Haddad teme que tragédia no RS sirva de argumento para apertar juros
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse nesta quarta-feira que tem medo de que a tragédia climática no Rio Grande do Sul seja usada como argumento a favor do aperto monetário, afirmando que o patamar atual da taxa Selic, de 10,5%, ainda é muito restritivo.
"Eu fico com muito medo de usarem a tragédia no Rio Grande do Sul, que tem que ser enfrentada, como um argumento que deveria ser usado às avessas. Sempre quando você tem um choque de oferta, você muitas vezes é obrigado a relaxar a política monetária e não piorar a situação", disse Haddad em audiência na Comissão de Finanças e Tributação da Câmara dos Deputados. "Mas isso é um debate técnico que o Tesouro e o Banco Central têm que fazer", acrescentou.
Seus comentários vieram depois que o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC votou por desacelerar o ritmo de redução da taxa Selic a 0,25 ponto percentual em seu encontro de maio, abandonando orientação anterior de que manteria o passo de 0,50 ponto adotado seis vezes desde agosto do ano passado.
A decisão foi dividida, com todos os quatro diretores do BC indicados pelo atual governo votando a fator de um afrouxamento mais intenso, dissidência que levantou temores no mercado quanto à possibilidade de que o Copom passe a ter perfil menos ortodoxo após o final do mandato de seu presidente, Roberto Campos Neto.
Haddad disse que, com a Selic em 10,50%, o país ainda está num campo "muito restritivo" de política monetária, o que segundo o ministro contrasta com os dados de inflação.
"Há um coro velado de que a inflação está alta, mas a inflação (atual) é uma das mais baixas da nossa história. Desde o Plano Real para cá, pegue os anos em que a inflação foi menor do que 4%. São raros os anos", disse o ministro.
"Então eu não estou entendendo esse ruído todo que está acontecendo, esse ruído não está fazendo bem para a economia brasileira e não tem amparo nos dados", afirmou Haddad, dizendo, sem entrar em detalhes que há "interesse" por trás de críticas à política econômica do governo.
"São patrocinados, não são reais, tem alguém, tem um interesse, por trás disso."
Os dados mais recentes do IPCA, referentes a abril, mostraram inflação mensal de 0,38% em abril, depois de uma alta de 0,16% em março. Nos 12 meses até abril deste ano, o IPCA seguiu abaixo da marca de 4%, com alta de 3,69%, de 3,93% em março.
O IPCA encerrou 2023, primeiro ano do terceiro governo de Luiz Inácio Lula da Silva, com alta acumulada de 4,62%, bem abaixo dos 5,79% de 2022 e 10,06% em 2021. Mas a taxa ainda superou a inflação de anos como 2020 (+4,52%), 2019 (+4,31%), 2018 (+3,75%) e 2017 (+2,95%), períodos em que a meta de inflação era maior do que os 3% em vigor atualmente.
Haddad defendeu nesta quarta-feira que o Brasil está gerando emprego sem gerar aumento da inflação e que o governo tem feito sua parte na área fiscal para controlar a inflação.
Deixe seu comentário