Taxas futuras longas de juros sobem após divulgação de dados fiscais e detalhes do Orçamento de 2024

Por Fabricio de Castro

SÃO PAULO (Reuters) - As taxas dos contratos futuros juros de longo prazo fecharam em alta nesta quarta-feira, após oscilarem em baixa durante a maior parte da sessão, com investidores reagindo negativamente à divulgação de detalhes do Orçamento para 2024 e ao déficit primário pior que o esperado em julho.

Entre os contratos com prazos curtos, as taxas ainda encerraram a jornada em baixa, em sintonia com o exterior.

Nos últimos dias as questões ligadas ao Orçamento para 2024, a ser apresentado na quinta-feira ao Congresso Nacional, vinham permeando os negócios. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou na terça-feira que Orçamento para o próximo ano será equilibrado.

Nesta quarta-feira, foi a vez de a ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet, reiterar que o governo não considera modificar a meta de déficit fiscal zero no próximo ano e que vai enviar o projeto ao Congresso prevendo equilíbrio nas contas.

A intenção do governo de perseguir a meta zero, conforme o analista de mercado da Ebury, Eduardo Moutinho, favoreceu a queda das taxas futuras no fim da tarde de terça-feira, sendo que o impacto se estendeu para a manhã desta quarta-feira.

Moutinho pontuou, no entanto, que a maior parte da pressão de queda vinha do exterior, onde os rendimentos dos Treasuries também cediam, após a divulgação de números fracos nos EUA.

Pela manhã, o relatório de Emprego Nacional da ADP indicou que foram abertas 177.000 vagas de emprego no setor privado norte-americano no mês passado. Economistas consultados pela Reuters previam abertura de 195.000 postos.

Já o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) dos EUA no segundo trimestre foi revisado de 2,4% para 2,1%, em taxa anualizada.

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Os números elevaram apostas de que o Federal Reserve, por conta da desaceleração econômica, não subirá os juros novamente em 2023.

“A rodada de dados mais fracos nos EUA piorou um pouco a perspectiva de aumento da taxa de juros”, comentou Moutinho. “E grande parte do movimento (de queda dos juros futuros no Brasil) vem do exterior mesmo.”

Perto do fechamento, no entanto, as taxas futuras de longo prazo migraram para o positivo. O movimento coincidiu com a divulgação de detalhes do Orçamento para 2024 por Tabet, em audiência na Comissão Mista de Orçamento do Congresso.

A ministra informou que a proposta a ser encaminhada prevê que a despesa primária para 2024 crescerá 129 bilhões de reais em relação a este ano. A maior parte dessa alta será consumida por gastos obrigatórios, e apenas 9 bilhões de reais dizem respeito a despesas discricionárias.

Além da influência de Tebet, a virada das taxas longas para o positivo ocorreu após o Tesouro informar que o governo central registrou déficit primário de 35,933 bilhões de reais em julho, ante um saldo positivo de 18,949 bilhões de reais no mesmo mês do ano passado. O resultado foi pior que o déficit de 32 bilhões de reais esperado por analistas consultados pela Reuters e representou o segundo maior rombo já registrado em julho.

No fim da tarde, a ponta longa da curva a termo seguia com viés de baixa. A taxa do DI (Depósito Interfinanceiro) para janeiro de 2024 estava em 12,385%, ante 12,393% do ajuste anterior, enquanto a taxa do DI para janeiro de 2025 estava em 10,455%, ante 10,469% do ajuste anterior.

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Na ponta longa, porém, o viés era positivo. A taxa para janeiro de 2026 estava em 9,99%, ante 9,988%. A taxa para janeiro de 2027 estava em 10,145%, ante 10,118%, enquanto a taxa para janeiro de 2028 estava em 10,43%, ante 10,389%.

Perto do fechamento a curva a termo precificava 12% de chances de o corte da taxa básica Selic em setembro ser de 0,75 ponto percentual. Já as chances de corte de 0,50 ponto percentual eram precificadas em 88%. A Selic está atualmente em 13,25% ao ano.

No exterior, a curva norte-americana seguia fechando, ainda que as quedas tenham diminuído durante a tarde.

Às 16:52 (de Brasília), o rendimento do Treasury de dez anos --referência global para decisões de investimento-- caía 0,40 ponto-base, a 4,1178%.

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