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Brasil tem preocupações com aumento de exigências e sanções em acordo com UE, diz Lula

12/06/2023 14h33

Por Lisandra Paraguassu

(Reuters) - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva registrou o desagrado do Brasil com instrumentos adicionais que a UE tenta incluir no acordo com o Mercosul e podem trazer sanções ao Brasil, depois de reunião com a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, em Brasília.

"Expus à presidente Von Der Leyen as preocupações do Brasil com o instrumento adicional ao acordo apresentado pela União Europeia em março deste ano, que amplia as obrigações do Brasil e as torna objeto de sanções em caso de descumprimento", disse o presidente em declaração à imprensa.

"A premissa que deve existir entre parceiros estratégicos é a da confiança mútua e não de desconfiança e sanções. Em paralelo, a União Europeia aprovou leis próprias com efeitos extraterritoriais e que modificam o equilíbrio do acordo. Essas iniciativas representam restrições potenciais às exportações agrícolas e industriais do Brasil", complementou.

O cerne do desagrado brasileiro é uma "side letter", um instrumento apresentado pelos europeus que endurecem regras ambientais a serem cumpridas pelo Brasil e que, se não forem, podem levar a sanções europeias.

De acordo com fontes do Itamaraty, o desagrado é com o conteúdo e com a forma. A side letter é um instrumento diplomático usado para pedir esclarecimentos em uma negociação de acordo, mas foi apresentado pelos europeus para fazer exigências.

Sobre o conteúdo, o governo brasileiro reclama que os europeus querem tornar obrigatórios compromissos climáticos voluntários assumidos pelo Brasil no Acordo de Paris, como redução de emissões.

A interpretação do Brasil é que as exigências foram desenhadas no governo de Jair Bolsonaro e os europeus devem rever o tom ao saber que o atual governo tem outro viés e um comprometimento real com a redução do desmatamento.

Uma reunião dos negociadores dos dois lados este mês, em Buenos Aires, terá o tema como ponto mais difícil, apesar de Von der Leyen ter dito, na mesma declaração à imprensa, que a UE quer ouvir o Brasil.

"De fato enviamos uma carta, um instrumento adicional, e queremos muito ouvir sua resposta, ouvir você, porque nossa abertura é para ouvi-los. Queremos saber como dar um passo em direção a um acordo. Somos parceiros estratégicos e temos que trabalhar para enfrentar desafios globais", disse a presidente da Comissão Europeia.

Von der Leyen elogiou a liderança de Lula na política climática e seu plano para acabar com o desmatamento na Amazônia até 2030, e ela ofereceu 2 bilhões de euros em financiamento europeu para desenvolver a produção de hidrogênio verde no Brasil.

Ela anunciou que a UE está quase dobrando para 10 bilhões de euros os fundos disponíveis para a América Latina e o Caribe no plano Global Gateway de 300 bilhões de euros para financiar o desenvolvimento sustentável.

Von der Leyen se reuniu com Lula no início de uma viagem a quatro países da América Latina para fortalecer os laços políticos e comerciais. Suas conversas com os presidentes de Brasil, Argentina, Chile e México prepararão o terreno para o encontro da UE com 30 líderes da América Latina e do Caribe em uma cúpula em Bruxelas de 17 a 18 de julho.

COMPRAS GOVERNAMENTAIS

Outro tema que vem emperrando uma solução próxima são as compras governamentais que, há duas semanas, o Brasil anunciou que estava retirando da mesa, o que foi reafirmado agora por Lula.

"A Europa e os EUA voltaram a reconhecer, após ciclos de liberalismo exagerado, a importância da ação do Estado em políticas industriais. Programas bilionários de subsídios foram adotados nos países desenvolvidos em favor da reindustrialização", disse Lula.

"O Brasil, que sofreu um grave processo de desindustrialização, tem ambições similares. Por isso, o Brasil manterá o poder de conduzir as políticas de fomento industrial por meio do instrumento das compras públicas", continuou.

Sempre um ponto de contencioso nas negociações, que levam mais de 20 anos, as compras governamentais foi uma questão em que o governo Bolsonaro cedeu para tentar acelerar o fechamento do acordo.

"Temos a ambição, ambos, de fechar esse acordo o mais rápido possível, o mais tardar no final deste ano. Eu acredito que há enormes vantagens para os dois lados", disse Von der Leyen.

(Reportagem de Lisandra Paraguassu; reportagem adicional de Anthony Boadle)