Aumento de incerteza não tem relação mecânica com política monetária, diz Campos Neto

Por Bernardo Caram

(Reuters) - A ampliação de incertezas não pressupõe relação mecânica com a política monetária, disse nesta sexta-feira o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, em meio à crescente expectativa do mercado de que o ritmo de cortes de juros no Brasil será reduzido após o chefe da autarquia ter enfatizado o ambiente incerto em declarações recentes.

Em evento promovido pela Young Presidents’ Organization, Campos Neto também disse ser importante o BC reduzir os juros com credibilidade e comunicar que conseguirá levar a inflação à meta, ressaltando que cortes que não gerem confiança dos agentes econômicos podem atrapalhar o processo de desinflação.

“A incerteza aumentar não significa dizer, e eu já fiz uma gradação sobre isso que foi bastante reportada na mídia, não significa dizer que tem relação mecânica. Significa que tem uma preocupação que a gente achava que estava aumentando, está acontecendo, e está acontecendo mais rápido do que a gente achava”, disse.

Na última semana, Campos Neto destacou o aumento de incertezas globais -- mas também com componente fiscal doméstico após mudança das metas para as contas públicas -- e abriu as portas para que o Comitê de Política Monetária (Copom) reduza o ritmo de cortes na Selic. Ele também disse que o BC não tem como dar indicação sobre sua atuação futura diante dessa incerteza.

Após as declarações, a curva de juros futuros passou a precificar elevada possibilidade de o BC cortar os juros básicos em 0,25 ponto percentual já na reunião de maio, o que representaria um abandono do “forward guidance” do Copom, que indica um corte de 0,50 ponto para a reunião. A Selic está atualmente em 10,75% ao ano.

No evento desta sexta, Campos Neto disse que "toda a atenção" está hoje voltada aos Estados Unidos, com percepção de que os juros por lá permanecerão mais altos por mais tempo, o que pode enxugar a liquidez global.

Segundo ele, o BC faz análises e comparações com dados históricos para tentar entender os efeitos desse cenário, e avaliar, por exemplo, as chances de o real ficar mais desvalorizado ou de o fluxo de capitais se reduzir no mundo.

"Tem uma incerteza porque a gente não está enxergando de onde virá a desinflação (nos EUA)", disse. "Tem essa ideia de que o grande farol é o que acontece na taxa norte-americana", disse.

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Campos Neto afirmou que o mercado passou a ver cortes de juros mais distantes nos Estados Unidos, inclusive com uma parcela dos agentes econômicos já vendo alta nas taxas, algo que era “impensável” há pouco tempo.

FISCAL

Ao destacar que tem falado mais sobre o ambiente externo porque o tema "é bem mais relevante para nós agora", ele acrescentou que os juros mais altos nos EUA geram preocupações sobre a gestão das dívidas de países emergentes.

Nesse cenário, para ele, a barra ficará mais alta para os países, que precisarão fazer melhor o "dever de casa" fiscal.

Na apresentação, Campos Neto lembrou o afrouxamento das metas fiscais no Brasil, ressaltando que o BC vinha dizendo ser importante perseverar na busca pelo alvo para as contas públicas.

Ele ponderou que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, tem feito "esforço enorme" na questão fiscal e disse ser difícil cortar gastos no Brasil.

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(Reportagem adicional de Camila Moreira)

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