Taxas futuras de juros sobem e passam a precificar corte de apenas 0,25 pp da Selic em maio

Por Fabricio de Castro

SÃO PAULO (Reuters) - Após mais um dia de forte alta, na esteira do avanço dos rendimentos dos títulos norte-americanos, a curva de juros brasileira passou a precificar nesta terça-feira mais de 50% de chances de o Banco Central cortar a taxa básica Selic em apenas 25 pontos-base em maio, e não em 50 pontos-base como vinha sendo sinalizado pela autarquia.

No fim da tarde a taxa do DI (Depósito Interfinanceiro) para janeiro de 2025 estava em 10,285%, ante 10,144% do ajuste anterior, enquanto a taxa do DI para janeiro de 2026 estava em 10,65%, ante 10,406% do ajuste anterior.

Já a taxa para janeiro de 2027 estava em 11,06%, ante 10,764%, enquanto a taxa para janeiro de 2028 estava em 11,39%, ante 11,092%. O contrato para janeiro de 2031 marcava 11,84%, ante 11,584%.

Foi a quinta sessão consecutiva de alta das taxas dos DIs, com investidores ainda se reposicionando em meio à piora do cenário global e do risco fiscal brasileiro. Alguns vencimentos registraram elevação de taxas de cerca de 30 pontos-base.

No exterior, como nas sessões anteriores, o dia foi marcado pela alta consistente dos yields dos Treasuries, com a leitura de que a economia acelerada dos EUA fará o Federal Reserve adiar o início do processo de corte de juros.

Na tarde desta terça-feira os dados implícitos dos Fed Funds precificavam 55,6% de chances de o Fed não cortar sua taxa básica em julho, conforme a ferramenta CME FedWatch.

Para a reunião de setembro, a probabilidade de corte é de 68,9%e -- o que indica uma migração, de julho para setembro, das apostas no afrouxamento monetário.

Em paralelo, as taxas dos DIs continuaram subindo no Brasil e passaram a precificar corte menor da Selic em maio, de 25 pontos-base, e manutenção da taxa básica em junho. Antes a precificação era de corte de 50 pontos-base em maio, com possibilidade de corte de 25 pontos-base em junho. Atualmente, a Selic está em 10,75% ao ano.

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“Talvez seja mais razoável o BC dar o corte de 50 pontos-base em maio e deixar para reavaliar na sequência. Isso talvez seja menos ruim em termos de comunicação, já que o BC vinha indicando corte de 50, mas não é impossível cortar 25 pontos-base em maio não”, ponderou o diretor da consultoria Wagner Investimentos, José Faria Júnior, ao analisar o movimento recente de reprecificação nas curvas no Brasil e no exterior.

“Do jeito que a coisa está indo, o corte de 50 pontos-base em maio está sob risco, e ele também poderá ser o último”, acrescentou Faria Júnior.

Além da pressão externa, profissionais ouvidos pela Reuters têm ponderado que o aumento do risco fiscal brasileiro, após o governo reduzir a meta de resultado primário para 2025, tem contribuído para a elevação de prêmios na curva.

Na manhã desta terça-feira a ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet, procurou minimizar a mudança da meta fiscal de superávit de 0,5% do PIB para resultado zero em 2025.

“Em relação à crítica, que é específica em relação a mudança da meta fiscal, é importante lembrar que o arcabouço é muito maior do que isso", disse Tebet em entrevista à GloboNews.

Ainda assim, a reação dos ativos à mudança na meta fiscal tem sido negativa.

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“Por hora, esta tensão fiscal está batendo muito forte na curva de juros brasileira, já colocando a Selic terminal mais para 10% e dificultando bastante nosso cenário de ativos financeiros”, disse durante a manhã o economista-chefe do Banco Master, Paulo Gala, em comentário enviado a clientes.

Perto do fechamento, a curva a termo brasileira precificava 58% de chances de o corte da Selic em maio ser de 25 pontos-base, e não de 50 pontos-base como vem sendo sinalizado pelo BC. A curva precifica ainda 42% de chances de corte de 50 pontos-base para maio -- até segunda-feira, a precificação neste sentido era sempre superior a 50%.

Para o encontro de junho, a curva precificava perto do fechamento 3 pontos-base de corte -- o que na prática indica apostas majoritárias de que o BC não fará nenhum corte na reunião.

Nos EUA, os yields seguiam em alta firme no fim da tarde, após o chair do Fed, Jerome Powell, afirmar que a política monetária restritiva precisa de mais tempo para funcionar.

Às 16h38, o rendimento do Treasury de dez anos -- referência global para decisões de investimento -- subia 5 pontos-base, a 4,674%.

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