdeu 4,23%, a 33,26 reais, pior desempenho entre os grandes bancos de varejo, tendo no radar nomeação de Tarciana Medeiros para presidir a instituição financeira de controle estatal na última sexta-feira, bem como declarações de Lula no domingo ressaltando o papel das instituições do Estado, bancos públicos e empresas estatais no desenvolvimento do país.

- ITAÚ UNIBANCO PN cedeu 1,98%, a 24,49 reais, BRADESCO PN recuou 2,64%, a 14,75 reais, e SANTANDER BRASIL UNIT encerrou com declínio de 1,53%, a 27,76 reais. O pior desempenho entre os bancos do Ibovespa era BTG PACTUAL UNIT, com queda de 5,68%, 22,58 reais.

- MÉLIUZ ON fechou em baixa de 3,39%, a 1,22 real, após saltar 7,6% no começo do pregão, na esteira de acordo com o banco BV, que prevê a compra de uma fatia da empresa de cashback e fidelização de clientes pelo banco do Grupo Votorantim a 1,50 real por ação. As companhias também assinaram memorando de entendimentos para negociar a venda do controle do Bankly.

- SÃO MARTINHO ON caiu 11,39%, a 23,5 reais, tendo como pano de fundo medida provisória assinada por Lula que prorroga por 60 dias a desoneração do PIS/Cofins sobre os combustíveis aplicada pelo governo passado para controle de preços. A prorrogação significa que a gasolina continuará mais competitiva do que o etanol.

- NATURA&CO ON perdeu 8,35%, a 10,64 reais, em mais uma sessão com papéis de consumo entre as maiores queda, pressionado pelo aumento das taxas futuras de juros na esteira de preocupações com o rumo fiscal do país. O índice do setor de consumo recuou 4,26%.

- VALE ON subiu 0,59%, a 89,4 reais puxada pela alta dos preços do minério de ferro na China. Outros papéis atrelados a commodities ou com exposição ao mercado externo também subiram, tendo de pano de fundo a alta do dólar ante o real. CSN ON valorizou-se 1,17%, a 14,72 reais, e SUZANO ON avançou 1,53%, a 48,98 reais.

- TAURUS PN recuou 7,04%, a 12,41 reais, após o presidente Lula assinar ainda no domingo, quando tomou posse, medidas para reorganizar a política de controle de armas, flexibilizada pela gestão de seu antecessor Jair Bolsonaro.