Bolsonaro diz à PF que braço-direito agiu "à revelia" caso tenha fraudado cartão de vacinação
Por Ricardo Brito
BRASÍLIA (Reuters) -O ex-presidente Jair Bolsonaro afirmou em depoimento à Polícia Federal nesta terça-feira que, caso seu então ajudante de ordens, o tenente-coronel Mauro Cesar Barbosa Cid, tenha arquitetado uma fraude em seu cartão de vacinação, o fez à revelia de seu conhecimento.
Na transcrição de 12 páginas do depoimento vista pela Reuters, o ex-presidente declarou que "se Mauro Cid arquitetou foi à revelia, sem qualquer conhecimento ou orientação do declarante; que não determinou a inserção de dados fraudulentos no sistema".
No depoimento, que durou cerca de três horas e meia, Bolsonaro disse, no entanto, não acreditar que o ex-auxiliar tenha feito tais adulterações sob investigação da PF, elogiando o currículo dele. Também destacou que o ex-braço-direito nunca comentou como obteve os certificados de vacinação ou que soubesse da existência deles.
Mauro Cid foi preso preventivamente há duas semanas em operação da PF ordenada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes para investigar suposta fraude na inserção dos cartões de vacinação de Bolsonaro, da filha dele e de outras pessoas próximas à família.
Na semana passada, o ex-auxiliar do presidente decidiu trocar sua defesa nas investigações a que responde no Supremo por uma nova banca de advogados, que tem entre seus quadros um especialista em delação premiada.
Quando da prisão de Mauro Cid, Bolsonaro foi alvo de um mandado de busca e apreensão em sua casa em Brasília no âmbito da mesma operação da PF.
A suspeita é que o ex-presidente, a filha e outras pessoas próximas tiveram dados falsos de vacinação contra a Covid-19 inseridos no sistema nacional. A adulteração teria ocorrido para permitir a entrada nos Estados Unidos, país que até recentemente exigia comprovação de vacinação contra a Covid-19 para o ingresso em seu território. Bolsonaro autoexilou-se nos EUA dias antes do fim de seu mandato para não ter de passar a faixa presidencial ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
No relatório entregue ao Supremo que serviu de base para a operação da PF, os investigadores mostram que até o dia 22 dezembro a conta de Bolsonaro no ConecteSUS, sistema do Ministério da Saúde onde são registradas as vacinas, era administrada por Mauro Cid.
De acordo com a PF, Cid acessou o ConecteSUS do então presidente no dia 22 de dezembro, um dia depois dos dados de vacinação falsos serem inseridos no sistema, e imprimiu um certificado de vacinação de um computador cujo endereço IP pertence a uma máquina localizada na Presidência da República.
Mauro Cid deve depor em breve à PF.
NEGATIVA
O ex-presidente negou em vários momentos do depoimento que tivesse conhecimento ou que tivesse ordenado a inserção de informações falsas em seu cartão de vacinação.
Bolsonaro declarou à PF que "não determinou a inserção de dados falsos da vacinação contra a Covid no ConecteSUS" e "não sabia que dados falsos com seu nome foram inseridos no sistema".
O ex-presidente ressaltou ainda que não tinha motivos para fazer isso.
No caso de sua filha, Bolsonaro informou que ela entrou nos EUA declarando-se como não vacinada porque tinha laudo que lhe permitia não tomar vacina.
O ex-presidente, que afirma não ter se vacinado contra a Covid-19, sempre negou irregularidades.
(Edição de Maria Carolina Marcello e Pedro Fonseca)
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